Não é preciso voltar muito no tempo para descobrir que precisamos ser gratos pela música brasileira ter revelado a revolução Duda Beat. Após o lançamento do visceral “Te Amo Lá Fora“, toda a aura sofrência passou a englobar ainda mais vertentes das dores de amar, mas com uma atmosfera técnica impiedosa, sendo uma das melhores no mercado hoje.
Retornando exatos 5 anos, quando ela tinha colocado no mundo o “Sinto Muito“, seu registro de estreia, é possível já compreender toda a competência da pernambucana em entender mundos e amor como um só, mas sempre exaltando o pesar de perder do magnetismo.
Se no segundo projeto Duda é uma bruxa moderna que se esbalda em sua própria força, sem usar poções, aqui, no primeiro, ela é todos os pedaços que a tornaram quem esse ser é. É como se todo o ato fosse tomar um líquido de um cálice e então compreender o conjunto de tudo.
Com a produção assinada por Lux & Tróia, que acompanham Duda avidamente (agradecemos), o disco se aventura em caminhos melodramáticos e obscuros. Faixas como “Ninguém Dança” e “Egoísta” possuem ritmos rápidos como a correntes de águas turvas, porém, toda a quebra de conexão ainda é solúvel, superável.
“Sinto Muito” consegue abrilhantar doloridos desencontros com uma fagulha que acende toda uma arena
“Bolo de Rolo” cumpre com a ideia de não se corroer a desilusão de modo sublime, nesse sentido, a faixa sempre cresce e nunca se despe da imagem de que o amor romântico maltrata ao ponto de falar “Eu não vou buscar a felicidade em mais ninguém”.
Considerando tudo que “Bixinho” trouxe para a artista, não há como celebrar a música como um verdadeiro cântico que idealiza o conceito de sentir exclusivo perante as exclusividades de um romance a três: ela, ele e sua paixão (e não amor).
Indo além do fervor do hit, talvez seja “Pro Mundo Ouvir” a melhor canção de todo o projeto. A vontade de estar tão contente com um amor dando certo ao ponto de exclamar isso a todo canto é simplória. A música é recheada de aparelhos e uma montagem que nunca se cala.
As letras de todas as peças, até mesmo da mais pequena, “Parece Pouco“, recitam com aconchego e desencadeiam a vontade de honrar a sofrência, aceitando-a por termos uma mescla surreal do brega com sonoridades eletrônicas que nunca escapam da mão do tecnicismo ilustre de quem está envolvido no projeto.
O “Sinto Muito” não se deixa abater pela melancolia. Na verdade, ele decide não se levar por essa rispidez ao usar canções que relatam sensações pesantes para a artista, sendo no fim a interferência para que essas inquietações deixem de ter espaço em seu cerne. É um trabalho ilustre para uma Duda Beat que iria mostrar o dobro da robustez mais a frente.