Crítica | Tyla, “TYLA”

Primeiro disco de Tyla faz com que a artista dê o primeiro passo para ser vista como alguém totalmente responsável com sua estética e força

Comentar sobre o domínio do gênero amapiano (composto por linhas de sintetizadores de junções do deep house, jazz e lounge music) pelas mãos de Tyla em seu autointitulado álbum de estreia é, diga-se de passagem, notório, tendo em vista como a execução aqui é contagiante; mesmo que pareça repetitiva — não pelo extenso uso, mas sim pela noção de que algumas faixas a menos faria o projeto respirar diferente.

Ainda que essa decisão técnica pareça um pouco confusa na construção do disco, é possível dizer com muita tranquilidade que o “TYLA”, debut da cantora e compositora sul-africana, consegue desenhar seu próprio percurso com uma variante incrível de esperteza.

Todo o amplo sucesso de “Water” é extremamente justificável dentro dessas uniões de especiarias cativantes e sensuais do hip hop, pop e R&B. A música mais hitada possui em todos seus componentes uma aura deleitosa e de grande autenticidade. Faz muito sentido ter explodido.

Truth or Dare” também possui as mesmas texturas técnicas, mas expandidas para fazer o ouvinte mais cantar do que dançar; fazer as duas coisas ao mesmo tempo, não é algo inédito. Em todo o corpo do “TYLA” essa é a sua maior cordialidade: gerar movimento.

Olhando para o conjunto inteiro, o background estético e técnico é muito bem aflorado. Não deixando de lado o sentimento de frescor e saltos para uma artista que merece ser vista com olhos cuidadosos, indo além de números.

É justo dizer que a subtração de talvez 3, 4 peças fariam a diferença dentro da tracklist do álbum inteiro. A digestão por um momento não iria parecer soar tão repetitiva e aquela sensação de canções ocas sem dúvida nem passaria pelo ouvinte. Mas não é como se fosse o fim do mundo não ter isso, é só pular as faixas.

Se o objetivo é fazer com que essa sensação de estar travado na mesma faixa por algumas frações de minutos é o maior perigo, pode-se ir direto para músicas excelentes como “Safer“, “To Left“, “Breathe Me” e a sensacional “Priorities“.

Indo muito além, o trajeto que Tyla percorre em seu primeiro álbum é mais que digno de uma artista completamente dentro de sua própria forma de conceber arte. Ela parece ter extremo domínio do que é colocado na pista e ainda de tudo aquilo que gira em torno de si ao mostrar sua voz para o mundo.

70/100

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