É sempre importante a forma que a música se desenrola para com o visual — ou vice-versa; quase como instinto, o telespectador é fisgado para o que é visto em imagem, e automaticamente, é o som que acentua o ponto dessa função de atenção.
Em 2024, isso chegou num outro nível com a trilha sonora de “Rivais” (Challengers, no título original), feita por Trent Reznor e Atticus Ross, dupla à frente do Nine Inch Nails. Amplamente bombeada com extrema adrenalina, cada som feito para dar match com o cerne do longa possui presença para ser descrita como um dos melhores momentos musicais do ano.
Complementado brilhantemente pela euforia do som, o magnetismo da direção gera picos de excitação que estremecem as emoções. É como se o telespectador fosse colocado dentro da quadra para rebater as bolas conforme a pulsação da trilha feita pelo duo. Claro que, também, a sensualidade extraordinária que somente uma partida de tênis composta por Zendaya, Josh O’Connor e Mike Faist em campo foi escaldante para alçar a obra de Luca Guadagnino num dos apogeus artísticos do cinema no ano.
Na realidade, num todo, a questão que prevalece pelo projeto musical do duo é outra. O energético compilado de músicas para o filme vai tão longe que é quase como se um artista só lançasse um projeto não vinculado a uma obra. Em diferentes posições, mas com o groove sempre em repetição, o disco acentua o eurodance dos anos 90 com técnicas palpitantes, vezes com um excerto lotado de reincidências freshs. A falada “Compress / Repress“, que representa o longa nas premiações pela categoria de música original, idealiza muito bem esse sentimento nunca estático.
“Challengers“, que abre o trajeto, já induz eletricamente logo no primeiro instante a melodia pump (que se desmonta poucas vezes); seguida de “I Know“, feita sob uma melodia constantemente cortante (mas ainda espessa); a trinca inicial fecha esplendorosamente com “Yeah x10”, faixa magnética que através do uso mínimo de voz exercita uma pulsação rítmica viciante. E lá para o fim, “Challengers: Match Point” condensa tudo lindamente.
É inegável o talento que as músicas vigoram por através de um crescimento totalmente constante e elétrico (no sentido tecniquê mesmo) que amplia as margens mais dinâmicas da produção. Seja para o filme, fora dele, dentro da remixação da obra e etc, o registro musical é impiedoso. Vale também mencionar a versão remixada pelo produtor Boyz Noize, que é exacerbadamente ainda mais estilosa e divertida.
Se deixarmos o eletrônico minimalista do duo nos consumir por inteiro, é possível digerir com extrema facilidade o álbum “Challengers (Original Score)” pelo princípio como algo isolado da obra visual; indo completamente além de somente intensificar as cenas do quente trio e glorificar o tênis via sensações travessas e extremamente sensuais.