Crítica | “A Hora da Estrela” segue como um dos grandes atos do cinema brasileiro

Filme de Suzana Amaral volta ao cinemas após 40 anos e restauração das películas da época

Vencedor de 10 prêmios no Festival de Brasília de 1985, a “A Hora da Estrela, de Suzana do Amaral é relançado pelo estúdio Vitrine Filmes, após 40 anos. O filme baseado no romance de Clarice Lispector agora ganha uma nova coloração e tecnologia 4k e chegou aos cinemas em 16 de maio.

“A Hora da Estrela” conta a história de Macabéa (Marcélia Cartaxo), uma jovem nordestina, “datilográfa, virgem e que gosta de Coca-cola”. Após perder a tia que lhe criou, ela vai viver em São Paulo, onde tenta se encontrar em um local hostil, sendo uma mulher simples, pouco asseada e completamente desajustada ao espaços em que vive.

Além de Macabéa, o público é reapresentado para seus paralelos: Olímpico de Jesus (José Dumont), o seu namorado, também nordestino, extremamente ambicioso, grosseiro e impiedoso. E Glória (Tamara Taxman), colega de trabalho da protagonista, que busca incessantemente por um marido. 

Vale ressaltar, a participação de Fernanda Montenegro que, mesmo curta, é um marco do longo ao representar a Cartomante, que prevê um futuro ilusório e esperançoso para a protagonista que se permite pela primeira vez sonhar além do que seu mundo com tantas limitações permitia.

Por que assistir “A Hora da Estrela”?

Na maioria das vezes, quando visualiza-se um protagonista, é de se esperar uma pessoa com um diferencial, até mesmo para ser considerado o “patinho feio que se transforma em um lindo cisne”, Macabéa com certeza não é isso. Ela é o arquétipo do invisível – nada a destaca. Sendo assim, o que a torna tão especial e lembrada no cinema e na literatura? – o que há por trás dela.

A Macabéa do longa é a união de três mulheres: Clarice Lispector, por sua escrita tão fascinante e profunda, Suzana de Amaral com sua perspectiva tão delicada sobre a narrativa e a interpretação de Marcélia Cartaxo que se entrega para o personagem de forma tocante.

Todos os elementos de construção da personagem tornam “A Hora da Estrela” um marco, principalmente ao trazer indiretamente o tema da migração de nordestinos às regiões do sudeste após a industrialização, sob a perspectiva de uma mulher com tantas particularidades, como a paixão por Coca-cola, cinema, rádio relógio, passear de metrô, e sua incessante curiosidade pelo amor, existência e felicidade.

Como é realizado a restauração de filmes?

Restaurar filmes é uma forma importante de recuperação dos registos históricos de uma época. Seja na ficção ou no retrato do cotidiano, as películas são parte da jornada de um país e de suas memórias, logo, é uma atividade delicada e de passos meticulosos.

Inicialmente, é realizada a digitalização das películas para facilitar a edição. Após isso, há o tratamento de danos causados pelo tempo e pela má manipulação deles. Lembrando que, para cada película, há uma forma adequada para digitalizar.

Encerrando a digitalização, ocorre a finalização, em que ocorre a correção de cor e som, certificar que a sincronia entre cena em som está correta e concluir a digitalização para diversos formatos, como cinema e streaming.

Por isso, junto a toda história inesquecível que “A Hora da Estrela” traz, com sua protagonista tão importante para a literatura e cinema brasileiro, o filme merece receber destaque por todo o trabalho de resgate da memória artística do país, apresentando recursos tecnológicos tão necessário para o cinema. Além disso, certamente é um filme que vai superar suas expectativas e emocionar do início ao seu trágico e belo fim.

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A “Hora da Estrela” estará em cartaz até 16 de junho em diversos cinemas do país por preços populares (Inteira: R$20,00/ Meia: R$10,00). Para acompanhar a programação do filme, basta acessar o site da produtora Vitrine Filmes.

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