Crítica | Blur, “The Ballad Of Darren”

Novo álbum explora novas sonoridades, sem perder sua essência

Há diversos artistas que estavam tristes e trouxeram ao mundo álbuns muito bons. De Marvin Gaye com Here, My Dear (1978), ou Fleetwood Mac com Rumours (1977) , e até mesmo RED (Taylor’s Version)(2021) trazem faixas muito emocionais com letras de peso. Aparentemente, esse é o caso do novo álbum do Blur lançado na última sexta-feira, The Ballad of Darren, o nono do grupo.

Desde 2015, com o lançamento de The Magic Whip (2015), a banda esteve num hiato sem previsão de volta. Com o anúncio deste novo disco e uma turnê mundial, as expectativas eram altas, e junto com o anúncio decepcionante de que a banda não viria ao Brasil pelo Primavera Sound, suas novas canções trazem a tristeza do que o público não viverá.

O álbum demonstra uma ter uma energia mais intimista, principalmente por suas letras sobre fim de relacionamentos, arrependimentos e luto, além de seu título que homenageia Darren “Smoggy” Evans, o amigo e ex-guarda costas da banda.

Ademais, o disco se inicia com The Ballad, uma canção melódica que poderia facilmente estar em Plastic Beach (2010), do Gorillaz, outro grupo do vocalista Damon Albarn. A música se constrói de forma soturna, com uma batida eletrônica e moderna, misturada a um ritmo semelhante às baladas dos Beatles ou Zombies. Detalhe, o primeiro registro desta música está em um álbum de demos de Damon Albarn, de 2003 com o título Half a Song.

Em seguida, já entramos em contato com um dos singles – St. Charles Square, uma canção 100% Blur, a guitarra característica de Graham Coxon, com os vocais de Albarn, a bateria de Dave Rowntree e o baixo de Alex James – todos os elementos mais populares do grupo estão ali. Ela traz uma grande energia e celebra seus acordes no auge do britpop.

Outras músicas também trazem essa essência da banda em seus primórdios, como “Barbaric” e The Narcissist. Apesar disso, não há uma visão nostálgica, mas uma dinâmica nova, original, mas ainda com traços do passado.

Projetos paralelos que inspiram a nova sonoridade

Damon Albarn já é conhecido por nunca descansar – após o hiato do Blur nos anos 2000, o artista se aventurou no seu projeto mais popular e ambicioso: Gorillaz, mas além da banda animada, o músico fundou o The Good, The Bad and The Queen, Rocket Juice & The Moon”e Africa Express. Todos esses projetos de alguma forma contribuíram para a parede sonora criada nesse álbum: desde as bases eletrônicas até a forma como o vocalista canta tem um pouco de cada um desses elementos.

Contudo, ele não é o único a combinar suas novidades com o passado – nos últimos anos, Graham Coxon, que possui uma carreira solo extensa, e fez parte de trilhas musicais nas séries The End Of F***ing World e I Am Not Okay With This. Em 2022, ele com sua atual companheira, Rose Elinor Dougall – The WAEVE. Nestes projetos, Coxon explorou novas sonoridades na guitarra e um estilo que traz uma sensação de que o instrumento está sendo tocado em um local com eco, o que traz um novo elemento ao estilo do guitarrista, conhecido pelas distorções (que podem ser ouvidas em The Heights).

Letras para corações partidos

Outro detalhe impossível de não notar é como as letras estão bem mais soturnas, trazendo um relato de um término de um relacionamento, assim como no sexto álbum 13, em que Albarn lidava com fim de seu relacionamento com Justine Fischmann, vocalista da banda Elastica.

A princípio, não dá para saber sobre seu atual status conjugal, visto que Damon Albarn manteve seu compromisso com a artista Suzi Winstaley fora dos holofotes, mas se letras como a de St. Charles Square, Far Away Island ou Goodbye Albert, é possível que houve um fim.

E para os corações partidos de todo o mundo, Blur traz mais um arsenal de canções para se identificar, dançar e celebrar a volta de uma banda, que mesmo mais conhecida por seu “woo-hoo”, foi capaz de se inovar sem perder sua essência.

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