Já imaginou o pesadelo que seria ficar preso em um colégio interno em plenas férias natalinas, enquanto a neve cobre tudo ao redor e todos os seus amigos — e familiares — se divertem longe de você? Se a premissa te lembra diversos filmes clássicos de “Sessão da Tarde”, imagine também que o professor encarregado dos seus cuidados é quase um vilão do corpo docente, odiado por todas as pessoas que circulam nessa escola e que, basicamente, pretende fazer desse seu castigo um tempo ainda pior: e você não pode fazer nada.
É com essa premissa que o diretor Alexander Payne nos apresenta o odioso professor Paul Hunhan (interpretado por Paul Giamatti e vencedor do Globo de Ouro na categoria Melhor Ator em Comédia ou Musical pelo papel), o adolescente — também não muito agradável — Angus (interpretado pelo ótimo e estreante Dominic Sessa) e Mary Lamb (interpretada por Da’Vine Joy, também vencedora do Globo de Ouro pelo filme, na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante), a cozinheira da escola que acompanha nossa ‘dupla dinâmica’ enquanto lida com o luto do primeiro natal sem seu filho, morto na guerra.
Carregado de uma estética setentista que vai te lembrar diversos clássicos da época, como “O Clube dos Cinco” ou até o apavorante “O Iluminado”, embora no longa de 2024 não tenhamos nenhum elemento de terror. A direção de arte e o design de produção são ótimos acertos na imersão desse ambiente, que consegue ser acolhedor ao mesmo tempo que é rejeitado. A dimensão dos espaços enormes da escola fazem um contraponto com a “pequenez” dos três personagens que os habitam, reforçando o senso de solidão e isolamento ao qual eles estão submetidos.
Já o roteiro de David Hemingson e a direção de Alexander Payne também são bem acertadas, trazendo diversos elementos de um filme “antigo” para 2024: desde o ritmo não tão acelerado como imposto pelos estúdios atualmente, a apresentação de cada personagem que se dissolve no decorrer de toda a trama e suas reviravoltas são deliciosamente colocadas em tela, bem como a nuance de suas emoções.
A “dramédia“, como é apresentado, é funcional em todos os momentos, presenteando o espectador com um filme que há muito não víamos: com um roteiro robusto, um ritmo diluído, uma trama envolvente e nuances e reviravoltas que apenas o melhor da vivência e da experiência humana poderia nos proporcionar.
Mais que uma viagem no tempo, “Os Rejeitados” nos oferece uma viagem à intimidade proposta pela solidão, um mergulho na origem de problemas interpessoais e da sensibilidade humana capaz de unir pessoas e propósitos — independente de suas diferenças e de tudo que existe para desunir esses personagens.
O resultado é um filme cativante, que nos prende também na escola mas por escolha própria: é difícil desviar o olhar e querer saber de qualquer coisa que não seja a realidade dos três rejeitados — que se tornam rapidamente mais que queridos por nós.