Crítica | Charli xcx, “BRAT”

Charli xcx. “BRAT”. Verde. Party girl. “Night club”. Icônico. Vale dizer que tudo isso é o melhor momento do ano

Vale engatar esta crítica travando poucas linhas de introdução para dizer brevemente, e ir ao que interessa, que Charli xcx (agora sem o uso de letras maiúsculas) representa facilmente o momento com o “BRAT“, mas quem disse que ela nunca foi?

Os reflexos do excelente “how i’m feeling now” ressoam um pouco nesse seu 6º projeto (e sem dúvida o melhor e maior) por entre as escolhas técnicas que amarram vorazmente os sentimentos de uma longa vívida noite no clube e, parte das consequências do tempo fora dele também.

Sintonizando no agora, a questão é que Charli traz 15 peças para nos fazer rebelar com o fresh de uma noite (ou um verão calorento) e o passe livre para curtir sem receios. De 0 a 100 a tracklist sequer questiona diminuir os batimentos e canções espetaculares como “Club classics” nascem.

O mais insano de acompanhar é que quando a produção quer deixar o som mais alto (se é que é possível), as linhas unem-se de modo estridente para incendiar um tipo de reverência ao que a artista é capaz de fazer. O “BRAT” é o caminho inteiro para o mega-estrelato da artista pop parece se solidificar de vez em um tipo de frequência digna de tocar noite e dia no clube.

De todas as formas possíveis, o “BRAT” é o próprio clube

Quando músicas, como as deliciosas “Talk talk” ou “Rewind“, decidem criar um tipo de vórtex mais alucinante e chiclete, a órbita técnica extrai uma crescente vontade em ser a melhor música que o ouvinte vai sintonizar. O ponto é: canção após canção, esse sentimento de grandeza apenas se movimenta loucamente mais e mais.

360“, último single a chegar antes do disco ser lançado, já era tida “apenas” como icônica, mas agora com o registro todo no ar é como se fosse possível flutuar ao escutar versos como “Yeah 360“, “I’m so Julia, ah, ah, ah” ou “Bumpin’ that“. Como se não bastasse, ela encerra com uma faixa chamada “365“, agudamente mutável e precisa.

Quando decide ir por estradas não tão infrequentes, casos de “I might say something stupid” ou “I think about it all the time” ou a passional “So I“, produzidas com uma corrente estreita. Desse lado, esses são os fragmentos mais tranquilos, mas inquietamente bons também.

Todas as precisões que a atmosfera do disco conta, mais a união das escolhas de narrativas — seja na divulgação dentro do álbum ou fora e a recepção explosiva — fazem as canções criarem uma firmeza fabulosa que realça um dos trabalhos mais potentes e grandes dos últimos anos. Vai ser fácil lembrar do que Charli fez com a fase “BRAT” assim como Rosalía com o “MOTOMAMI”.

No fim e no começo de toda essa febre hipnótica que xcx tornou-se nos últimos dias, fica aqui o aviso em negrito: Charli tem, há anos, todos os asteriscos que a definem como uma popstar extremamente ousada e consolidada. O ‘BRAT’ é não somente a ponta imersa que nos faz enxergar tudo isso, mas o iceberg inteiro.

100/100

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