Crítica | 5 anos de “Dirty Computer” de Janelle Monáe

O “Dirty Computer” é uma narrativa sonora incrível que cria um roteiro composto por um mundo não tão distante do nosso

O “Dirty Computer“, sistema de vigilância criado para o terceiro álbum de Janelle Monáe, pune aqueles associados ao “lado errado da atualidade” e é construído além de uma ideia básica, ele ganha um sistema visual autêntico visto num filme especial. Enfim, é importante trazer esse artefato narrativo a tona para exemplificar parte do que ele é num inteiro.

Essa ditadura aparece até mesmo nas músicas, dando vida a todo o conceito da “imagem emocional” e servindo como fio principal para a ficção criada: é tudo colocado com muito afinco para idealizar um mundo não tão longe do nosso, talvez apenas sem as sentinelas que representam parte dessa organização.

Usando desse artifício, a cantora, compositora, atriz e ativista norte-americana cria o “Dirty Computer“, disco que completa 5 anos, mas ainda coloca em prática com a mesma energia o quanto sua criadora tem uma mente inovadora e diferente de tudo que há na indústria hoje.

O mundo do disco consegue criar uma atmosfera fresca, ademais, apesar de todo o perjúrio que as suas veias internas contam. Ou seja, as pressões ficam de lado e o que ganha extensão é celebrar quem você é: não faz sentido ver o quanto o mundo está completamente louco aqui, muito da vida já coloca isso no seu caminho sem que haja escolha.

I Got the Juice“, com Pharrel Williams, tem uma linha de baixo funky refrescante que repele toda a ideia de deixar o meio opressor lhe derrubar. Assim que a faixa acaba, parece justamente que esse sistema está sendo desligado e que as ruas vão ganhar cores de novo.

De modo sonoro, o “Dirty Computer” é inimaginável, mas em contexto humano e atual, é uma revolução real

A técnica é implacável, sobretudo quando posta no sentido mais primal do que música representa. Além disso, um conglomerado de músicas navega por uma produção que é dona de uma diversão responsável e muito adulta, sem que se encontrem faltas que possam ser tidas como ordinárias. “Screwed“, com Zoë Kravitz, e a erótica “Pynk”, com Grimes, são as obras que mais irradiam isso.

A primeira, dando a ênfase na marginalização de mulheres, pessoas negras e comunidades LGBTQ+, é um ato de resistência irresistível com um groove de funk espetacular e uma quebra no final com um rap marcante. Já a outra é um grande pop que batiza o ouvinte em uma virada maravilhosa; proporcionando uma colisão empolgante.

A primeira prévia do álbum carregou o nome de “Make Me Feel“, mas pode ser descrita como uma explosão inigualável energia dentro do projeto. A faixa é simplesmente estonteante em todo o contexto de fusão de ritmos que decide aplicar. É uma canção surpreendente, empolgante e uma homenagem emocionante a nomes lendários da música disco.

Em “Americans“, Monáe expressa sua identidade como mulher negra e queer lutando pela liberdade em meio a juramento de bandeiras que matam. A música encerra o álbum com um tom político e crítico. É um alarme à mudança usando um apelo real por uma construção de narrativa como um louvor.

São tantas pautas importantes implementadas no “Dirty Computer” que fica difícil aplicar tópicos, mas fica extremamente fácil dizer que esse é um álbum especialmente categorizado como um grito de resistência à liberdade que precisa tomar mais conta das ruas, e da elegância que ele exprime como um ser de música e arte.

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