No fim do clipe de “Hideous”, single da fase de estreia de Oliver Sim (da banda The xx), a criatura semelhante a um orc após flutuar, despeja-se nos braços do anjo brilhante interpretado por Jimmy Somerville — que também empresta a voz para a canção.
Entretanto, não se sabe se ele cai de cansaço, desesperança, os dois ou até mesmo por um peso ainda maior sob suas costas. Mas fica nítido que Sim hoje não está mais tão cheio das sombras que o acompanharam desde que revelou que tem HIV desde os 17. Seu personagem lírico é um puro ser de luz que merece um abraço apertado e quente.
Esse contexto da doença serve de construção para o universo de seu primeiro trabalho agora com carreira solo mas não longe da banda The xx de vez, tal como objetos pontiagudos. Ainda assim, este ponto não é o levante central, mas o fator que fez o álbum “Hideous Bastard” nascer. Na realidade, em linhas descritivas, o disco feito ao lado de Jamie xx (também da banda) é uma prova de amor a Sim, à filmes de terror e as inúmeras versões que carregamos conosco devido aos outros.
Vale muito tocar na questão envolvendo obras de terror, que consequentemente funcionam como a alma do projeto em termos sonoros e visuais. Como resultado, Oliver lançou “Hideous”, um curta-metragem lindo de 20 minutos com direção de Yann Gonzales, que reforça como é ser e se sentir queer em um universo de criaturas monstruosas.
“Romance With A Memory”, primeira prévia de Sim como um ser solo, registra agora em conjunto com toda a peça um dos melhores momentos da sua jornada. A produção desigual de Jamie é progressiva e chiclete, do tipo que gruda na mente e no corpo.
Acima de tudo, muito do intuito do álbum parece estar ajustado numa desigualdade entre o que um som deva parecer acoplado de sua principal fonte: o intérprete. Esse combo requer equilíbrio e não é como se fosse difícil para Oliver. Ele segura muito bem as ondas vibrantes que claramente foram dispostas com muita responsabilidade em conjunto com Jamie.
As 10 faixas confiam em 34 minutos uma narrativa fiel a seu papel de fundo. “Never Here” se dissipa como sangue espesso pelas mãos do ouvinte, devido a sua formatação em repetições e batidas completamente frias, como se fosse a faixa ideal para mostrar o culpado se safando enquanto foge de carro e passa por colinas.
Já em “GMT” encontramos uma progressão épica e deliciosa, além de se parecer com algo da banda. Mas todos os créditos para a melhor peça do álbum (e quiçá uma do ano) fica a cargo do encerramento: “Run The Credits” é silenciosamente espetacular e carregada de uma virtude surreal da proposta que Oliver tem para se mostrar sozinho na pista. Sem contar todo o coração da letra, que gerencia divertidamente uma fábula sobre o amor por longas de terror.
Sim mostra do que é capaz longe da banda e funciona em absolutamente todos os estágios que decide percorrer. Em suma, a história aqui não contada sem necessariamente começos, meios e fins, é como conhecer todos os componentes que complementam um arco escrito com muita sabedoria.