Crítica | Sigrid, “How To Let Go”

O segundo disco da norueguesa Sigrid é uma viagem às vezes dançante, outras vezes serena, mas sempre sobre fragilidades, amor e crescimento

Antes de Olivia Rodrigo ganhar um enorme espaço expressando suas visões de mundo totalmente adolescentes, outra jovem estrela já tinha o palco para si. Sigrid infelizmente não possui a mesma quantidade de números que Rodrigo alavancou, mas quantidade não é e nunca foi sinônimo de qualidade. E a norueguesa pode confirmar isso em alto e bom som, e não é de agora; a sua marca, muito além da sonora, entrega a resposta para uma proposta de um jeito caro e único.

Para só confirmar o quanto a artista sabe dialogar sobre as dores que crescer provoca na alma, o seu segundo disco de estúdio a coloca na estrada como uma estrela cantando com força máxima para a galáxia inteira. De alguma forma é muito essa sensação que o “How To Let Go” provoca; Sigrid quer gritar mundos afora o poder que a sua paixão pode evocar em outros seres.

É preciso reforçar em todas as linhas possíveis que esse é um registro ligado na voltagem máxima, mas essa carga é a potência mais alta que ele mesmo consegue exaurir. Não há crime nenhum em tal conjuração. Se para tornar real isso foi preciso entrar em conexão com algo propriamente único para a sua criadora, esse é o maior mérito a se prestigiar. É essa sinceridade que devemos valorizar.

Mas independente do que foi preciso construir e compreender para tornar o projeto real, de maneira técnica encontramos fatias incríveis de talento dispostas no corpo celeste do álbum. Isso se transparece bastante já pela abertura. “It Gets Dark” abre como uma orquestra performando em plena galáxia. E quando chega ao seu clímax, a idealização fica crescente. Tal precisão se mantém até “Mirror“, dançante single que fala sobre amor próprio.

Os próximos minutos vão se formar como uma roupa ao avesso. “Dancer“, melhor faixa do registro, começa a insinuar isso. A canção chiclete coloca em primeiro plano o talento de Sigrid em tornar tudo maleável. Essa forma de coesão encontrada para contar a narrativa que torna todas as canções em um só trabalho, funciona como uma feitiço que uma hora sem dúvida vai se quebrar.

Dito e feito. A incrível “Bad Life“, parceria com o vocalista da banda Bring Me The Horizon, Oliver Sykes, mostra a mais pura rebeldia e os problemas em crescer inserida em suas veias de diagramação. Para fincar isso, agora de modo calmo, “Grow” entra em cena com uma crueza simplista e encantadora para debater de modo explícito como dói aprender o que é estar no meio de processos em que geralmente cambaleamos para entender. Com um insight aqui e ali, a canção parece uma versão divergente de “Ribs”, de Lorde.

Por entre as auras dançantes, amorosas, leves, perdidas, insegura, imensas e pequenas de “How To Let Go”, encontramos uma poema honesto sobre uma pessoa em busca de algo que todos nós procuramos: respostas. Mas enquanto nos fazemos as perguntas, encontramos modos diferentes de não ficar estagnados com o que as soluções podem nos trazer. São por esses saldos que o disco serve como mais um passo para entendermos a imensidão que a artista quer que o ouvinte passe a presenciar. Os universos dela são gigantes, assim como os nossos. Graças a ela todos podemos parte dele.

Nota: 85/100

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