Getúlio Abelha faz do forró um movimento

Criando um som que verbaliza o gênero forró como um movimento sobrenatural, Getúlio Abelha faz seu próprio ritmo

Humor e música são palcos extremamente difíceis de fazer a menor conexão qualquer, sendo, quase que inexplicáveis quanto juntos: por que unir esses caminhos tão distintos? Não só parece uma atitude corajosa, como também é uma ideia de virar o avesso.

Por essa razão (isso definitivamente não serve como uma desculpa), é um pouco confuso dar de cara com o trabalho de Getúlio Abelha logo de cara. Ele vende essa junção dos dois mundos com a certeza de que o que está sendo colocado em prática é além de divertido, bem feito. E o ótimo resultado é nitidamente visível.

Primordialmente, suas músicas vestem-se entre 2 faces. Da mesma forma que o artista parece consumir algumas referências internacionais para realizar canções agitadas, é sem dúvida o sangue brasileiro que faz seu trabalho ficar nervoso. O forró ganha o momento de ser digno de um altar em faixas que exaltam com uma beleza insanamente deliciosa um dos maiores ritmos brasileiros.

Getúlio Abelha tem e mixa forró com

Ainda por cima, ele distorce toda a questão heteronormativa que o gênero “tem” em ser “exclusivamente masculino”, onde a falta de espaço para abraçar qualquer que seja a diferença ganha palco para ser o que mais faz suas músicas viverem. Hoje, muitos sabem o quanto o movimento é o responsável por artistas tão gigantes na cena brasileira, sem contar que foi e ainda é a memória afetiva de uma grande parte comunidade LGBTQIAPN+ dentro de casa, é aqui que isso resplandece com orgulho.

Sob o mesmo ponto de vista, fica claro como Getúlio fez parte desse espaço e como ele cria uma homenagem rica, divertida e claro, ajeitada com imenso carinho, gerando mixagens e distorções com reverberações excelentes em um tipo de forró elétrico nunca misturado; que de modo algum deveria passar despercebido por aqueles bons apreciadores de produções que dão vida a um artista original.

Eventualmente, é sim necessário dar uma mínima abertura para o som de Getúlio chegar ao coração do ouvinte, já que de várias maneira, suas obras escalonam agilmente para serem mais dançantes do que sentidas.

Entretanto, há exceções. Como a melosa “Sinal Fechado”, com um clipe espetacular, que vende com a mão no peito aquela sensação doída de estar no forró e lembrar dos momentos de afago e mão na coxa. No que se diz remorso e dor, essa é provavelmente sua melhor música.

Como um ótimo jeito de se sintonizar no que o artista quer mostrar ao mundo, é de extrema valiosidade passar por “Tempestade“, “Perigo“, “Tamanco de Fogo“, “Voguebike” (que tem uma virada quase sanguinária para um rock caprichado) e “Cavalo Corredor“, ou seja, basicamente o “Marmota“, seu único álbum, inteiro.

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Getúlio Abelha toca no sábado, 02 de dezembro. Mesmo dia dos headliners The Killers e Pet Shop Boys.

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