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Crítica | HAIM, “Women In Music Pt. III”

Depois de quase um ano desde que ‘Summer Girl’ foi liberada, podemos dizer: o “Women In Music Pt. III” está entre nós e não decepcionou! Inclusive estávamos bem ansiosos por aqui!

O sucessor do “Something To Tell You” (2017) vem sendo aguardado desde de julho de 2019, e após algumas mudanças de data que as irmãs Haim optaram por conta da pandemia, neste dia 26 de junho deu as caras em todas plataformas de streaming. Mas antes já tínhamos 6 faixas, vai, então tudo bem, né? O trabalho traz 16 faixas, sendo três delas bônus. E claro, inclui os singles ‘Now I’m In It’, ‘The Steps’ e ‘Don’t Wanna’ que já eram conhecidos.

E se antes o trio havia recebido algumas críticas por repetir a mesma fórmula do primeiro álbum da carreira, o “Days Are Over” (2013), neste terceiro disco, apesar da produção não fugir tanto em alguns momentos, as irmãs trazem um dos projetos mais intimistas, sofisticados e bebem mais da fonte do rock clássico e até mesmo com uma pitadinha de country. Encontrando novas direções e lugares. E claro que, como o trio gosta de enfatizar sempre que aprenderam desde cedo a tocar bateria com o pai, tem sim muito ritmo.

Quem assina a maior parte da produção é Danielle Haim. Com ela, estão também o namorado Ariel Rechtsaid (já trabalhou Adele e Vampire Weekend) e Rostam Btmanglij (produziu Frank Ocean e Carly Rae Jepsen), os dois já velhos conhecidos. 

Desta vez, elas contam que teve muito mais o dedo de Danielle do que nos trabalhos anteriores, o que fez com que o disco ficasse ainda mais com a identidade delas.

O título “Mulheres Na Música” é descrito como uma brincadeira e ironia à uma pergunta bem recorrente que elas recebem em entrevista: “Como é ser uma mulher na música?”. Perspicazes, na capa estão em uma lanchonete local onde já fizeram show bem no início da carreira, com um monte de salames e prontas para atender qualquer freguês que chegar. 

Como toda obra do trio, traz canções com aquele “feeling ensolarado” e um certo estilo Shania Twain, mas com uma particularidade bem importante. Muita coisa aconteceu na vida das irmãs, Danielle, Este e Alana Haim. Crises de ansiedade e estresse por conta de “pensar demais no que deveriam seguir musicalmente”, quadro depressivo pós-turnês, um diagnóstico de câncer do namorado de Danielle… enfim, muita coisa!

Então tudo começou com a composição de ‘Summer Girl’, que foi abrindo caminhos para a criação do álbum. O que é mais terapêutico para um artista do que colocar tudo para fora em forma de arte, né?

O disco parte de um lugar sombrio, trazendo à tona que elas realmente não estavam bem. Porém, com uma sutileza muito característica do grupo. Em nenhum momento nos bombardeia de problemas, e sim, com um conteúdo de fácil identificação para aqueles dias que estamos mal, mas sabemos que temos que seguir em frente e melhorar.

Já vemos isso logo com o abertura “ensolarada” de ‘Los Angeles’. O saxofone, novidade até então nas produções do grupo nos remete a uma vibe ‘LDN’ de Lily Allen e um clima cinematográfico de se imaginar em um filme andando feliz pela cidade. Porém, a letra já começa com um “Los Angeles, me dê um milagre, eu só quero sair disso” e fica bem melancólica em alguns momentos como: “Estou quebrando, perdendo a fé”.

Uma das apostas mais certeiras do trabalho, sem dúvidas, é com a tracklist que mescla diferentes moods e assuntos, deixando mais leve. Vemos muito bem como isso foi bem executado com a segunda faixa, ‘The Steps’, que quebra um pouco a melancolia da canção anterior e nos traz empoderamento, logo de cara um dos momentos mais poderosos do disco. Aqui temos um mescla do garage rock, influências de Twain e até do próprio estilo HAIM. Com certeza entraria em um trilha de filme fácil! “E todo dia eu acordo e ganho dinheiro para mim mesma. E embora dividimos uma cama, você sabe que eu não preciso da sua ajuda. Você entende?”

Como contraponto, novamente, vem a já conhecida ‘I Know Alone’. Dançante, um “clássico HAIM”, pop e empolgante. A música foi inspirada na trilha sonora do filme “Trainspotting” (1996), e mesmo sendo escrita bem antes da pandemia, fala: “Faz alguns dias desde que saí. Chamando todos os meus amigos, mas eles não atendem”. Ganhou um clipe feito na quarentena com direito a dança que segue essa vibe e tudo! 

Retornando ao rock mais clássico, o bocejo anuncia ‘Up From A Dream’, uma aventura por um sonho. Apesar do solo de guitarra ser o protagonista em alguns momentos, a faixa não é um dos grandes destaques. Da mesma forma que as influências funk de ‘Gasoline’ não encanta logo de cara. Mas aqui, o refrão ganha força e uma vibe sensual, que combina muito bem com a letra, praticamente um poema cantado: “Estamos assistindo o nascer do sol no balcão da cozinha. Quando você fica entre minhas pernas, não importa”. Em seguida, uma ligação convidando para sair nos mostra a canção ‘3am’, que remete à uma estética bem vintage, swingadas e aquele temperinho R&B. É um dos pontos experimentais da obra e com certeza é aquela “ame ou pule”.

O ritmo do álbum é retomado em ‘Don’t Wanna’, último single divulgado pelo trio, se tornando um dos auges do projeto. Muita bateria, sintetizador e no último refrão, um coral bem poderoso. Mais voltada para aquele lado de letras mais românticas, elas não querem MESMO desistir de alguém. “Eu não quero, não quero. Bem, nós dois temos noites acordando em camas de estranhos, não quero desistir”.

Seguindo com ‘Another Try’, pela batida e letra repetitivas, tinha tudo para ser apenas um filler. Mas passa longe disso, colocando-se como uma das mais diferentes do trabalho, trazendo muito do oitentismo e um ar tropical. Se na faixa anterior elas não queriam desistir, aqui repetem: “Então, vamos tentar outra vez?”. Representando um pouco do country, ‘Leaning On You’ traz novamente o lado mais sensível das horas em que se sentem sozinhas e fracas, o que realmente combina com a produção da música.

‘I’ve Been Down’ é um outro grande destaque, onde o grupo conseguiu juntar realmente todas influências que permearam o álbum em apenas um faixa. Aqui é escancarado de vez que elas não estavam bem: “Porque eu não posso me reconhecer agora. E estou recusando ajuda. Você pode me tirar daqui?”.

‘Man From The Magazine’ é curta e rápida, com um violão bem marcante. Com apenas 2:07 elas contestam a sociedade: “O que resta para provar?”. Destoando um pouco, ‘All That Ever Mattered’ traz elementos bem experimentais e talvez por isso em alguns momentos fique poluída, ainda mais com os gritos no refrão. Com uma sigla para representar a expressão “f*cked up, but is true” (“ferrada, mas é verdade” em português), ‘FUBT’ de início parece ser uma ‘The Steps’ 2.0, mas mais sentimental, românticas e acordes bem característicos da canção.

‘Now I’m In It’ larga de mão os solos de guitarra para retomar os sintetizadores e criar um ambiente até mesmo meio “disco à la Robyn”. É um das produções que aparenta ser mais complexa, com direito a uma queda de tom, onde tudo fica calmo e de repente volta com toda força. 

Eis então que o ritmo fica um pouco mais lento para as influências country de ‘Hallelujah’, e apesar de ser uma balada super intimista, é de longe a mais radiofônica e comercia do disco. Vocais poderosos recitam momentos de gratidão por terem umas às outras, amor, perda e agradecimento por tudo. Inclusive, Alana faz um tributo à melhor amiga que perdeu para uma cidade de carro há alguns anos e que a deixou em um estado depressivo.

“Tem sido assim desde ’95. Me dê uma direção quando for difícil lutar. Três estradas, uma luz. De vez em quando eu posso apoiar minhas costas nas suas”.

Para fechar o álbum, temos ‘Summer Girl’, ironicamente a primeira composta para o projeto e que deu a luz para todas as outras virem. O saxofone e o começo com “LA na minha mente” nos remetem à primeira faixa, o que podemos dizer que foi uma sacada e tanto, de começar e encerrar o trabalho do tal jeito ensolarado:

“Os medos dentro do seu coração tão profundos quanto os cortes. Ande ao meu lado, não atrás de mim. Sinta meu amor incondicional”.

Claramente vemos uma tentativa bem sucedida das irmãs de experimentar o que poderiam fazer, sem dar tanta importância para o que as pessoas esperavam delas. Assim, puderam sair um pouco da aproximação pop-rock e até mesmo Taylor Swift, para fazer um disco mais pessoal. E mais do que isso: dispostas a arriscar.

Prova disso é a organização da tracklist, um tanto que ousada sonoramente, já que em algumas horas parece revezar em “rock, mais pop, country, rock, mais pop, country”. Porém, é isso que traz um balanço e enfatiza as individualidades de cada canção. Além de amarrar canções tão diferentes e mostrar o que “essas mulheres” podem fazer na música. É a perfeita descrição de disco atemporal que encontrou caminho entre a fluidez sonora do potencial que suas criadoras têm a oferecer.

Nota do autor:
80/100

Ouça “Women In Music Pt. III” da HAIM:
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