Adaptada do romance de Audrey Niffenegger, ‘A Mulher do Viajante no Tempo’, ganhou mais uma versão para as telas, desta vez como série na HBO Max. Depois do filme ‘Te Amarei para Sempre’ com Rachel McAdams e Eric Bana, agora, é a vez de Rosie Leslie e Theo James darem vida ao casal Henry e Clare.
Na trama, Henry DeTamble (Theo James) sofre de uma condição genética que o faz viajar pelo tempo sem controle. O bibliotecário não escolhe quando ou para que parte da linha do tempo quer ir (passado, presente ou futuro), ele apenas desaparece de um ponto e aparece em outro completamente nu (James não fica um episódio sequer sem “pagar bundinha” na tela).
Toda a introdução a viagem temporal de outras obras escritas ou televisivas, não se aplica à série, nela, uma das regras principais do tema não é considerada – no caso de Henry, não há problema algum em encontrar com sua versão mais velha ou mais nova de si, aliás, encontrar consigo mesmo rende umas das ações/piadas mais curiosas da narrativa.
Em grande parte dos momentos, o principal ponto de convergência das viagens de Henry é sua amada Clare Abshire (Rosie Leslie). Entre eles há uma predestinação como casal, que em muito, é causada por Henry “involuntariamente”, mas que custa muito à Clare, se analisada profundamente. A jovem desde criança é “condicionada” ao encanto por Henry e aqui está um grande desconforto da série.
Seria sim, interessante explorar o encanto de Clare por Henry, se ele fosse abordado de forma mais apropriada às questões sociais. O problema principal aqui, é que Henry viaja involuntariamente para conhecer a amada já adulto (e casado com ela em sua linha temporal regular), mas a viagem é feita para uma época em que ela é apenas uma criança de 6 anos, o que causa um desconforto no espectador por ver uma menina tão pequena interagindo com um homem adulto.
Mesmo que o personagem não fale sobre questões amorosas ou revele diretamente para ela que são casados, a série acaba por criar uma atmosfera que dá a entender o sentimento nascer logo cedo na menina e o fato dele aparecer sempre nu também não ajuda muito a esta dinâmica (mesmo que haja cuidado em não explorar essa nudez em frente da criança.
O tempo rouba o espaço da esposa
Como o próprio nome já diz, ‘A Mulher do Viajante no Tempo’ deveria ser focada principalmente em Clare e nas dificuldades de seu relacionamento. Ser condicionada a amar um único homem desde pequena, já é complicado o suficiente. Acrescente o fator viagem no tempo e a questão de que inicialmente, ela se encanta muito mais pela versão mais madura de Henry do que pela sua versão de 20 anos, e tenha uma trama densa psicologicamente.
Porém, a série infelizmente não aproveita isso como deveria e as viagens no tempo do rapaz, ganham muito mais importância do que a situação de sua esposa. Clare é pouco adulta, age de forma quase birrenta muitas vezes, mas é nítido que ela construiu sua vida e toda a sua narrativa em volta do que idealizou e conheceu sobre o Henry do futuro.
Viver esperando a pessoa amada se tornar uma versão mais madura de si é dolorido para ela e para o seu amado e isso até chega a ser uma discussão do casal, mas com apenas 6 episódios, fica um pouco difícil adensar mais a temática. Outro ponto pouco explorado é como Clare lida com os encontros com as demais versões do marido, Henry volta constantemente para pontos em que a amada está presente, mas muitas vezes eles não se encontram de fato, exceto às vésperas de seu casamento. Essa dinâmica acaba distanciando ainda mais a personagem de um lugar de protagonismo e a colocando realmente como coadjuvante das viagens do rapaz.
Uma viagem com menos regras coletivas e mais permissões egoístas
Um ponto interessante da produção é que nele, a viagem do tempo é apresentada sem tantas amarras e problemáticas para o coletivo, ela se constrói de uma forma muito mais egoísta, já que Henry é o único ser humano que pode realizar o feito.
Não existem pontos sobre ética ou nenhum ímpeto de heroísmo, o protagonista inclusive, passa dicas de investimento para um amigo e guarda os números da loteria para si mesmo. Isso torna a série bem menos complexa e torna o entendimento dos traslados temporais muito mais fácil e simples. Além disso, Henry não tem muitas regras sobre contar para as pessoas sobre sua condição, o que também auxilia na introdução rápida de outros personagens.
A única regra real válida é a de não poder alterar nada do que ocorre, como no caso da morte da mãe do protagonista. Aliás, a cena da morte rende uma das sequências de viagem no tempo mais legais, com diversas (se não todas) versões dele presentes no mesmo lugar, assistindo o ocorrido.
Boa para passar o tempo, mas frágil em sua construção
‘A Mulher do Viajante no Tempo’ é uma série legal para distrair e tem bons momentos, doses de comédia e romance interessantes. Contudo, sua falta de foco, deixa a produção com um ar de “desnecessária”.
Não há uma grande motivação para a narrativa ou mesmo existência da história. No final das contas, toda a situação parece desnecessária, o romance é um motivo muito fraco para manter a história rodando. James e Leslie tem uma química genuína e uma relação fofa, mas a trama no geral parece ir do nada a lugar nenhum.
Mesmo com o olhar de Steven Moffat (Doctor Who), que dá um ritmo mais dinâmico e legal a série, ela ainda não parece se sustentar sozinha e se renovada para uma segunda temporada, vai precisar engrossar mais a sua trama e expandir seu universo para além do objetivo de manter Henry e Clare juntos. Se a trama não parar de girar em torno do casal, talvez caia logo no esquecimento como foi o caso do filme de 2009.
Há sim diversão, momentos interessantes e situações no mínimo curiosas durante os 6 episódios do show. Aliás, há certo potencial no programa, ele só precisa ser mais bem explorado e ter um foco mais estruturado para que a série consiga mostrar ao que veio e assim cativar mais quem a assiste.
Assista ‘A Mulher do Viajante no Tempo’ na HBO Max.