Baseado no livro de Bethan Roberts, Michael Grandage recebeu o desafio de dirigir My Policeman, um filme que se passasse em duas épocas distintas: a década de 50, em uma Grã-Bretanha que punia criminalmente a homossexualidade, e a atualidade.
Toda a história é focada em três personagens: Tom, um policial que se descobre bissexual, que vive um casamento com a professora Marion, mesmo apaixonado por Patrick, o curador de um museu.
As cenas dos anos 50 trazem a efervescência da juventude dos personagens enquanto se descobrem e engrena suas vida — e mentiras —, enquanto tentam se entender numa realidade onde a homossexualidade é ilegal. O escândalo de um policial gay faz com que Tom viva secretamente um romance com Patrick, enquanto Marion tenta lidar com a situação de ter um marido policial que é também amante de outro homem.
Embora a fotografia e a direção de arte se esforcem em trazer mais acerto para o filme, o longa se perde mesmo em coisas simples. O ritmo do filme, com os feedbacks e o vai-e-vem temporal é confuso e, em boa parte do filme, tedioso. Com o recurso de trazer imageticamente um presente mais melancólico, cinza e com uma fotografia de cores mais sóbrias e frias, o passado dos personagens é bem mais saturado e colorido. Poderia ser justificado pela juventude e o brilho das descobertas, enquanto os personagens na atualidade são assombrados pelo peso de suas escolhas. Mesmo assim, a falta de ritmo e a montagem pouco expressiva e funcional deixam a desejar e tiram o brilho do recurso.
A direção de Michael também não ajuda: o filme é engessado, pouco criativo em seus recursos e, principalmente, falha em profundidade e humanidade. Com personagens que teriam de tudo para trazerem complexidade e sensibilidade em suas narrativas, o filme parece mais um ensaio amador do que um filme finalizado. É difícil criar apego, empatia e acreditar nas motivações dos personagens — logo, pouco torcemos para qualquer reviravolta ou desfecho da narrativa.
A primeira hora — arrastada — do filme traz cenas de sexo dos três personagens nos anos 50, logo, várias de Harry Styles. A nudez é tímida, filmada sem muita sensibilidade, inclusive com duas cenas em que os atributos traseiros de Harry Styles aparecem despidos. Arrancaram suspiros nos cinemas, mas em casa também perde um pouco a graça. A atuação do cantor também não é muito convincente ou impressionante: na verdade, ela contribui para a pouca relação e empatia que criamos com os personagens.
Quase duas horas depois de seu início, o filme termina e deixa o espectador com uma sensação de vazio. Realmente há muito pouco a se extrair da experiência, que mesmo com um roteiro interessante (que poderia desencadear num clássico instantâneo em outro elenco e direção), não decola ou acrescenta muito. Uma pena.