Crítica | Troye Sivan, “Something To Give Each Other”

Troye demonstra afetos irregulares, mas em um modelo de som mais intenso e maduro no sentido que se propõe no “Something To Give Each Other”

Provavelmente Troye Sivan conseguiu veicular a sua imagem para a nova fase de sua carreira musical de um modo nunca alavancado. O artista voltou para a cena com um single cativante e alá diferente de tudo que ele já tinha colocado na pista.

A atmosfera, vídeo, coreografia e o momento de “Rush” atingiram o passo certeiro para o fazer adentrar com o pé direito na nova era que trouxe o álbum “Something to Give Each Other“, o seu projeto de estúdio completo em 5 anos – não considerando o ótimo EP “In A Dream”, de 2020.

Nessa nova jornada, os sintetizadores ganham espaço para reverberarem com uma diferença imensa entre fazer dançar em tons softs e gerir coesão. Enquanto algumas faixas assumem um repertório mais baixo com pequenos tecnicismos que fazem a diferença (como aqueles 5 cliques da excelente “One Of Your Girls” que geram passos sincronizados), outras entendem sua função em fazer sentir indo de encontro aos laços humanos que ecoam, doem, causam prazer e também, solidão.

As fases de um relacionamento (ou vários) centralizam estágios de intimidade que vão desde ao genuíno ato do toque (explorado com afinco e excitação na sensacional “Rush”) até uma conversa em lados opostos do país (o tema da distância ganha centro na fofa “What’s The Time Where You Are?“).

Troye se agarra na nostalgia em um álbum que se autoafeta pelo humor de seu criador

Há uma quebra de humor pelo correr do disco genuinamente impecável. Conforme o ritmo cai, o ouvinte sente a euforia se dissipar pelo lirismo que surge entre os muitos detalhes inseridos em um número par de vezes. No entanto, parte da produção sem dúvida atenua isso de modo mais forte. Assim que o órgão de “Still Got It” entra, a aura do álbum se divide, ficando mais leve.

Em “Cant Go Back Baby”, que toca a seguir, Troye reflete sobre a nostalgia do momento que acreditava saber de tudo, mas também a nostalgia de deixar ir usando trechos “Back, Baby”, de Jessica Pratt. Em uma reflexão extremamente íntima, mas triste, a cadência de tom ganha um novo significado, principalmente pelo belo momento saudoso de todo o projeto que a faixa evoca. 

Não é como se as batidas e harmonias de todas as músicas assumissem um padrão diferente que reduza os seus batimentos cardíacos, é algo mais, além disso. O plano de fundo das faixas ganham adições de tingimentos que fazem da engenharia de produção e o enredo do álbum melhorarem seus componentes.

Tal coesão se eleva, principalmente, pela confiança de Troye em laçar uma narrativa musicalmente derivada de seus próprios achismos no “Something To Give Each Other“. Onde romance e sexualidade não colapsam, mas sim, criam um novo passo de dança. O compilado de canções permite que o artista ganhe (e muito) pela evolução já vista no álbum anterior, mas melhor; o faz erguer um título de aprendiz do pop maduro e ciente de seu crescimento gradual.

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