Crítica | Papai é Pop enxerga a paternalidade com um senso de realidade

Papai é Pop se difere do mainstream e traz pautas transparentes ao cinema brasileiro

Quando vemos o cartaz ou mesmo o nome do filme Papai é Pop criamos expectativas que não serão supridas ao entrarmos na sala e cinema. O que não necessariamente é ruim e contribui para que o filme seja uma proposta ousada e jamais vista no cinema brasileiro.

Com um cartaz bem colorido e um título divertido, no primeiro momento imaginamos que será mais um filme brasileiro leve e com temáticas convencionais, como a grande maioria das obras nacionais que ganham espaço nos cinemas. Apesar de a estética do filme ser similar a desses clássicos, se passando em uma típica casa brasileira, com personagens e hábitos comuns da nossa cultura, seu grande diferencial é a temática.

Não há no cinema brasileiro mainstream (que eu me lembre) uma obra que fale tão abertamente e de maneira crítica sobre paternidade. Ver essa discussão, muitas vezes restrita a um universo da militância, que definitivamente não possui o mesmo alcance que um filme no cinema, ganhar as telas de uma forma sensível e verossímil é um dos grandes prazeres que a obra proporciona.

Sem se valer de grandes exageros, em sua dinâmica de cena, potencializada pela atuação de dois grandes talentos nacionais como Lázaro Ramos e Paolla Oliveira, a obra escancara alguns dos absurdos comuns que fazer parte da realidade das famílias brasileiras. Essa simplicidade possibilita que o espectador se identifique com a obra e trace reflexões a partir dela, algo que provavelmente não aconteceria se esse mesmo espectador entrasse em contato com essa crítica pelas redes sociais, jornais ou mesmo em uma roda de amigos.

A grande sacada então é trazer um tema que poderia soar como “lacração” ou “mimimi” pelos mais conservadores, com muita sutileza e valendo-se de uma suposta trivialidade que traz identificação. O pai ali representado definitivamente não é um grande vilão ou uma pessoa horrível, e nem precisaria, o objetivo é demonstrar como qualquer pai está suscetível a cometer erros, ainda que acredite cumprir bem com a função.

Apesar de ser uma potência, essa escolha temática reduz o público alvo do filme, que em um primeiro momento se vende como uma obra “para toda a família”. Para se envolver com as questões que são propostas é necessário que o espectador tenha uma certa maturidade, experiência ou mesmo interesse nesse tipo de discussão familiar. Apesar de “pai” ser um tema universal, esse recorte em uma produção audiovisual de quase duas horas não é capaz de prender o interesse de um jovem de 14 anos ou mesmo de uma criança.

Nesse aspecto, a divulgação do filme falhou ao comunicar uma ideia que diverge com a real proposta de Papai é Pop. Se você chegar ao cinema com seu filho criança e, levado pelo cartaz colorido e título divertido, optar por comprar os ingressos para ver Papai é Pop, provavelmente com alguns bons 30 minutos de filme, seu filho ja estará cansado. Não que a obra seja densa e de dificíl compreensão, longe disso, mas a sequência de cenas com alta carga dramática ganha disparado da carga cômica da obra, que poderia ter sido mais explorada e deixaria o filme mais narrativo e com um caráter menos “educativo”.

Ainda que essa mensagem distoante gere uma quebra de expectativa, ela serve bem ao propósito do filme de chamar toda e qualquer pessoa para assistir e assim, entrar em contato com a mensagem proposta.

Vale ressaltar também o cuidado da produção ao retratar uma família cujo pai, avó e filha são pessoas negras, alterando as circunstâncias da narrativa que são exploradas de maneira inteligente em pequenas piadas e comentários posicionados que condizem com a forma velada de criticar do filme. Além disso, temos uma trilha sonora conduzida por Emicida e a participação de alguns livros infantis, como “Amoras” e “E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas”, escritos pelo rapper, que é uma referência na discussão racial no país além de pai também.

65/100

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