Crítica | Emblem3, “Songs From the Couch Vol. 2”

Dez anos após o estrelato, Emblem3 celebra a vida no confortável ‘Songs From the Couch, Vol. 2’

Quando Drew Chadwick e Keaton e Wesley Stromberg encantaram os Estados Unidos e grande parte do globo com performances memoráveis no The X-Factor, há mais de dez anos, a expectativa era que o trio acabaria se tornando um dos maiores fenômenos da música pop norte-americana.

No entanto, já durante o programa, ficou perceptível que a ideia dos californianos estava bem distante da fórmula utilizada pelas gravadoras apaixonadas por produtos vazios que suprem apenas o objetivo principal de faturar alguns milhões. Ainda que diretamente influenciados pelo mentor Simon Cowell e um contrato com a Columbia Records, o Emblem3 nunca quis ser uma boyband. 

Tipicamente californianos, os garotos tentavam em meio a juventude sob os holofotes encontrar um equilíbrio entre suas paixões: música, skate e surfe. As raízes musicais, contudo, sempre foram tão claras quanto as águas das praias de Huntington Beach. Tracks como ‘Riptide’, ‘Tequila Sunrise’, ‘Curious’ e ‘Reason’, influenciadas por nomes como Sticky Fingers, Jack Johnson, Good Charlotte e até mesmo Sublime, já possuíam algumas centenas de milhares de views no canal da banda no YouTube antes mesmos do programa.

Eles são muito mais pop do que rock, mas o maior atrativo no som da banda é a mistura homogênea de estilos que vão do reggae e ska até o rap. É o conjunto de refrões melódicos de Wes, os backings e a qualidade de produção de Keaton e versos geralmente falados de Chadwick que despertaram interesse de tanta gente na TV e na internet. 

O grupo chegou a emplacar alguns hits nas paradas após o TXF, como ‘Chloe’ e ‘3000 Miles’, além da clássica ‘Sunset Blvd’, mas o tempo fez com que os membros do Emblem3 almejassem coisas diferentes. Na primeira fase como trio, lançaram o ótimo Songs From the Couch, Vol. 1 e o regular Nothing to Lose, em 2013 e 2014. Depois, os caminhos percorridos foram um tanto quanto caóticos. 

Após a saída de Drew em 2014 – e shows sold out no Brasil -, os irmãos Wesley e Keaton Stromberg lançaram o quase acústico EP Forever Together (‘Heavy’ merece o seu play). Dois anos depois, Chadwick anunciou que voltaria ao grupo junto ao lançamento de um novo EP, Waking Up. Formado por cinco faixas, esse talvez seja o melhor EP da discografia dos músicos. ‘Taboo Love’ e ‘End of the Summer’ voltaram a fazer barulho nas redes sociais. 

De lá até 2020, em meio a alguns singles e a pandemia causada pela COVID-19, os lançamentos não empolgaram. ‘Too Pretty’ se perde em seu próprio tema e o EP Pyro, influenciado por sonoridades do trap, não entrega. 

Como retomar a boa forma após tanta instabilidade e a insegurança de nunca mais oferecer aos fãs, o bem mais precioso de um artista, o que eles esperam? Dar dois passos para trás, recuperar identidade e dar um novo significado para algo que já funcionou soa como uma boa resposta.

Champagne Dreams’, ‘Eyes Wide Open’ e ‘Walking Dead’, que antecedem o novo álbum do grupo, aparentavam trazer de volta tudo o que os fãs sempre pediram: Wes e Keaton brilhando em seus momentos melódicos e Drew transitando com muita facilidade entre melodias e rimas. A sonoridade? O pop rock muito influenciado pelo reggae que todo mundo aprendeu a gostar os acompanhando pela televisão. Que match!

Agora mais maduros como seres humanos e músicos, os estadunidenses do Emblem3 lançam o novo disco da carreira com muito vigor. Songs From the Couch, Vol. 2 é a retomada da qualidade e confiança que os alavancou em direção ao topo.

Em pouco mais de 25 minutos e oito tracks, a banda quer que o ouvinte se sinta em casa – talvez por isso a ideia de criar a sequência direta “canções do sofá” tenha sido uma excelente escolha. Drew, Keaton e Wes convidam quem os ouve para uma festa na garagem no quintal regada a música boa e velhas amizades.

O novo trabalho do E3 é uma celebração aos tempos áureos, à juventude, ao viver com fervor, às “house parties” bem no estilo californiano encontrado nos filmes e séries. Não se surpreenda se encontrar alguma das novas canções do grupo na trilha sonora de algum fenômeno da Netflix, por exemplo. 

Por ter enfrentado diferentes conflitos durante os últimos anos, agora o Emblem3 parece entender o seu lugar como banda. Ainda que não seja mais um fenômeno popular gigantesco como um dia já fora, o trio começa a trilhar o caminho em direção ao ápice criativo e realização pessoal. E por mais que os números talvez não sejam mais os mesmos, não há nada tão grande e revigorante quanto a paz interior e a realização de compreender que a liberdade é um privilégio. 

Tracks favoritas: ‘Rush’, ‘Nirvana’, ‘How It Is’, ‘Euphoria’ e ‘Young Wild Wasted’.

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