Dirigido por Aly Muritiba, o longa metragem Deserto Particular trouxe para o catálogo do cinema brasileiro mais uma narrativa de grande sensibilidade em sua apresentação com bastante representatividade cultural.
O filme conta a história de Daniel (Antonio Saboia), um policial exemplar que, ao ter sua carreira e honra comprometida por um erro de seu passado, decide mascarar a sua vida conturbada com a busca implacável por um amor platônico. Sara, vivida por Robson dentro do filme (Pedro Fasanaro), é sua grande paixão e motivação para encarar os tempos difíceis daquele período em sua vida, só que existe um problema: eles moram em diferentes estados.
A desconstrução em sociedade é um processo de aprendizado para aqueles que vivem dispostos a compreender tamanha complexidade da vida e das relações. Em tempos caóticos e pandêmicos, Deserto Particular é uma fuga inesperada no meio de uma tempestade de emoções conturbadas que se carrega pelo — um tanto arrastado mas que não se fez cansativo, roteiro original de Aly Muritiba e Henrique dos Santos, que te faz torcer e se contorcer à cada segundo com o sabor da curiosidade e o medo de que algo possa dar errado na misteriosa rota traçada pelos sentimentos de Daniel por sua amada.
O longa também contrasta os diferentes estilos de vida de ambos protagonistas — como a dupla enfrenta problemas desiguais e mesmo assim têm seus caminhos cruzados com um único propósito, a pureza de um amor capaz de atravessar qualquer fronteira. Mesmo com seu final feliz e satisfatório, ainda deixa um gostinho de quero mais para aqueles que, assim como nós, também se engajaram e muitas vezes se viram desesperançosos nessa trajetória da vida.
O drama se desenvolve na tentativa de criticar uma sociedade patriarcal que, por sua vez, marginaliza membros da comunidade LGBTQIA+ e, acaba surpreendendo com sua construção perfeitamente estruturada do começo ao fim, conduzida com uma leveza sensível, emocionante e fora do habitual.
Deserto Particular é uma montanha russa repleta de altos e baixos — mais altos do que baixos —, que ao longo do filme te distanciam ainda mais de um final provável, se mostrando aos poucos o que logo entendemos como uma excêntrica e essencial produção para o catálogo do cinema nacional. Um belíssimo e delicado filme, repleto de aprendizados direcionados aos jovens adultos que possam se identificar com a história de vida dos protagonistas e encontrar coragem em suas próprias raízes e perceber que, mesmo com a amena falta de escolhas, sempre existe um caminho a ser seguido.
O longa foi uma das cotações do Oscar 2022 para concorrer na categoria de “Melhor Filme Internacional” representando o Brasil, mas infelizmente acabou não sendo aprovado durante a pré-seleção da Academia. Porém, você pode apreciar essa obra diretamente do catálogo brasileiro da HBO Max.
