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Crítica | “Coringa — Delírio a Dois” desperdiça seu potencial

Por medo de se tornar um musical, Coringa 2 tem essência confusa e Lady Gaga mal aproveitada

A maior controvérsia que cercou “Coringa – Delírio a Dois” (ou Joker 2: Folie à Deux) desde seu anúncio foi a teoria de que o filme seria um musical. Alguns executivos da produção soltaram a informação, depois um teaser em que Phoenix e Gaga pareciam dançar uma valsa, até a confirmação de que o filme seria “musicado” dividiram as opiniões, irritaram alguns fãs e animaram outras pessoas. Depois, em entrevistas oficiais, o próprio diretor do filme pareceu querer escapar dessa polêmica, atestando que o filme não era um musical, e sim um filme com músicas. Ora, Todd Phillips, não é esse o conceito básico de um musical?

Na trama, Arthur Fleck (Phoenix), nosso Coringa, está preso há dois anos e em vias de enfrentar um julgamento. Com apoio de uma advogada e de grande parte da opinião pública que o considera um herói, grande parte de sua defesa é a dissociação por trauma, a dupla personalidade e seus delírios que, em sua maioria, o apresentam em uma realidade alternativa e mais “artística”. É nesse contexto que Fleck conhece Lee, Harlen Quinzel, protagonizada por Lady Gaga. Uma paciente de uma ala mais “branda” do hospital prisional em que Fleck se encontra e que frequenta os encontros de música e filme da instalação.

Lee parece já conhecer e já se interessar por Fleck, e se mostrando um tanto quanto psicopata e aberta para o romance, se movimenta para essa aproximação. A partir daí, a personagem é responsável por instigar o lado mais maluco de Arthur, ao passo que características suspeitas de sua própria personagem vêm à tona.

Apesar da nova roupagem para a personagem da Arlequina e todo o contexto de delírio a dois, muito no filme entregue parece fugir da proposta da idealização. Isso porque, a personagem de Lady Gaga logo começa a parecer uma figurante dentro da própria trama — enquanto elementos desse delírio começam a se perder por tentar justamente não chamar muita atenção.

Como um filme pretende mostrar a música como escapismo de duas mentes malucas e tem medo de explorar esses delírios? Como essa válvula tão rica e interessante parece querer passar despercebida? Nesse sentido Lady Gaga também parece um desperdício: a artista que já flertou entre o amor, a loucura e a música diversas vezes na sua carreira parecia a plataforma perfeita para levar o longa a lugares incríveis, coloridos, insanos e enriquecer a proposta como poucas pessoas seriam capazes. Mas, o que vemos é uma espécie de escanteio, enquanto suas aparições se tornam cada vez menos relevantes e impactantes.

Os delírios de Arthur — que em alguns momentos tentam vir com cores, cenários e apoteoses artísticas — não se sustentam, parecendo tímidos dentro de um filme que não entende sua própria proposta. Se por um lado essa continuação parece um pouco mais dinâmica, a tentativa de brincar com diferentes formatos e narrativas se perde e entrega um filme bagunçado.

A trama de “Coringa – Delírio a Dois” ainda entrega grandes atuações, mas é impossível assistir o filme e não pensar no potencial que essencialmente desaparece ao longo do arrastado contexto.

Pela falta de coesão e principalmente de ver a direção do longa assumindo riscos para criar algo fora do comum, “Coringa – Delírio a Dois” falha em suas principais propostas e fica às sombras do primeiro, desperdiçando talentos e as oportunidades de fazer um longa ousado, artístico e, principalmente, memorável.

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