Crítica | “O Crime é Meu” reafirma a potência e a delícia do cinema francês

Mais um filme que se torna clássico na filmografia de Isabelle Huppert, O Crime é Meu diverte e acerta em tudo

O ano é 1930 e Paris ainda é uma cidade machista e misógina. Mulheres não podem votar, homens abusam de seu poder e se beneficiam do cenário opressor. É nesse contexto que conhecemos Madeleine (Nadia Taraszkievicz) e Pauline (Rebecca Marder), uma atriz e uma advogada, respectivamente. Ambas num cenário de pobreza e ainda sem acertar na vida, com incertezas e uma ameaça de despejo iminente.

Com uma inquietação e tristeza, Madeline chega em casa e relata que um produtor famoso e conceituado havia marcado uma reunião, prometendo papéis de sucesso mas que, na verdade, tentou abusar da jovem – que revidou e fim. Pensando até em se matar, ela parece desesperançosa e frustrada, mas um detetive bate em sua porta com o que poderia parecer mais um problema, que é transformado em oportunidade.

Suspeita de assassinar tal produtor, que havia sido encontrado morto pouco depois de sua “visita”, Madeline é intimada a depor. Sob orientação de Pauline, a atriz confessa o crime – que não cometeu –, e ambas montam uma argumentação que pudesse ser capaz de convencer o júri e o juiz de que, sob legítima defesa, a atriz merecia a absolvição de tal crime.

Assim, ambas atingem notoriedade por toda Paris e veem sua sorte mudar. Madeline recebe dezenas de papéis de destaque, flores e cartas de amor, enquanto Pauline passa a ter centenas de clientes batendo em sua porta. Tudo parece bem, até que Odette Chaumette (Isabelle Huppert), uma famosa atriz do cinema mudo que encontrou a decadência, se apresenta como verdadeira autora do crime e ameaça expor toda a farsa.

O filme é brilhantemente dirigido por François Ozon, que entrega uma narrativa muito atual mesmo sob o contexto de época. Com uma química absurda entre todos os personagens da trama e um humor delicioso, a trama se desenrola e cada cena é cativante.

Com críticas muito bem desenvolvidas e apresentadas contra o machismo, misoginia, patriarcalismo e opressão, O Crime é Meu (ou Mon Crime, em seu título original) é um história como apenas os franceses entregam: apaixonada em cada detalhe, com diálogos bem amarrados, um ritmo muito particular e mais um filme irresistível para a filmografia de Huppert. Acertado em todos os detalhes!

96/100

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