Durante cinco dias de setembro o Autódromo de Interlagos se transformou na Cidade da Música, sob a promessa de Medina (idealizador e realizador do Rock in Rio e agora também do The Town) de reformar o espaço e torná-lo melhor para receber shows e festivais. Já conhecido por ser casa do Lollapalooza, o espaço que tem seus pontos positivos e negativos foi mais uma vez palco de polêmicas – dessa vez, ao tentar comportar o Rock in Rio de São Paulo.
No primeiro fim de semana o cenário de guerra causado pela chuva torrencial já no primeiro dia preocupou quem tinha ingressos para os próximos dias. Os relatos de lama, enxurrada e sistemas fora do ar – que também sempre estressa os pagantes do Lollapalooza em dias de chuva – tomaram as redes sociais. Enquanto os shows começavam pontualmente, muitos pagantes reclamaram perder shows em filas de insumos como comida e água. Essa última, inclusive, foi dada como faltante no dia seguinte à tempestade, logo quando os termômetros da Cidade da Música marcaram um calor totalmente oposto ao clima da noite anterior. E sob um sol escaldante, com poucos bebedouros e sem conseguir se hidratar, as reclamações foram ainda maiores.
Engana-se quem pensa que as falhas foram apenas dentro do Autódromo. Enquanto ativações publicitárias e estantes de marcas fechavam um “cerco” no caminho de acesso dos principais palcos, quase impossibilitando a passagem das 100 mil pessoas esperadas no evento, do lado de fora os problemas também foram sentidos.
Por um lado, a promessa do festival era de que o transporte público era a melhor alternativa para chegar no evento, com trens funcionando 24h e na modalidade “comum” ou “expresso” (em que se pagava mais caro para ir e voltar mais rápido sem as paradas previstas em todas as estações). Ainda foi ofertado ao público uma série de ônibus que também pretendiam facilitar e acelerar a locomoção do público. Do outro lado, na realidade, mais contratempos. Quem escolheu tentar ir e voltar de ônibus encontrou filas enormes e demoradas para transitar, além de relatos veículos que pegaram fogo. Já para quem foi de trem, a modalidade “comum” enfrentou além da multidão, uma lentidão além do normal: dando a impressão que o veículo estava bem mais lento em detrimento da oferta do trem “expresso”.
A estrutura do festival contou com dois palcos principais, um eletrônico, outro menor no espaço Factory e uma cenografia caprichada que homenageava a cidade de São Paulo. Mesmo assim, a disposição dos palcos também não agradou: o palco principal, além de muito alto, parecia ficar na direção contrária em uma subida, ou seja, qualquer pessoa na frente ficava ainda mais alta e tampava a visão do palco – bem como as torres de iluminação e som, que pareciam ser cinco vezes maiores que as do Rock In Rio e tampavam totalmente o palco ou os telões laterais de quem tentava ver mais do fundo.
Se o line-up também deixou a desejar com pouca coesão entre as atrações, nenhuma cantora como headliner e atrações nacionais com apresentações de grande investimento em palcos secundários, as ativações publicitárias pareceram ser o grande forte do festival. Sabemos a importância da presença de marcas para ambas as partes e até mesmo a paixão do público por brindes e souvenirs, mas o esforço em transformar a “Cidade da Música” em um grande shopping a céu aberto foi pouco disfarçado. A montanha-russa, roda gigante e atrações “divertidas” não são novidade aos festivais de Medina, mas também irritaram parte do público que esperava se sentir mais em um festival de música do que nos corredores de um grande mercado.
Com todos esses pontos, é seguro dizer que a primeira edição do festival foi bem morna na cidade de São Paulo. Com tantas promessas de reforma, logística e sendo anunciado como “o maior festival” de São Paulo, pouco foi realmente vivenciado por quem estava lá. Enquanto o público pagante se queixou que apenas quem estava nos camarotes e nos rooftops das ativações teve uma boa experiência geral, a maior parte das pessoas – inclusive, 65% delas vindas de fora do estado de São Paulo – se aventurou pelos espaços mal executados do festival. Pouco da reforma foi sentido como algo positivo para quem esteve no Autódromo, e mesmo com a pontualidade dos shows, muitas queixas quanto ao line-up também foram feitas.
Um ponto positivo ficou na “ouvidoria” do festival, que pareceu estar atenta às reclamações nas redes e pareceu melhorar consideravelmente a quantidade de bebedouros e a velocidade das filas – como no McDonalds, que funcionava super rápido no último fim de semana. As atrações, embora questionáveis em sua organização, também fizeram, em sua maioria, ótimas apresentações.
Fica agora a torcida para que os demais pontos de reclamações também sejam trabalhados para uma edição realmente à altura do já consagrado Rock in Rio na edição de 2025, já que nem só de montanhas russas se faz um festival de música, principalmente deixando tanto a desejar em todos os outros quesitos de experiência.