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Crítica | Coldplay, “Moon Music”

Décimo álbum de estúdio do Coldplay apresenta tópicos já conhecidos da banda como aceitação, amor e esperança

O que pode ser considerado a segunda parte de “Music of the Spheres”, lançado em 2021, Moon Music veio para provar que a era apática do Coldplay definitivamente já não está mais entre nós. Com letras melódicas e ritmos pop-eletrônicos que já viraram marca registrada da nova fase da banda, vemos que o disco repete a mesma fórmula usada em trabalhos anteriores, o que pode ser um pouco batido e definitivamente enjoativo.

Moon Music chega acompanhado da nova forma da banda de colaborar com o meio ambiente. Segundo Chris Martin, os discos de vinil do novo trabalho serão feitos com garrafas plásticas 100% recicláveis, enquanto os CDs serão lançados em Eco CD e criados a partir de 90% de policarbonato reciclado.

O álbum conta com 10 músicas, que, em sua maioria, falam sobre o amor e a positividade em relação às coisas da vida, algo muito presente nos trabalhos mais recentes do Coldplay. Em MOON MUSiC, faixa-título que abre bem o álbum, podemos ver logo de cara sobre o que o disco vai apresentar. Chris Martin fala sobre esperança e em algo positivo. “But I’m trying to trust in the heavens above, and I’m trying to trust in a world full of love”. É uma boa música, que se encerra com um gancho transitório para “feelslikeimfallinginlove”, sendo esse o primeiro single da era. Aqui, Martin canta sobre o medo de se apaixonar, entretanto, mesmo com o medo, se sente finalmente preparado para se sujeitar a tal experiência: “Still I don’t let go and fields of flowers grow”. Já conhecida pelo público, sem dúvidas foi bem abraçada pelos fãs. 

Em seguida, temos uma faixa destaque e também o segundo single da era Moon Music. Sem dúvidas, uma das melhores do álbum, WE PRAY, com elementos de hip hop e a participação de Little Simz, Burna Boy e a palestina-chilena Elyanna. Esta música fala sobre superação e fé: “we pray with every breath, though I’m in the valley of the shadow of death”  além de uma exaltação às mulheres, no trecho: “Pray when she looks at herself in the mirror, she sees a queen, she sees a goddess”. 

Chris Martin também cita um trecho onde diz que eles cantarão “Baraye”, que é uma canção de protesto composta pelo cantor iraniano Shervin Hajipour. Esta música se tornou um símbolo importante durante os protestos no Irã e foi descrita como “o hino” dos protestos de Mahsa Amini no Irã.

Em JUPiTER, temos Chris Martin com voz e violão apresentando uma letra que fala sobre a aceitação das pessoas LGBTQIAPN+ e destacando, mais uma vez, que o amor é uma das coisas mais valiosas que se pode ter: “Oh, yeah, I love who I love, the message from above is: Never give up, love who you love”. Esta faixa nos prova que o Coldplay está sempre bem antenado quando o assunto é questões sociais. Nesta faixa há a presença da língua Zulu, no trecho final da música: “Ngiyakuthanda ngenyaniso. Yam yonke, sithandwa sami, ngiyakuthanda ngenyaniso“, onde fala “Eu te amo de verdade, com todo o meu coração meu amor, eu te amo de verdade”.

Intitulada: “🌈”, na sexta faixa do disco há a presença de um instrumental agradável ao longo dos 6 minutos, novamente, uma mensagem sobre positividade. A faixa se inicia com um tipo de “desabafo” de Chris Martin: “As much as I could, as much as I tried, I just couldn’t seem to find the light.” A sensação de confusão e medo, é algo muito característico da depressão, doença que o próprio vocalista do Coldplay alegou ter passado por em 2014. Em seguida, há uma mensagem muito bonita, como se Chris estivesse falando pessoalmente para quem passa por um momento de dificuldade:”To all, all of us, No, don’t give up, Storms pass, love lasts, It all goes by so fast”. 

Na faixa seguinte, iAAM, que quer dizer I Am a Mountain, há uma mensagem sobre superação e reconhecimento, onde, aparentemente, o “personagem” do álbum, se encontra no seu melhor momento de vida e entende que tudo fica bem, mesmo que demore. É como se ele absorvesse o que foi dito nos versos da faixa anterior. “I’ll be back on my feet again, ‘Cause I am a mountain”. AETERNA, é notável e tem ritmo mais animado, com batidas mais eletrônicas, além da volta do idioma zulu no trecho final da música: “Wena ngiyakuthanda whe” (Eu amo você). 

Caminhando para o encerramento do breve trabalho, ALL MY LOVE, é outro destaque. A letra fala sobre uma dedicatória a alguém e sobre pontos altos e baixos vividos em um relacionamento. Uma letra muito bonita, em especial para os apaixonados. Em ONE WORLD somos apresentados de uma vez por todas ao argumento de que só o amor pode superar as diferenças e desafios que o mundo nos oferece. Boa faixa para encerrar o álbum. 

Chris Martin sempre foi muito sincero quando o assunto era falar sobre si mesmo e sobre sua música. Em um vídeo nas redes da banda, Chris explicou um pouco sobre o Moon Music, dizendo que o álbum pode servir como uma resposta para conflitos internos, como os problemas pessoais que todos vivemos, tanto para os conflitos externos, como as guerras que acontecem no mundo. “Eu acho que o que o Moon Music quer dizer é que, talvez, o amor seja a melhor resposta”, ele começa. “Muitas das músicas falam sobre lutas, talvez pessoais, ou sobre como nos sentimos como espécie e, de certa forma, todas as respostas que eu encontro sobre todas as coisas loucas que vivemos interna e externamente falam sobre ser gentil consigo mesmo, o que permite que você deixe com que os outros sejam eles mesmos.”

Moon Music é um álbum que, organicamente, fala sobre amor e suas poderosas formas. Sua mensagem é intríseca em todas as canções, soando quase que monotemático. Para os fãs que gostam da fase positiva do grupo, é um prato cheio. Aos que buscam algo fora da caixa e que vá de encontro com os anos dourados do Parachute, por exemplo, tende a se decepcionar. É essencialmente melhor que o último disco lançado, porém, sem fugir tanto assim da zona de conforto em que Coldplay tem se aconchegado em seus recentes projetos.

Após anos consolidando sua imagem como uma banda politicamente engajada e comprometida com o “lado certo” da arte, Coldplay parece ter forçado a mão ao tentar se reconectar com suas novas raízes musicais. Moon Music surge com um sabor agridoce, refletindo tanto a busca por resgatar o que os definiu no passado quanto a inevitável transformação que os trouxe até aqui.

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