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Crítica | 5 anos do “Norman Fucking Rockwell!” da Lana Del Rey

Cinco anos após seu lançamento, o sexto álbum de estúdio de Lana Del Rey é provavelmente seu trabalho mais marcante e inesquecível.

Para muitos artistas, superar o feito do “primeiro álbum” é uma tarefa difícil. Muitos também brincam com a maldição do “quarto álbum”, onde muitas carreiras mudam seu curso, encontram dificuldades e amargam vendas. Nenhuma das duas coisas assustaram Lana Del Rey, que hoje com nove discos lançados, não parece se orientar por lendas, falácias ou feitiços contra si. Pelo contrário, desde seu tão comentado (e hoje aclamado) debut, a artista parece fazer apenas o que quer, sem influência de pressões e modas externas.

Um dos exemplos mais marcantes disso talvez seja seu sexto trabalho, “Norman Fucking Rockwell!”, lançado no fim de 2019. Após uma capa sorridente, parcerias comerciais (como os featurings com The Weeknd e A$AP Rocky) e realizações pessoais (como o featuring com Stevie Nicks e Sean Ono Lennon) presentes no disco anterior, “Lust For Life”, Lana pareceu estar alterando o curso de sua própria narrativa.

Os seis singles lançados antes do disco chegar não pareciam ser capazes de dar o tom do disco: a psicodélica (e excelente) “Venice Bitch” que divaga por 9 minutos veio junto com a pouco expressiva “Mariners Apartment Complex”, em 2018. Em 2019, “Hope is a Dangerous Thing for a Woman Like Me to Have (But I Have It)” causou mais discussão por seu título extenso do que por seu conteúdo, ao passo que “Doin Time” (cover da banda Sublime) e “The Greatest” pareceram abraçar mais o gosto do público, antes de “Norman Fucking Rockwell!”, a faixa título que abre o material chegar ao mundo.

Com o lançamento do álbum, suas 14 faixas e uma hora e sete minutos de duração, a narrativa de Lana foi traçada e, para a surpresa de muitos, a aclamação foi recebida. Com produção de Jack Antonoff e participação de Rick Nowels (produtor de longa data da artista), a coesão e a experimentação do trabalho agradaram, sendo elogiado pela sua influência no rock clássico dos anos 70, a adição de sintetizadores que trouxeram modernidade para faixas e até mesmo a crueza intimista, que mesclada à voz doce e letras potentes de Lana fizeram com que o disco fosse indicado ao Grammy na categoria de “Album do Ano”.

Enquanto revistas apontavam como boas referências à Led Zeppelin, Neil Young, Joni Michell e Eagles, o público se aventurava e espalhava sua paixão pelas canções que flertam entre o rock psicodélico, o folk, o country rock, trip hop e o indie pop. Foi então que Lana Del Rey vivenciou uma das fases mais elogiadas de sua carreira, onde pela primeira vez os críticos pareciam entender sua mensagem, suas aventuras sonoras e seu trabalho por completo. Em uma edição acirrada no Grammy, a cantora saiu de mãos vazias — mesmo tendo seu álbum eleito como o melhor disco feminino dos últimos 25 anos pelos leitores da revista Pitchfork, por exemplo.

Tendo um salto em sua popularidade, vendas e aclamação, NFR! é o trabalho responsável por algumas das músicas mais sólidas da carreira de Lana, desde baladas arrebatadoras como a faixa título e “Love Song”, as fan-favourites “Cinnamon Girl” e “Happiness is a Butterfly” e até virais que surgiram com a faixa “Doin Time”. A psicodelia em “Venice Bitch” nos leva para uma viagem prolongada, ao passo que “The Next Best American Record” mescla tantos elementos importantes para a música de Lana Del Rey: a vibe melancólica, um tom country que se mistura ao folk, ao drama, com elementos do indie pop e até referencia a faixa “Heroin“, de seu disco anterior.

Ao final da jornada por “NFR!” é impossível não se sentir atravessado pela avalanche de sentimentos e ritmos propostos pelo trabalho. As produções de Jack Antonoff fazem a música da cantora caminhar para um lado maduro, em que as composições poderosas e relacionáveis de Lana encontram nas melodias um equilíbrio sonoro que é elegante, coeso e diverso, deixando o trabalho irresistível e surpreendente.

A honestidade e vulnerabilidade de suas poesias flertam com diversos gêneros e estilos, encontrando nessa pluralidade uma base sólida e satisfatória que é justamente a essência da artista, uma mescla de experiências, referências e talentos que a colocam em um nível único, invejável e admirável: Lana Del Rey é potencialmente a estrela mais interessante e influente da nossa geração, e qualquer um que tente negar ou desviar de sua potência eventualmente a encontrará intocada em sua arte.

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