Crítica | The Worst Person In The World busca o instinto em entender processos

Com uma história complexa e pura sobre entender como somos instáveis, filme se passa todo sob o olhar de uma personagem construída com primor

Você já parou pra refletir alguma vez sobre como somos instáveis? Mas já parou para pensar em como isso é só algo automático? Como a água correndo em um rio. Vendo assim, são dois instintos que carregamos conosco: o de estar muito automático e o de correr perante as variáveis que nos rodeiam. E enquanto corremos, por que não pensar em congelar tudo ao nosso redor para que possamos passar e de fato, sentir algo como deve ser sentido? Parece um pouco complicado, mas vendo “The Worst Person In The World” (ou “A Pior Pessoa do Mundo” aqui no Brasil), talvez um pouco desses ideiais ganhem roupagens mais fáceis de compreender.

Imagem: Diamond Films Brasil/AB Svensk Filmindustri/Film i Väst

De maneira geral, o filme de Joachim Trier, acompanha o quanto somos solúveis a mudanças, mas antes, de maneira beirando as entrelinhas, a brilhante produção aborda o porque disso. Diferente desse método em contar o porque, ele antes explana com ardor as consequências. E toda uma busca incessante sobre continuar e buscar por aquilo que de fato lhe move e comove, passa diante dos nossos olhos através de uma história que gira em torno de uma protagonista que se vê como coadjuvante de sua própria vida: a Julie.

Ela se vê passando diante de relação e relação, com a diferença que uma lhe marca mais que todas, e passa a entender a ideia de questionamento se de fato está feliz. Como ela pode imaginar o que é essa emoção sem antes poder ganhar e com o tempo perder, a percepção em compreender a si mesma. Essa é a constituição de um ser mais humana que eu já vi em obras de ficção (queira ou não, toda ficção é lá no fundo real), é avassaladora e angustiante em tantos níveis que toda a coisa em dado momento, se torna palpável, porque é real.

Vezes ou outra, a ideação suprema da performance de Renate Reinsve como a personagem, se assemelha a blocos que erguem alguém amarga ou até mesmo egoísta, mas é crucial entender que isso a torna um ser humano. É nessas típicas fraquezas que entendemos o nosso maior papel na Terra, o de amar.

Essa construção insana e honesta de persona pela direção de Trier, se alia com o drama agridoce mágico dentro do longa, vibrando em uma atmosfera gostosa, e também nostálgica que faz parecer que o telespectador flutue em meio a uma história que provoca e também acalma. Mediação essa que vem, por exemplo, por entre as vias do relacionamento de Julie e Aksel, que é algo explêndido de se ver; a divisão em capítulos também ajuda, além de tornar tudo ainda mais gostoso (e também duro) de se contemplar. Mas ao mesmo tempo que esse tipo de núcleo surge para acalantar, ele também provoca a discussão com veemência se a ideia e prática deles juntos desperta o melhor em compreender como funciona uma vida a dois, e ao mesmo tempo, como ela é de maneira singular.

Imagem: Diamond Films Brasil/AB Svensk Filmindustri/Film i Väst

Sob um roteiro e alinhamento de fatos marcantes que corroem aos poucos, e com todo o poder em mostrar a fraqueza e a força (ou seja, a instabilidade) de uma personagem, “The Worst Person In The World” traduz com brutalidade a aptidição do estudo em mostrar quem de fato a sua protagonista é, ou melhor, quem de fatos somos muitos de nós.

The Worst Person In The World” está em exibição nos cinemas pela Diamond Films Brasil.

Nota do autor: 100/100

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