Crítica | Olivia Rodrigo, “GUTS”

Olivia Rodrigo demonstra crescimento e evolução pessoal em “GUTS”, mesmo tendo certeza que ainda não sabe tudo sobre si mesma.

Embora Olivia Rodrigo possa não possuir a estética padronizada de uma jovem adulta dos sonhos de um norte-americano conservador, sua visão sobre a adolescência americana e a claustrofobia sentimental e social que ela expressou em SOUR são relatos mentais comuns para mulheres de sua faixa etária. Em “GUTS“, a exposição dessas angústias não soa mais como a ‘crise de adolescente’ do disco anterior, mas sim como um retrato honesto, perturbador e até atrevido de como remoer memórias pode causar sensações ruins, porém necessárias.

Olivia compartilha muito o turbilhão de coisas passando em sua cabeça com quem a ouve. Ela se pergunta coisas como pode ser tão estúpida, se está amando ou odiando alguém e se o que está fazendo é uma má ideia. Uma das suas maiores estratégias é bombardear qualquer um que tente entrar em sua cabeça com as indecisões que tanto afligem sua vida. Porque no passado, ela exagerava no sentimentalismo e soava apenas como uma chata.

Agora, ela faz questão de não apenas colocar para fora suas dúvidas, mas realmente parar e passar horas, dias ou até semanas remoendo o porquê de ter cometido determinadas ações no passado. A personalidade que antes emanava um dar de ombros falso para mais tarde chorar no quarto hoje convida qualquer um que seja para ouvi-la divagar por horas sobre homens, auto sabotagem e escolhas passadas tão burras, que ela ficaria alegre em receber um chacoalhão do seu convidado.

Ainda há exagero emocional em seus depoimentos, como dizer que uma ligação fez seu mundo inteiro mudar, mas a didática com a qual ela se coloca não a apresenta como vítima de alguém, mas sim como um lado de uma situação, o que faz com que a empatia seja um sentimento comum para quem a ouve.

Ela expõe seus erros tanto quanto os outros que erraram com ela, mas não há espaço para apontar dedos. A fase da raiva parece ter passado e o disco foca mais na auto aceitação de como situações mudaram um pouco sua vida. Uma aceitação que também se baseia muito nas péssimas escolhas que ela cometeu em relação a outras pessoas.

Em vários momentos, Olivia Rodrigo se antagoniza, como se estivesse colocando obstáculos em qualquer coisa que decida, mesmo sendo algo comum para alguém de sua idade. O piano continua ao seu lado, mas agora parece ter encontrado um irmão perdido nas guitarras que fazem questão de agir como se fossem diabinhos em seu ombro. A cada momento mais agressivo, é como se a cantora estivesse se vendo entre dois caminhos: um que a leve a algo rápido e indolor, e outro que possa ser gratificante, mesmo que essa gratificação seja uma tortura.

Em “GUTS“, Olivia Rodrigo renova suas definições de forma assertiva. Desejando assimilar não apenas para onde está indo, mas também onde se encontra neste exato momento. A construção que começa ditando um comportamento típico de uma jovem americana também serve como um lembrete de que a forma como qualquer nacionalidade imprime seu modelo ideal evoluiu, não apenas em parâmetros estéticos, mas também em questões pessoais.

Antes, Olivia parecia muito sincera na forma como era, mas não tanto na forma como lidava com as coisas… agora ela mostra que aprendeu, cresceu e está em um estado de evolução. Sua maturidade é algo constante e não há momento em que ela se define como uma pessoa que sabe de tudo.

E por mais que ela diga que não se conhece tanto assim, ela se conhece, mas a dúvida que ainda a corrói é a que faz questão de deixar na cabeça de todos, como um lembrete final que significa: se você se importou o bastante comigo para explorar as minhas incertezas, fique sabendo que nem eu sei se vai ficar tudo bem.

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