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Crítica | Elvis devolve o brilho e excelência ao eterno astro do rock

Com cuidado e acertos nos mínimos detalhes, o novo longa de Baz Luhrmann, Elvis, nos dá a melhor homenagem para o maior astro do rock em décadas

Não seria exagero dizer que há uma certa mágica visual nos filmes de Baz Luhrmann que nos hipnotiza e cativa. Foi assim com Romeu e Julieta (1996), Moulin Rouge (2001) e até o inesquecível O Grande Gatsby (2013), para citar alguns. Seguindo essa lógica e todo o hype que os filmes do diretor australiano alcançam, poderíamos dizer que a cinebiografia Elvis já nasceu aclamada, mas a convite da Warner Bros. Pictures nós assistimos e aqui estão nossas impressões.

Narrado por Tom Hanks, que interpreta Tom Parker (empresário de Elvis e figura bastante polêmica na história do astro), logo nos primeiros segundos temos a definição do nosso antagonista. E aí vamos usar essa palavra por um motivo específico: a narrativa não apenas nos conta sobre a paixão de Elvis por um super-herói, como também o apresenta como um. Logo, é justo chamarmos Tom Parker assim, uma vez que ele é um dos grandes responsáveis pelo sucesso de Elvis, mas também por problemáticas em sua carreira e imagem pública.

As quase três horas de filme acompanham Elvis em quase toda sua vida. Aqui temos flashes do Elvis inspirado por um super-herói com apenas oito anos, e centenas de outros momentos importantes na carreira do super-astro. Sinceramente, 3 horas pode soar muito tempo de tela — isso que o diretor já havia anunciado existir um corte de mais de quatro horas —, mas afirmamos que o filme é não apenas uma obra-prima visual, mas também um pedaço extremamente cativante dessa história. Essas duas características combinadas conseguem sustentar bem a duração, mas isso não é tudo.

A direção glamourosa, a fotografia espalhafatosa e a direção de arte muito precisa e acertada também compõem cada cena, deixando o filme gostoso em todas as suas minúcias. É como se Baz se certificasse de estar criando um universo impecável o suficiente para Elvis renascer e habitar, e é quase isso que acontece quando trazemos para a tela um dos componentes principais: o elenco.

Muitos cantores, atores, dançarinos e humoristas já se fantasiaram e imitaram um dos maiores astros da música, talvez tanto a ponto de desgastar — ou quase banalizar — a imagem de Elvis. É justamente nisso que encontramos provavelmente o maior desafio desse filme: corresponder com dignidade e respeito à imagem tão admirada e amplamente popularizada de Elvis.

Austin Butler encara a missão de cabeça erguida e nos entrega o melhor Elvis que já encontramos no cinema. É quase impossível não analisar seu trabalho com o de Taron Egerton, que interpretou Elton John em Rocketman e principalmente Rami Malek, que levou o Oscar interpretando Freddie Mercury em Bohemian Rhapsody. De todos esses, Austin é o que mais encarna o personagem (embora Taron também tenha feito um trabalho formidável como Elton).

O olhar, os movimentos corporais, a dança e o figurino podem até ser elementos mais fáceis de se replicar ou simular, mas Austin nos presenteia com essência, representando os altos e baixos da carreira de Elvis Presley. Com uma atuação digna de honrar o legado e trazer um frescor para tudo que conhecemos sobre o cantor, Austin canta, toca instrumentos e hipnotiza os espectadores, dando não apenas uma aula de como interpretar uma lenda, mas nos mostrando que ele também é uma estrela com potencial para bilhar e cativar.

Tom Hanks cumpre o papel e Olivia DeJonge nos impressiona com a similaridade e doçura de Priscilla Presley, esposa do ícone. O roteiro não apresenta grandes reviravoltas ou surpresas, especialmente quando já somos apresentados ao personagem de Tom Hanks como uma pessoa de caráter duvidoso. Mesmo assim, o texto expõe as emoções necessárias para nos fazer não apenas entender quem era Elvis, o fenômeno, mas também para nos entregar bastidores e emoções que nos fazem torcer e emocionar por ele como pessoa.

Elvis / Warner Bros. Pictures / 2022 (reprodução)

Os números musicais são grandiosos e de arrepiar, mesmo sem uma cena em estádio, como a famosa em que Freddie se apresenta no Live Aid, em Bohemian Rhapsody. A direção de Baz, a fotografia, figurinos e principalmente as atuações fazem com que sintamos a paixão de cada envolvido na produção e na história, envolvendo cada espectador das salas de cinema e fazendo que nos sintamos presentes em momentos históricos tão grandiosos.

Elvis entra no pódio junto de outros filmes de Baz Luhrmann que praticamente já nascem clássicos e merece o posto. Servindo uma extravagância digna da trajetória de Elvis, com respeito ao astro e com brilhantismo técnico, ele acerta em todos os quesitos mais exigentes. O filme é capaz de mostrar a novas gerações o motivo de astros atemporais serem quem são, trazendo o espetáculo para perto de quem talvez só conheça Elvis Presley como uma lembrança distante — e fazendo com que nos apaixonemos por um super-herói que Elvis sempre tenha sonhado ser.

Nota: 89/100

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