Com casa cheia, Lagum estreia com fervor a ‘Tour Depois do Fim’ em São Paulo

Cerca de oito mil pessoas acompanharam primeiro show da banda Lagum na capital em divulgação do novo disco
Lagum por Breno Galtier (2023)

Os meninos da Lagum, banda mineira formada em 2014, chegaram em São Paulo nesta sexta-feira, (30), para divulgar seu novo álbum, Depois do Fim, o quarto da carreira. Donos de sucessos como ‘Oi’, ‘Telefone’, ‘Detesto Despedidas’ e ‘Ninguém Me Ensinou’, o quarteto desembarcou na noite fria paulistana com uma única missão: se divertir. Esta foi a primeira vez que eles lotaram uma casa tão grande em São Paulo com um show solo.

Influenciados por nomes como Charlie Brown Jr. e até mesmo os australianos do Sticky Fingers, é difícil definir o tipo de som que fazem Pedro, Zani, Chico e Jorge. É reggae, é rock, é pop, é MPB… na real, talvez nem eles gostem de ser colocados numa caixinha, dentro dessas quadradas limitações que a imprensa geralmente cria. Essa variedade e liberdade no som do grupo é a chave do que soa como destaque ao vivo: a banda agrada por falar com muita gente.

Se Zani tem seus momentos mais rockstars com solos e excelentes backing vocals – ainda que no início da performance sua guitarra estivesse muito mais baixa que os outros instrumentos -, Chico engrandece o todo durante quase 2h de apresentação como se tivesse aulas com grandes nomes do que antes era conhecido como “black music”: muito groove e melodias guiadas pelo gravezão de seu baixo. Coisa de gente grande.

Jorge, o mais tímido, é parte da cozinha ao lado de Chico: nada deixa de passar por ele. São eles que ditam o ritmo. São a base, a segurança que abre espaço para outros integrantes se agigantarem. O melhor exemplo: Pedro Calais, o vocalista, que entre o despertar de gritinhos dos fãs e a postura de galã descolado, encontra espaço para agir como se fosse um amigo próximo de cada uma das oito mil pessoas presentes naquele Espaço Unimed lotado.

Sold out, o grupo subiu ao palco por volta das 22h50, 20 minutos depois do previsto. Com um sofá bem cara-de-casa-de-vó no meio do palco, eles iniciaram o show com a ótima ‘Habite-se’, uma das melhores faixas do novo trabalho.

Depois do Fim, inclusive, pode ser considerado o disco mais maduro da carreira dos mineiros. Cheio de referências MPB – que já vinham desde o trabalho antecessor, MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui), como a excelente ‘Festa Jovem’, quase uma homenagem à Ed Motta – o grupo passeia pelas influências como as águas que correm num rio, quase num processo natural. O play é fácil para qualquer tipo de público, ainda que os mais jovens sejam majoritariamente o alvo do quarteto.

Lagum por Breno Galtier (2023)

Entre consequências e questionamentos do período pandêmico, o álbum traz reflexões que vão além das já conhecidas tracks românticas. Depois do Fim é também uma jornada de autoconhecimento dos integrantes, que, infelizmente, ainda parecem lidar com o luto da partida precoce de seu ex baterista, conhecido como Tio Wilson.

“Antes do fim tem muita coisa e depois do fim a gente tá junto pra caralho”, grita Pedro ao falar sobre o conceito do novo trabalho. Faixas como ‘Outro Alguém’, ‘De Amor Eu Não Morri’ (a melhor, que em estúdio sampleia o refrão do clássico ‘Samurai’, de Djavan, e que ao vivo faz o público ir ao delírio funcionando mais como uma espécie de citação) e ‘O Tempo Voou’ soam como aquele tipo de história contada em uma tarde na praia com quem se ama. Essa vontade de estabelecer uma relação com a audiência também é perceptível no cara a cara.

O sofá aconchegante permanece o tempo todo no palco, funcionando como parte do espetáculo. Ali, Pedro conta histórias, faz um set acústico, divide o protagonismo de ‘Não Vou Mentir’ com o trompetista… é agradável de assistir.

O homem de frente, inclusive, encanta. Destaque maior, tem uma das performances vocais mais incríveis da atualidade: é difícil saber se ele realmente está cantando ou se é playback, de tão parecida que é a voz ao vivo com a de estúdio. Ponto altíssimo do show. O cantor é meio skatista, um pouco surfista, daqueles que ganha pela simplicidade (deve ser fã do Chorão, certeza). A sensação é que depois da apresentação ele vai te convidar pra comer um dogão na praça. É essa aproximação da audiência que agiganta a Lagum como banda em cima dos palcos.

E ainda que o espectador os encontre ao vivo quase sem querer, é involuntário não cantarolar sucessos como “Telefone” ou “Não Valho Nada”, presentes nas rádios brasileiras quase diariamente. É próximo do intuitivo se sentir parte do círculo social da Lagum, muito pelo carisma dos integrantes e consequentemente de suas canções.

No primeiro contato, a Tour Depois do Fim funciona como uma roda de samba com os nossos; por isso é difícil encontrar quem esteja os vendo sozinho, acompanhado apenas da solitude (liberdade ou solidão?????).

Hoje, banda faz parte da nova geração das atrações nacionais radiofônicas capazes de lotar casas de show de norte a sul do país; isso porque eles tem muita facilidade em agradar e papear com as multidões. A juventude se identifica.

Distante da pressão de empresário pra fazer “o trampo virar”, a Lagum permanece trilhando seus próprios caminhos na euforia de quem vive e acredita no que produz. Os mineiros sabem muito bem onde querem chegar… isso se, claro, eles já não estiverem lá.

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