Celebrando o começo da primavera e os doze anos de carreira, Tulipa Ruiz lança o aguardado álbum de inéditas Habilidades Extraordinárias, cantando poesias e melodias que fazem jus ao título do álbum e à trajetória da cantora.
Sete anos após “Dancê”, seu último álbum inteiro de inéditas, e cinco anos após “Tu”, que reunia versões acústicas de músicas já aclamadas de seu repertório com algumas novas faixas, “Habilidades Extraordinárias” chegou nas plataformas digitais à meia noite do dia 23.
Em um post no Instagram, a cantora disse ter definido o título do álbum após seu irmão (e produtor) Gustavo Ruiz afirmar em uma entrevista de consulado que eles possuíam, sim, habilidades extraordinárias. A pergunta que lhes rendeu o visto para apresentações em Nova York fez Tulipa se questionar sobre tais habilidades e perceber que ela é, de fato, uma mulher de muitas dessas habilidades.
Artista, mulher, sobrevivente à pandemia e ao atual governo. Essas foram apenas algumas citações da cantora para justificar tais marcos. E completou dizendo que, no cotidiano, há muitas situações que parecem sutis e corriqueiras mas que transpassam o comum. E foi o que inspirou o álbum.
Ouvimos as faixas e parece justo afirmar que o disco soa muito como uma homenagem, uma celebração e até mesmo uma versão repaginada de tudo que há de bom em Tulipa. Com letras poéticas, instrumentações orgânicas e que versos quase enigmáticos (como os presentes na faixa hipnótica “Kamikaze Total”), a reunião de músicas muito remete ao “pop florestal”, que foi como a artista definiu seu trabalho de estreia, “Efêmera”.
Em faixas como “Novelos”, a instrumentação quase nos lembra “Víbora”, faixa de seu segundo álbum, enquanto a cantora vocaliza agudos que nos lembra até um pássaro — trazendo de volta o florestal. Os arranjos de baixo e violão e em “Habilidades Extraordinárias”, a faixa título, também quase nos leva de volta ao aconchego interiorano do primeiro disco. A letra vem como um acalento quando canta: “para aprender a olhar para o céu (…) para parar se você precisar, tudo bem”. Mais tarde, quando versa “tudo bem nunca entender, não é preciso saber, e também dá pra esquecer, tudo bem”, nos lembramos até de “Algo Maior”, faixa de seu terceiro álbum “Dancê”, mas que ganhou uma versão reconfortante no acústico “Tu”.
E se formos trazer o “Dancê” para a discussão, não podemos deixar “Acho Que Hoje Mesmo Eu Dou” de fora. A faixa presente no novo disco começa com uma bateria alucinada que muito nos remete ao disco anterior, mais especificamente à “Jogo do Contente”, uma das melhores faixas lançadas pela cantora. A faixa seguinte, “Vou Te Botar no Pau” traz uma essência rock que nos lembra algo “Dancê”, algo “Like This” – outra joia de seu segundo disco, “Tudo Tanto”. Já o refrão surpreendente muda de figura e nos dá melodias e sintetizadores mais alegres e leves, antes do frenesi dos versos nos apresentar de novo a psicodelia de Tulipa.
“O Recado da Flor”, que fecha o disco, nos leva de volta ao florestal e resume o álbum, especialmente quando a primeira frase entoada é “A flor do canto quando canta, é primavera”. Tulipa é essa flor do canto. É “quem canta e traz a primavera. A fada e a megera”, a voz doce e os vocais alucinados. “As bichas e as paqueras”. As muitas personalidades que Tulipa escancara e homenageia no disco, bebendo da fonte que ela mesma é, e se mostrando a sua melhor referência.
Habilidades Extraordinárias comprova não apenas a longevidade da discografia da artista (que se mostra atemporal, doze anos após a estreia de seu primeiro disco), mas a maturidade e personalidade da cantora impressa em todos os discos anteriores. É agora que conseguimos perceber as linearidades, a evolução e as raízes de Tulipa, que consegue nos entregar um trabalho fresco, relevante, diferente e ao mesmo tempo, tão familiar para quem a escuta desde o começo. É refrescante e inebriante, uma repaginada que afirma a constância. É bonito, poético e diferente. É Tulipa em toda sua maestria.