Crítica | beabadoobee, “Beatopia”

O segundo álbum de estúdio da cantora consegue refletir exatamente como um projeto sobre uma jovem vibrante deve soar

Um violão, o som de garrafas rangindo umas nas outras, ruídos de falas e um tom angelical são as primeiras coisas que o ouvinte vai se deparar no novo álbum de beabadoobee. Encarando de longe da clareira, o projeto inteiro gira em torno de um contexto visual envolvendo um mundo fantástico e mágico. Essa primeira representação espelha muito bem o espírito de um jovem.

Nada passa despercebido, e ao mesmo tempo tudo parece ter o dobro do significado. A artista cede um pouco desse seu espaço da imaginação para que o seu conforto em uma realidade regada a um pouco de brilho e uma floresta encantada, seja também nosso. Pode até parecer que nessa breve descrição do que o disco Beatopia incorpora para si, o trabalho nunca deixe de flutuar e seja algo ordinário e raso, mas pelo contrário, ele é um dos mais enraizados no chão deste ano.

As 14 faixas escorregam por uma drenagem de maturidade muito eloquente para provar o quanto a artista é simplória no que faz. E é interessante observar que isso não fica notório somente agora, ela é na verdade uma das vozes mais ricas e persuasivas de se acompanhar. É como ver o germinar de uma flor que cresce além do tempo necessário; tornando-se cada vez mais bonita e cheia de detalhes a se admirar.

E é “see you soon” que coloca todo o dinamismo técnico de beabadoobee em plano com uma sonoridade efervescente, e a vendo agora, é possível datá-la como um clássico nostálgico dos anos 2000 que resgata vocais e ritmos majestosos. Já dá para alertar que alguns anos a frente ela irá tornar-se um resquício muito bonito da nossa época – viajar pelo som da canção é quase como escutar algo antigo da Alanis Morissette.

Assim como a anterior, “broken cd“, que possui em seu célere uma interação básica entre instrumentos e diagramação (que às vezes remete a algo da bossa nova), encanta e faz carinho nos ouvidos.

Com uma transformação deliciosa de se acompanhar, “fairy song“, ponto altíssimo do registro, traça um desejo de sair batendo as asas ou simplesmente sair andando na rua contemplando o sol. A melhor faixa do álbum se transmuta levemente perante seus parâmetros e acende ótimos raios de luz para mostrar a exponencia criativa da cantora. Já em “Don’t get the deal” as raízes do indie-rock crescem firmes, a faixa é vibrante e ainda tem um ótimo acento com uma voz masculina. E “sunny day” deixaria Lorde orgulhosa.

O Beatopia possui uma construção e produção de mundos icônica e mega acalorada. É perfeito para os dias ensolarados e os mais cinzas. A fantasiosa acentuação de tons e cores funciona como um modelo sensacional para uma jovem artista que parece não precisar de muito para nos fisgar e manter em sua mente. Seja pela persona em si, pelos arranjos vistos aqui (que são precisos e que grudam facilmente na hora de cantar) ou apenas pela existência clara e pura do projeto.

Nota: 90/100

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