Crítica | “Glamorous” é um clichê com subtexto direto ao público LGBTQIAP+

Glamorous usa clichês semelhantes aos filmes que cativaram seu público para apresentar subtexto crítico sobre a comunidade LGBTQIAP+
Glamorous. (L to R) Michael Hsu Rosen as Ben, Miss Benny as Marco in episode 104 of Glamorous. Cr. Amanda Matlovich/Netflix © 2023

Glamorous é a mais nova série da Netflix destinada ao público LGBTQIAP+ e por mais que em seus primeiros minutos a série traga clichês que a fazem parecer fraca, seu subtexto é ótimo e fala diretamente com seu público principal.

A produção marca a estreia de Miss Benny como protagonista, a atriz é uma mulher transgênero, mas interpreta Marco Meija, jovem não-binário, fissurado em maquiagem e que tem o sonho de ser influencer digital do segmento.

A vida de Marco muda completamente quando ele cruza com Madolyn Addison (Kim Cattrall) na loja em que trabalha. Com um discurso lúdico sobre a importância empoderadora da maquiagem, ele chama a atenção da ex-modelo e dona de uma grande empresa de cosméticos, conseguindo um emprego como segundo assistente.

Créditos: Netflix (2023)

Na Glamorous by Madolyn, Marco conhece Venetia (Jade Payton), a primeira assistente de Madolyn; Chad (Zane Phillips), um homem gay, branco, padrão, que é braço direito da mãe na empresa e age quase como um antagonista na trama. Além dos melhores amigos Britt (Ayesha Harris) e Ben (Michael Hsu Rosen).

A trama geral, giram em torno do objetivo da equipe de inovar a marca e cativar o público mais jovem – que perdeu um pouco o interesse nos produtos por serem pouco inovadores e de certa maneira até conservadores.

Em paralelo a isso, Marco busca se entender melhor, conquistar sua independência e provar para a mãe, Julia (Diana Maria-Riva), que é capaz de realizar seu sonho de se tornar influencer digital e viver dele.

Créditos: Netflix (2023)

Glamorous usa filmes que cativaram o público LGBTQIAP+ para estruturar seu roteiro

É impossível não notar desde os primeiros minutos, que Glamorous bebe dos clichês e elementos de grandes filmes da segunda metade dos anos 90 e de algumas séries atuais. Produções que são referência para a comunidade LGBTQIAP+ até hoje e que ajudaram a moldar muitos de seus membros.

O Diabo Veste Prada’, ‘Sex and the City’ e até a recente ‘Emily em Paris’ são algumas das referências facilmente perceptíveis na trama. E embora esse seja um grande trunfo da série, ele acaba sendo também seu maior problema.

Usar tantos componentes de outras obras, faz Glamorous pecar e não conseguir mostrar uma identidade própria. A série pode ser quase superficial no desenvolvimento de algumas questões importantes, tanto para história, quanto para seu personagem principal.

Porém é no subtexto que a série entrega o seu melhor e expõe as críticas que afligem a comunidade a qual se destina. Colocar como centro a não-binariedade, faz da produção um show que questiona o padrão físico e de gênero presente dentro na sociedade e na comunidade LGBTQIAP+ como um todo.

Créditos: Netflix (2023)

A série é feita para todas as idades e para toda a sigla, de “A a Z”

É inegável que a série não se aprofunda em algumas questões, talvez até para não se limitar à uma ou outra geração. Glamorous possui características que conversam com todas as idades de forma prática.

A série demonstra isso desde sua trilha sonora, que vai de Christina Aguilera (em uma das cenas mais icônicas da produção) à Tove Lo. Além disso, seu elenco é extremamente diverso, contando com atores e atrizes gays, não-binários, bissexuais e transgênero.  

Como forma de cativar público, Glamorous usa a presença forte de Kim Cattrall, que está maravilhosa como sempre, mas que é usada na medida certa para que a produção não gire em torno dela.

Créditos: Netflix (2023)

Glamorous é sim uma série clichê, leve e que ao primeiro olhar pode parecer bem simples, mas suas entrelinhas falam diretamente com o que atinge a comunidade LGBTQIAP+ por dentro.

O show é claramente sobre autoaceitação, mas vai além ao abordar a forma que se tratam pessoas afeminadas, o preconceito que existe com os membros queer dentro da própria sigla. E principalmente, sobre como a comunidade ainda reproduz comportamentos da ampla sociedade e pode agir de forma desigual entre os seus.

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