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Crítica | Christine and the Queens, “PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE”

Quarto álbum de Christine and the Queens é construído por sentimentos e proposta sombrias, mas execução limpa e imensa

Não se sabe exatamente onde a genuinidade de Chris estava durante o antes e pós do “Redcar les adorables étoiles (prologue)”, seu terceiro disco completo. Ainda que tenha muito da magnificência do artista em construir projetos polidos, aquele parece apenas um sopro em meio a um borrão.

Mesmo que tenha algumas linhas indecifráveis e também, triste de dizer vendo todo o seu catálogo, chatas, ainda é uma peça importante para a história dele. Não só por marcar sua volta indo além da música. Distante da ode musical do registro anterior, é em “PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE“, seu longuíssimo e 4º álbum, que ele conecta os aparelhos em seus devidos lugares.

Esse novo disco de Redcar é extremamente complexo; isso porque digerir as canções grandes e pesadas, em sentidos rítmicos, se torna até um pouco complicado. Caminhando em uma direção diferente do que foi mostrada até os singles “To Be Honest” e “True love“. Mas uau, há aqui uma construção de território nunca vista em sua discografia.

Tudo é inspecionado e colocado para se parecer como os três atos de uma peça teatral totalmente em preto e branco, cheia de anjos e uma trilha sonora digna de enlouquecer quem assiste ao que o disco inteiro expõe através da união de luto e arte como nada explorado antes dentro se sua música e fora dela.

Girando em torno de um amor que não segue termos banais, os sentimentos levados junto da perda da mãe de Chris fazem com que o trabalho misture sensações e sentimentos quase táteis. Levando o ouvinte por quase 2 horas a um tipo de aventura inebriante – às vezes longo demais, mas sempre bem moldado.

Marvin descending” consegue uma eclosão sincera e estilizada de instrumentos e antes disso, encanta pelos vocais reduzidos a uma parte elétrica. A seguir, “A day in the water“, com sua caminhada entre altos e baixos, constrói uma ponte que levita sem a ajuda de nenhum protótipo.

Quem consegue se aproximar um pouco de reverberações mais simples é a ótima “We have to be friends” e a levemente comercial, mas excelente, “True love“, com 070 Shake. A rapper volta também logo abaixo em “Let me touch you once“, que é soturna e com percepções leves de rock.

Da trinca com a importantíssima Madonna, “Angels crying in my bed” a insere como uma voz que guia o protagonista a primeira vista antes da viagem pelas águas ou terras: “I met an angel” é a mais cinematográfica delas e “Lick the light out” é a que mais se sobressai, mesmo indo pelo mesmo caminho solene das outras duas em seu start, e então, ampliando a movimentação para uma ópera estonteante, sendo, na verdade, talvez o melhor momento de todo o álbum.

Créditos: Jasa Muller

Um zilhão de coisas e poesias ocupam destemidamente o espaço do projeto, essas interlocuções são sobrepostas sim com afeto e sintetizadores espetaculares, mas se fossem melhores fragmentados, talvez em uma série de diferentes óperas lançadas em diferentes momentos, a constelação inteira pareceria um pouco mais fácil de experimentar.

No entanto, como um verdadeiro sentido do que é ser teatral em uma arena composta por monstros e guerreiros, as músicas aqui desencadeiam o papel de se sobrepor a qualquer tipo de dor. Tal alívio surge pela técnica impar e inteligente das canções em servirem como anestesias e em simultâneo como um toque para despertar e seguir.

Na finitude das músicas e no infinito dos pensamentos de Christine and the Queens, “PARANOÏA, ANGELS, TRUE LOVE” consegue destrinchar e alinhar o humano ao sobrenatural da arte com um demérito sensacional para o que o artista já colocou nas ruas até hoje.

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