Crítica | boygenius, “The Record”

Enquanto o EP “boygenius” escancara as dores da depressão, “The Record” cria um retrato inverso e traz esperança ao ouvinte

Para fazer um pão, é preciso farinha, fermento e água. Já para fazer uma peça de roupa, tecido, agulha e linha. Por sua vez, para fazer uma obra prima, contudo, os três ingredientes necessários são nomes: Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus. A união das três mulheres resulta no supergrupo boygenius, que lançou o disco “The Record”, que já aparece no topo da Billboard. Essa é a primeira vez que o trio alcança uma posição tão alta no chart. Na verdade, trata-se da estreia de cada uma das artistas em um ranking tão conhecido como o em questão.

Depois do EP “boygenius”, lançado em 2019, houve questionamento se Baker, Bridgers e Dacus se reencontrariam para mais um trabalho. Durante os últimos anos, as amigas fizeram algumas aparições nos shows umas das outras. Entretanto, não havia certeza, sequer indícios, de que haveria mais de boygenius. Surpreendentemente, o mundo foi agraciado com um disco que vai além do EP de estreia do grupo.

“The Record”: um passo adiante

Enquanto “boygenius” é extremamente sombrio e escancara as dores da depressão, “The Record” cria um retrato inverso. O disco ironiza situações desastrosas e cria uma certa esperança no ouvinte. Nele, o trio abre o peito como se cada reprodução fosse uma confissão a algum amigo íntimo. Ao longo das 12 faixas do disco, a sensação é a de estar do outro lado do divã. 

“The Record” conta, além dos clipes avulsos para algumas canções, como é o caso do single “Not Strong Enough”, com um curta metragem dirigido pela atriz, modelo e diretora Kristen Stewart. A partir dele, algumas faixas, como a incrível “True Blue”, ganharam videoclipes a partir de excertos.

A alma de boygenius

Baker, Bridgers e Dacus formam um grupo que transparece uma coesão que ultrapassa a amizade. Quando se juntam e representam o boygenius, as mulheres estabelecem uma relação profissional. Cada qual com suas características e estilos próprios, o resultado é um álbum inconstante. Afinal, há um pouco de cada uma das três artistas ali. Apesar de ser um critério pouco admirado para um trabalho musical, essa característica se encaixa no caso do supergrupo.

Em suma, a sintonia entre o trio permite que as composições conversem entre si mesmo diante de suas particularidades. Dessa forma, é notório qual artista compôs qual faixa por causa de seu estilo, mesmo havendo uma unicidade quase constante. É como a água: ela pode se apresentar nas formas sólida, líquida e gasosa, mas no final das contas ainda é água. A mesma água que devemos beber para continuarmos de pé. A mesma água que bebemos quando temos sede – e que boygenius quer que você também beba.

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