Crítica | (Des)encanto: Parte 3 foca muito no humor ácido e pouco na história

Morta na fogueira? Não! Desta vez foi por pouco. Mas mesmo assim, Beanie e seus amigos estão preparados para novas aventuras

Após longa espera, Matt Groening sacia nossa fome pelas novas aventuras da princesa Bean e seus dois amigos Luci e Elfo pelo reino não tão encantado de (Des)encanto. Desta vez, a princesa que antes fora queimada na fogueira (pelo menos é o que os moradores da Terra dos Sonhos pensam) sai em jornada para provar sua inocência, lutar pelo reino e salvar seu pai.

De volta a vida

Anteriormente, após uma usurpação de poder planejada por Ovaldo e a Arqui Druidesa do reino, Bean é acusada de ter assassinado o rei, por conta de um disparo acidental ocasionado por ela, com uma arma conseguida na Terra das Máquinas (lugar muito distante e com conhecimentos científicos o suficiente para produzirem tecnologia). Devido a isso, ela é condenada ao julgamento na fogueira, já que os habitantes não conheciam a tecnologia por trás da arma e achavam que aquilo seria fruto de uma bruxaria. O plano da errado e a princesa é salva por sua mãe, que mora agora numa sociedade subterrânea juntamente com seus habitantes: os Trogs.

E muito além de querer provar aos habitantes da Ilha dos Sonhos que não é bruxa e não estava por trás do plano de destronar seu pai, nesta nova temporada Bean terá que lidar com sua mãe. A Rainha Dagmar diz ter se arrependido de tudo aquilo que fez contra sua filha no passado e que, portanto, quer o perdão dela. E muito mais: quer viver junto de sua filha, esquecendo do passado. Mas será que isso tudo é verdade? É claro que não!

 Perdoada pelos seus crimes

Depois de ser dada como salvadora da nação Trog, juntamente com seu trio; e de três episódios de um protagonismo nunca dado antes ao príncipe Derek (protagonismo não muito forte, já que o garoto era uma simples marionete de Ovaldo e da Arque Druidesa). Bean retorna ao reino juntamente com seu pai. O rei Zog foi enterrado vivo por aqueles que planejavam sua queda, e nesse processo todo acaba ficando louco. Derek então, como última ação do seu protagonismo, perdoa todos os crimes já cometidos por sua irmã. A coroa volta ao rei e o protagonismo do jovem príncipe acaba ali.

As sátiras dessa passagem são incrivelmente bem trabalhadas: Derek insiste em transformar o reino em uma Utopia socialista (o maior fantasma de todo extremista) e sempre é ignorado por aqueles que lhe fazem de marionete; conforme as novas declarações um tanto quanto conservadores do pequeno rei, surge o logo “Make Dreamland Great Again” na porta do castelo. E no final, quando Bean é perdoada,

“Mais uma vez a garota rica e branca se safou”

– Luci comemorando os perdões da princesa Bean

Unindo a Magia com a “Citência”

Perseguindo a Arqui Druidesa que foge em uma moto, Beanie parte rumo à Terra das máquinas. Lá ela conhecerá a rotina dos trabalhadores fabris, bem como a origem do vapor e um (nem tão) magnífico show de aberrações. Nessa parte dois romances surgem na vida da protagonista: seu “amigo” de fábrica Gordy e a sereia Mora. Aqui a princesa descobre que na realidade foi atraida para lá, pelo puro interesse de Alva (que se disfarça de Gordy para se aproximar dela) na magia da Terra dos Sonhos. Obviamente, a garota fica assustada por pensar que não existe magia no seu reino, muito menos com ela; mais tarde ela descobrirá que isso não é verdade.

A maior sacada dessa parte é a crítica ao trabalho nas fábricas, com foco maior numa época semelhante a da revolução industrial, no nosso contexto histórico: a rotina cansativa e frustrante, a falta de humanidade, entre outros. 

“Cara, os apitos te controlam mesmo”

– Beanie, ao descobrir que os funcionários são guiados por apitos nas fábricas

O Rei pirou de vez

Zog está completamente maluco nesta temporada nova. O rei só sabe rosnar e se esconder; e isso tudo porque foi vítima de um golpe planejado por tempos pela sociedade secreta do Reino dos Sonhos. A nova condição do rei implica em dois atos: primeiro, a aproximação de Bean com sua madrasta Oona, ambas com o objetivo de buscar a melhor do rei; em seguida e muito mais importante, a ascensão de Bean como Rainha. E é assim que termina a terceira parte da série

“Uma Oona poderosa pode ajudar uma Bean no futuro”

– Oona ao partir de volta para sua vida de pirata

A nova temporada de (Des)encanto está muito bem trabalhada naquilo que faz de melhor: humor ácido e sátiras da sociedade. Porém, parece que o foco maior está justamente nisso e não na conexão tão importante entre os episódios (parece até mesmo que esse ponto tão importante foi deixado bem de lado). O final, embora seja esclarecedor, deixou muitas pontas soltas (o que eu espero que sejam finalmente fechadas na próxima parte 4, já que ficou claro que haverá mais uma). 

Portanto, se você é como eu que adora as obras do Matt Groening, independente do rumo que suas histórias seguem, vale muito a pena assistir.

Assista (Des)encanto na Netflix.

Nota do autor: 70/100

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