Talvez você ainda não tenha ouvido falar de Rachel Chinouriri, mas confia em mim: ainda vai. A britânica, que vem conquistando cada vez mais espaço no cenário indie-pop, é também recente no gosto de um dos maiores públicos do mundo: o brasileiro. E o mais curioso é que esse amor nasceu nas redes — nas replies lotadas de gente chamando, com toda a intensidade que só o brasileiro tem, pra ela vir ao país. Deu certo (obrigado WMAIS!) Tanto que Rachel, que abriu os shows da Short n’ Sweet Tour da Sabrina Carpenter lá fora, abriu também um espacinho na agenda só pra vir aqui e retribuir o carinho pessoalmente.
O encanto dela pelo Brasil é recente, mas totalmente compreensível. Sabemos demonstrar afeto como poucos — e sabemos reconhecer quando um artista genuinamente se importa. Rachel sempre foi muito acessível no X (antigo Twitter), respondendo fãs, interagindo, aparecendo por lá como quem realmente está afim de criar conexão. Foi assim que o público brasileiro a descobriu. E como era de se esperar, o “come to Brazil” virou realidade. No última quarta (1), ela subiu ao palco do Cine Joia, com ingressos esgotados com antecedência.
Ela chegou por aqui do melhor jeito possível: ouvindo Zeca Pagodinho e provando de tudo — feijão, acarajé, paçoca, doce de leite. Consegui conversar rapidamente com ela antes do show e perguntei sobre essa imersão. Ela riu, disse “essa não é pra mim, mas é definitivamente interessante” sobre o doce de leite, “é muito doce”, e completou contando o quanto ama explorar culturas diferentes, principalmente na música. “A música brasileira é extremamente rica e divertida, ainda estou descobrindo mais sobre isso”, me disse — e a prova veio minutos antes do show, quando ela colocou “Deixa A Vida Me Levar” para tocar momentos antes de subir ao palco, arrancando gritos de quem já esperava por ela na pista. Brinquei dizendo que vou enviar uma playlist especial a ela, “oh, isso seria ótimo, agradeceria isso”, comentou.


Quando as luzes se apagaram e “Garden Of Eden” começou, faixa que abre o What A Devastating Turn of Events, Chinouriri entrou enrolada numa bandeira do Brasil. E ali já dava pra sentir que o show seria uma entrega mútua. Seguindo com “Cold Call” e “My Everything”, ela colocou o público em estado de euforia. A setlist era parecida com a que vinha fazendo lá fora, mas aqui tinha algo diferente — um calor, uma espontaneidade que só a troca com o público brasileiro proporciona.
Entre uma música e outra, Rachel interrompia o set para mandar um “eu te amo” sincero e cheio de sotaque. E, claro, o público devolvia com o clássico “gostosa! gostosa! gostosa!”, deixando a cantora rindo e visivelmente sem graça. Era um show, mas também uma grande conversa.
Um dos momentos mais fofos da noite foi quando Rachel pediu que a plateia cantasse “parabéns pra você” pra sua melhor amiga, que a acompanha na estrada. Ela começou em português e deixou o público seguir — um caos encantador e genuíno. Mais tarde, durante “23:42”, as luzes do Cine Joia se transformaram num mar amarelo de lanternas, ideia da página de fãs brasileira que organizou a surpresa. A reação dela? Choro, emoção e um sorriso daqueles que a gente sabe que são sinceros.

Musicalmente, o show é um equilíbrio bem executado entre força e vulnerabilidade. De momentos intensos como “The Hills” a outros mais delicados como “So My Darling”, Rachel segura o palco com naturalidade e presença, o que é impressionante pra alguém com tão pouco tempo de estrada. Em “Can We Talk About Isaac?”, a energia beirava o êxtase coletivo; em “All I Ever Ask”, já dava pra sentir aquele ar de encerramento, mas o clima era de gratidão, não de adeus.
Ela encerrou com “Never Need Me”, também do What A Devastating Turn of Events, descendo para o meio da plateia, transformando o fim do show numa catarse compartilhada. A despedida deu lugar para uma celebração em conjunto que se transformou em um “até logo”.É bonito quando um artista realmente entende o Brasil. Entende os fãs brasileiros, em específico. É incrível notar um afeto genuíno. Podemos ser intensos, caóticos e barulhentos, mas é justamente essa energia que torna nossa devoção única. E nem sempre isso é compreendido, quiçá retribuído — mas ali, com Rachel Chinouriri, foi. Ela se entregou de corpo e alma, e a gente respondeu à altura. Se esse foi só o primeiro encontro, espero que seja só o início de muitos.