Crítica | Jenni Mosello, “FEMMINA”

Jenni Mosello estuda sobre questões femininas e expele questionamentos profundos munidos de produções bem balanceadas em “FEMMINA”.

A música pop brasileira deixou de ser um “prazer culposo” para se tornar motivo de orgulho há alguns anos. No entanto, demorou bastante para que algumas pessoas reconhecessem o quanto os artistas nacionais, principalmente as mulheres, não devem nada às chamadas divas pop internacionais. O crescimento foi tão significativo que hoje em dia nomes como Anitta e Ludmilla chamam muita atenção além das fronteiras do país, seja pela brasilidade presente em suas canções ou pelas diversas colaborações que resultam exatamente no que se espera: trazer visibilidade aos brasileiros.

Explorando outras vertentes do gênero, é possível encontrar cantores e cantoras que expressam essa sonoridade de forma um pouco diferente, seja através de narrativa ou simplesmente adicionando um toque único às batidas, fazendo o ouvinte pensar: “isso é interessante”. Dos vários artistas atuais que tentam alcançar novos públicos, cada um encontra sua própria maneira de entrar nesse mundo, seja colaborando com mulheres renomadas como Juliette, Luísa Sonza ou IZA, mantendo sua própria musicalidade, mas também adicionando um pouco do que são capazes de fazer. É uma forma de se aproximar cada vez mais desse universo que pode facilmente engolir alguém: o mundo da música pop no Brasil.

Jenni Mosello teve um momento de destaque quando participou da primeira edição da tentativa de trazer o sucesso mundial do The X-Factor para o Brasil. Embora não tenha sido a vencedora, o fato de comemorar o segundo lugar na competição foi uma prova de que ela conquistou a visibilidade que desejava. Quase sete anos após o término do programa, a cantora alcançou o que muitos participantes consideram como a melhor vitória possível em um reality show: fazer com que o público quase esqueça de onde eles vieram.

Por isso, é correto dizer que Jenni está vivendo o auge de sua carreira, tanto profissionalmente, escrevendo composições para outras pessoas, quanto pessoalmente, após o lançamento de seu segundo álbum, “FEMMINA“. Nesse disco, ela explora suas questões internas como mulher, seus pensamentos mais profundos e reflexões, resultando em um trabalho bem equilibrado, estudado e capaz de transmitir tudo o que foi absorvido mentalmente por meio de batidas hipnóticas e melodias graciosas.

A graça que permeia aproximadamente trinta minutos do projeto é sensual, porém de uma maneira obscura e quase sombria. Quando Jenni opta por narrativas simples, repetindo incessantemente que é uma “MENINA MÁ“, ela disfarça os versos fáceis com produções repletas de pequenos elementos que funcionam como conexões entre um som e outro. O que inicialmente parece confuso acaba se desenrolando por si só, abrindo um leque de diferentes direções que ela controla e utiliza nos momentos apropriados.

Ao contar com diversas participações, a cantora consegue trazer diferentes essências femininas para o seu trabalho, provando um ponto muito pertinente: a pluralidade entre as mulheres. Jenni Mosello é a diretora de cada música, mas permite que o percurso até o ponto final seja guiado por Carol Biazin, King, Jade Baraldo, Alice Caymmi e tantas outras. A escolha por ter tantas vozes adicionais pode parecer um exagero para quem busca apenas a perspectiva da artista principal no tema do álbum, mas embarcar nessa proposta é entender que ela considera essencial ceder espaço para que outras mentes adicionem suas ideias também.

LÍNGUA AFIADA” é bem lapidada em sintonia com a participação de Carol Biazin na faixa, transformando as duas vozes em quase um só canto. Assinando a produção de todas as músicas junto com seu parceiro Lucas Vaz, Jenni consegue colocar em prática o que faz de melhor quando trabalha com outras pessoas, que é dar um tom comercial suficiente sem parecer que está apenas seguindo tendências momentâneas.

Suas letras alternam entre versos complexos e aqueles que poderiam facilmente servir como legenda de um post no Tumblr em 2018. Em “TE QUERO BEM“, ela mira em várias direções ao fazer suas referências, criando a sensação de que a música é uma miscelânea aleatória de Poesia Acústica remixada. No entanto, mais uma vez, ela compensa isso com produções que ajudam a elevar o material.

O foco evidente em “FEMMINA” é estudar questões femininas e expressar questionamentos profundos por meio de produções bem equilibradas. Jenni Mosello é alguém que não se contenta em apenas viver da música pop; ela a estuda. Constantemente se questionando como cada movimento e instrumento na produção podem enriquecer uma narrativa, buscando compreender melhor o seu próprio espaço como mulher em um gênero tão desafiador para se tornar visível, adaptando tudo isso para que o trabalho seja um reflexo de tudo o que passa por sua mente.

Os temas explorados aqui estão sempre presentes na sociedade e são objetos de discussão em diversos lugares onde é possível se expressar, seja em tweets de pessoas aleatórias ou em palestras baseadas em estudos que levaram anos. Apesar da duração das faixas ser limitada, é melhor pensar que ir direto ao ponto é uma abordagem tão poderosa quanto preparar o terreno e transformar o trabalho em algo longo. A visão escolhida por Jenni Mosello foi rápida, nada sutil e exatamente como sua língua: afiada.

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