Crítica | Eu Nunca… foge da curva com excelência em seu segundo ano

Carregando durante os episódios os mesmos problemas da temporada 1, os novos capítulos apontam uma obra rica, autêntica e sem medos.
NEVER HAVE I EVER (L to R) MEGAN SURI as ANEESA, MAITREYI RAMAKRISHNAN as DEVI VISHWAKUMAR, and RAMONA YOUNG as ELEANOR WONG in episode 204 of NEVER HAVE I EVER Cr. ISABELLA B. VOSMIKOVA/NETFLIX © 2021

Não é mistério dizer que a maioria das produções de hoje relatam um tipo de adolescente que só faz sentindo nos mais profundos sonhos. Vidas regadas a sexo, luxo, festas e afins que definitivamente não põem em tela como é ser jovem. Há certa afinidade em dizer que é pra gerar um afastamento com a realidade, mas o que essas obras perpetuam é errado. E o que elas não sabem é que dá pra colocar em foco histórias retratando a jovialidade como ela é: complicada.

Na segunda temporada de “Eu Nunca…“, o objetivo pelas entrelinhas é um retrato sobre como é difícil ser adolescente. Passamos pela fase da descoberta, dos amores, e outras contradições que nunca saem de cena, mas parece que ao ser jovem, a situação toda tem um peso maior. Nos novos episódios por exemplo, Devi passa por uma discussão interna sobre ser perfeita, que é perpetuada com excelência pelo roteiro quando a questão é na verdade ser perfeita aos olhos dos outros.

No novo ano da série, a protagonista acha que é uma ideal genial levar um relacionamento com Paxton e Ben ao mesmo tempo, isso não curiosamente nos leva aos enfrentamentos da mesma gama de problemas que movimentaram o ano de estreia. Porém, aqui há sem dúvidas uma profundidade maior que torna a leva de episódios uma das melhores coisas do ano. Não só pela escrita de Mindy Kaling, mas também por todas as vertentes que fazem da obra ser única ao relatar como é estranho crescer.

Errar é humano, aqui mais do que nunca

Desde a temporada anterior, é altamente claro que Devi é complexa. Se analisarmos o conjunto que a torna uma personagem na maioria das vezes irritante, seria algo raso. Ela é unicamente uma adolescente rodeada de circunstâncias que erradicam suas qualidades e seus defeitos.

E ao fugir de toda uma obvialidade que seria justamente ideal para fermentar a curva que a maioria das obras aí fora seguiriam, a série apresenta algo extraordinário. São as histórias de fundo, as problemáticas, e as resoluções tomadas nessa temporada que elevam toda a coisa para um outro patamar. O arco do triângulo amoroso por exemplo, se desconstrói rápido, mas é logo levado adiante para colocar em prática abordagens únicas.

E novamente Maitreyi Ramakrishnan soa incrível ao responder todos os dilemas com pontualidade. Ela é na maior parte do tempo uma menina inquieta e contraída. E o seu papel, analisando de maneira técnica, funciona muito com tudo que está a sua volta.

Divulgação: Netflix (2021)

Os secundários ganham uma participação maior e que responde ao que é posto no gráfico. Nalini ganha um arco ótimo que eleva a sua trajetória e participação na vida da filha. Para Kamala, o mesmo acontece e ela possui nos novos capítulos, um dos dilemas mais interessantes e que reforçam discussões excelentes. A estratégia de colocar uma mulher e não um homem como um gênio da ciência, é algo a ser muito valorizado e que precisa ganhar mais destaque numa futura temporada.

Para os outros nomes: os problemas que cercam a saída do armário da Fabíola são redondos e acrescentam; o desenvolvimento solo de Eleanor é caricato, assim como a personagem, que serve doses de humor certas e rápidas; a avó aparece, mas não sobrecarrega a trama; Aneesa no tempo que ganhou espaço, mostrou-se através de uma ótima montagem, viva e equilibrada em suas próprias pavimentações.

Ben ao ganhar foco nos outros episódios, aparece aqui pelas beiradas e agora são trabalhada adversidades com Paxton, onde há toda uma descontrução em ser o garoto bonito que nunca imaginou ser enganado por uma garota. Essa percepção é deixada de lado para tratar a diagramação do personagem não apenas em ser ideal para Devi, mas sim, para a sua própria construção.

São os estudos variados sobre complexidades distintas que fazem dessa temporada (e agora da série), uma das melhores da plataforma de streaming. É extremamente reverente ver que ao passar por inúmeros problemas e tentar resolvê-los, a protagonista causa mais problemas, e isso faz parte do seu processo de amadurecimento. Não é como se apenas ela estivesse suscetível a isso, é algo universal. Parte do crescimento é e sempre será doloroso, a gente só as vezes não tem noção disso.

O humor, o conforto que agora se evoca por todos os lados por já conhecermos melhor os personagens, todo o posicionamento de peças e a degustação rápida e deliciosa dos episódios dessa temporada de “Eu Nunca…“, dispõem no prato uma produção revigorante de se acompanhar.

Assista a 2ª temporada de “Eu Nunca…” na Netflix

Nota do autor: 95/100

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