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Crítica | Katy Perry, “143”

‘143’ não aproveita seu potencial total e derrapa em detalhes (e polêmicas) que prejudicam sua força

Quantos feitos memoráveis são capazes de salvar uma carreira em meio a tantas polêmicas? Horas antes de realizar seu terceiro show no Palco Mundo do Rock in Rio, Katy Perry lança “143”, seu sexto álbum de estúdio e que foi de um aguardado “comeback” para uma apreensão até para os mais otimistas.

Desde o lançamento de “Witness” (que sempre defendemos) e “Smile” — que a cada dia se prova mais merecedor de um bom lugar ao sol da discografia da cantora —, Katy tem encontrado dificuldades em proteger sua imagem de polêmicas e, principalmente, em ser levada a sério. Isso porque, durante o tumultuoso período de “Witness” em 2016, a falta de identidade e direcionamento artístico levaram a trajetória da artista a uma derrapada em alta velocidade, se provando cada vez mais complexa de voltar aos eixos. Embora “Smile” tenha ótimos momentos e tenha sido bem trabalhado em seu rollout, mesmo com a pandemia, o disco passou quase despercebido.

Meses atrás, a promessa de um novo disco mais eletrônico com uma Katy “entregando tudo que os fãs queriam” animou, mas por pouco tempo. Quando a primeira faixa de trabalho foi anunciada, “WOMAN’S WORLD”, uma nova polêmica se encarregava de tentar manchar a era: como um hino ‘feminista’ podia trazer uma letra genérica? Ou pior: ter a produção e co-composição de um homem com acusações de abuso contra Kesha? De um mundo de produtores, Katy escolhera deliberadamente trabalhar com ele, mesmo ciente da confusão, ou era obrigada por contrato?

Fato é que, de lá pra cá, pouca coisa funcionou: a derrota anunciada do primeiro single se cumpriu, e nem mesmo a deliciosa “LIFETIMES” conseguiu recuperar o ânimo. Em um possível trabalho de recuperação da gravadora, a artista foi destaque na última edição do VMA e, além de uma performance impecável com hits antigos e músicas do novo álbum, Katy levou o prêmio também questionado de melhor performance da história da premiação.

Rollout a parte, o que resta quando vamos dar play no álbum e apenas focar no que ele tem a entregar? As 11 músicas em pouco mais de meia hora não são um padrão novo na indústria, e na verdade, a escolha de um álbum mais conciso é até acertada quando precisamos conter riscos. Dito isso, nem tudo no curto trabalho funciona: a primeira faixa, “WOMAN’S WORLD” recebeu críticas ferrenhas e até comparações com músicas como “Stupid Love”, de Lady Gaga. A letra genérica e a produção de Dr. Luke não apenas não impressionam, como não agradam e não fazem sentido em sua temática. A faixa seguinte, “GIMME GIMME”, consegue ser ainda pior com um verso totalmente dispensável e desconexo de 21 Savage.

“GORGEOUS”, featuring com outra parceira de longa data de Dr Luke, Kim Petras, já é uma amostra melhor do que o álbum pode propor: uma batida significativamente mais envolvente e a harmonia nas vozes das artistas, que combina muito e deixa a canção com um potencial mais emocionante. “I’M HIS, HIS MINE”, terceira colaboração seguida, traz Doechii e o sample da icônica Gypsy Woman, lançada em 1991 por Crystal Waters. Divulgada como terceiro single do álbum, a faixa ganhou um clipe moderno e bem produzido, bem como um espaço na performance do VMA, apresentando seu potencial para manter algum interesse na era.

A sequência a seguir vem com quatro faixas em que a essência de ‘143’ brilha com mais força: “CRUSH”, “LIFETIMES”, “ALL THE LOVE” e especialmente “NIRVANA”, que chegam com o melhor dos vocais de Perry, batidas hipnóticas e viciantes e um vislumbre sonoro do futuro “tech” presente na estética do trabalho. “ARTIFICAL” também é uma faixa potente e com elementos tecno-futuristas, mas o featuring com JID não acrescenta em nada, arranhando uma faixa que se sairia melhor como uma canção solo.

“TRUTH” é o último momento aproveitável do disco, em que Katy canta que quer saber a verdade, mesmo que ela a machuque. A faixa, que caberia bem (temática e sonoramente) no disco Witness, seria um bom encerramento de um disco de 10 faixas, mas “WONDER” vem na sequência para uma finalização bem mais fraca, piegas e esquecível.

‘143’ não aproveita seu potencial total e derrapa em detalhes (e polêmicas) que prejudicam sua força. Embora os elementos futuristas e eventualmente nostálgicos — que poderiam soar como um Summer EletroHits caso fossem melhor aproveitados — tenham seu valor, o trabalho como um todo chega longe do que se espera de uma artista com o calibre do nome Katy Perry.

É um disco com momentos divertidos e potencial para bons visuais, mas que mostram que a artista precisa reencontrar a força e a clareza presente principalmente em seus dois primeiros discos. Na ausência do direcionamento artístico e às sombras de seus grandes feitos, Katy Perry agora parece pequena perto da própria história, sendo ‘143’ seu álbum menos marcante.

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