PUBLICIDADE

Crítica | 5 anos de “Witness” da Katy Perry

O divisor de águas em uma das carreiras mais brilhantes que vimos no pop recente completa cinco anos. O que há de bom e ruim em “Witness”?

Maldição do quarto álbum, sabotagem da gravadora, singles mal escolhidos ou um álbum à frente do seu tempo. Nenhum desses tópicos é novo para quem acompanha a indústria da música, especialmente do pop americano. Não são raros os exemplos para cada tópico, e quase sempre temos um novo álbum lançado que se encaixa em uma das categorias.

Todas servem para explicar (ou justificar) o “fracasso” comercial de um álbum, mas em alguns casos, um mesmo trabalho musical costuma reunir todas as desculpas. É o caso do Witness, álbum controverso da Katy Perry que completa agora cinco anos.

O quarto álbum da artista foi lançado em meio a declarações políticas polêmicas, divulgação maciça, singles atrapalhados e uma imagem saturada e criticada, mesmo após um álbum de sucesso arrebatador, o suprassumo Prism, de 2013.

Divulgado como um álbum de “pop com propósito”, Witness chegou ao mundo com 15 faixas em sua versão standard, 17 na deluxe, quatro singles com clipes, uma turnê mundial e até um reality show no estilo “Big Brother” para compor sua divulgação, mas até hoje o álbum é considerado um fracasso e o “pior” da carreira de Katy. Será que é mesmo? E se sim, o que aconteceu?

Lançado durante a efervescência política nos debates entre Trump x Hillary nas eleições de 2017, Katy tentou levantar bandeiras políticas e um despertar cultural. Com o primeiro single do álbum, “Chained To The Rhythm”, a letra e clipe da canção criticam a população alienada quanto a acontecimentos relevantes sobre as próprias vidas. Além do single, Katy deu uma série de declarações e apoiou abertamente Hillary, que esteve também envolvida em polêmicas. De toda forma, vincular o fracasso do álbum ao posicionamento político de Katy não faz muito sentido, considerando que dezenas de outros artistas também se posicionaram ao lado de Hillary e não tiveram suas carreiras tão afetadas.

Outro tópico muito apontado (e lembrado) quando falamos do Witness é o visual adotado por Katy, que além de ter ficado loira, exibiu um corte de cabelo curto como nunca antes. A cantora, que era também conhecida por seus visuais icônicos, cortes no estilo pinup e perucas coloridas causou estranhamento — e talvez afastamento de parte do público. Em entrevistas de Katy, na época, ela falou abertamente sobre depressão e revisão de seus valores, um dos motivos que a levou a buscar um visual diferente e distante do anterior. Grande parte do público não comprou, mas um corte de cabelo realmente pode ser capaz de afundar um álbum, ou tem mais elementos nessa história?

O que um álbum “pop com propósito” quer dizer com singles como “Bon Appetit” e “Swish Swish”? Acho que concordamos que… não muito, certo? Embora o primeiro single trouxesse a mensagem política e até uma mudança na sonoridade (que representava bem o conteúdo presente no álbum), Katy não se manteve firme à essa nova persona que habitava no álbum, e a falta de coesão entre a imagem e mensagem da cantora com seus singles lançados podem ter sido um problema.

Se a nova era trazia um amadurecimento e talvez uma mudança na imagem da artista, era essencial que ela mantivesse a coerência nos singles — uma vez que eles eram os cartões de visita e grandes representantes da era. Provavelmente o desejo em alcançar as massas como em trabalhos anteriores fez com que a equipe escolhesse faixas mais comerciais do álbum, mas uma escolha de singles mais coerentes e menos populares poderia ter mantido a credibilidade entre público e cantora — vínculo importantíssimo na carreira de qualquer artista.
Faixas como “Power”, “Roulette”, “Tsunami”, “Witness” e “Déjà Vu” teriam mantido a mensagem sonora e lírica do álbum, e embora talvez não emplacassem hits radiofônicos, provavelmente dariam a Katy uma era mais conceitual que lhe trariam outros frutos.

De forma geral, Witness é um álbum arrojado e ousado, mostrando Katy numa faceta mais vulnerável, menos comercial e com mais liberdade para explorar outros aspectos musicais. Faixas como “Power” e a faixa título “Witness”, por exemplo, mostram que o álbum passeia por uma experimentação interessante, resultando num material sólido o suficiente para encorpar um repertório mais “atemporal”, do qual Katy poderia se beneficiar.

Embora as baladas românticas do álbum não sejam tão convincentes como ouvimos em outros grandes momentos da carreira da cantora, o Witness é divertido, interessante e nos proporciona verdadeiras joias, tesouros escondidos na discografia de Katy que, infelizmente, vão brilhar apenas para os poucos que se aventurarem a ouvirem o álbum — além dos singles e da superficialidade que ele aparenta ter.

76/100

Total
0
Share