A teoria de que “filmes animados” são apenas entretenimento infantil já está descartada há muito tempo, sendo a Pixar uma das grandes responsáveis por apresentar um teor emocional e psicológico que, mesmo envolto em cores e personagens adoráveis, atinge em cheio muito mais os mais velhos com algum conhecimento de mundo — sem deixar sumir o encantamento e o lúdico inocente.
Talvez por ter executado tal façanha com tamanho empenho e acerto nas últimas décadas, o estúdio — que atua sob as forças da Disney há algum tempo — é sempre um dos mais visados quando novas produções são anunciadas, gerando expectativa de bilheterias, filmes inteligentes e que serão comentados por anos e anos. Foi assim com o primeiro Divertida Mente, que colocou em personagens divertidos as principais emoções humanas: Raiva, Tristeza, Alegria, Nojinho e Medo para mostrarem de forma lúdica o funcionamento do emocional e do psicológico humano.
O acerto foi tamanho que tais personagens se enraizaram na cultura pop e ajudaram milhares de pessoas a compreender, discutir e acolher melhor as diferentes emoções e suas importâncias para o funcionamento de uma pessoa e até da sociedade. Claro que não podia parar por aí: quase uma década depois, Riley, nossa garotinha que abriga tantos dilemas relacionáveis está de volta, com problemas maiores e emoções mais… Complexas.
Agora com doze anos, o temido “Alerta da Puberdade” dispara na cabeça da garota, fazendo com que uma revolução tome conta da “sala de controle” e cinco novas emoções apareçam querendo tomar conta do pedaço: a Vergonha, a Inveja, o Tédio, a Nostalgia e a terrível e agitada Ansiedade. Essa última, dublada no Brasil por Tatá Werneck, parece tentar ser o grande carro chefe da vez, e com 10 emoções em confronto, já é possível imaginar parte do dilema enfrentado na trama.
Com a mesma duração do primeiro filme e sem a necessidade de tantas explicações e contextualizações, a trama se desenvolve em pouco mais de um final de semana. O tempo “real” parece mais que o suficiente para demonstrar esse choque de titãs, mas a trama é tão bem desenvolvida que o espectador quase se perde dessa marca, e tem a sensação de que tudo se desenvolve por muito mais tempo — tamanhas as trapalhadas e complexidades dos atritos emocionais.
Novos “conceitos” psicológicos são introduzidos também na narrativa, como a fundação do “ser” e as noções de personalidade que são fundamentais para a construção humana, como “ser uma pessoa boa”, gentil, amigável, egoísta, fracassada etc, mas o que realmente arrebata a audiência é ver, em uma tela colorida, a grande vilã do século, a ansiedade, tomar conta e paralisar o sistema.
A forma como as demais emoções tentam coexistir, lidar com o papel importante de cada uma e entender a hora de atuar e de deixar o controle faz com que a continuação do filme siga magnética, com o carisma característico e com dilemas que fazem o espectador encarar reflexões profundas e enfrentar o imagético de realidades e inseguranças que muitas vezes, tentamos esconder ou suprimir — quando na verdade é justamente o trabalho de entendimento que nos ajuda a resolver e seguir em frente.
Sem dúvidas, a continuação do filme reforça o poder da Disney e Pixar em nos entregar produções grandiosas e atemporais, capazes de dialogar com públicos distintos e emocionar gerações, trazendo debates pertinentes capazes de expandir o entendimento e fortalecer a compreensão e acolhimento de diferenças, unindo pedaços que nos fazem humanos — mesmo que esses às vezes nos machuquem e pareçam fora de lugar.