Lançado em abril, Skeletá é o sexto álbum de estúdio da banda de rock sueca Ghost. O grupo é liderado pelo cantor e multi-instrumentista Tobias Forge, que está por trás de toda a identidade visual misteriosa e sonora que fazem parte da estética da banda. Ao longo dos anos Ghost sempre teve uma figura visual em tom religioso representada à frente dos vocais, todos eles Papas, e em Skeletá não seria diferente, pois aqui temos o Papa V, Perpetua.
Apesar de uma estética sombria e metaforicamente satânica, o som dos suecos fica bem distante do que sua identidade visual apresenta. Skeletá, inclusive, pode ser considerado como um álbum de hard rock e pop rock, recheado de ritmos dinâmicos, sintetizadores e solos de guitarra que te transportam diretamente para os anos 80.
Aqui há 10 músicas que se decorrem ao longo de 46 minutos. Para promover o disco, a banda iniciou a chamada Skeletour, que consiste em várias datas ao longo de diversos países ao redor do mundo e, segundo consta, celebrará suas “produções ao vivo mais espetaculares”, bem como a “mais ambiciosa sequência de sua carreira”. Um ponto polêmico envolvendo a banda e esta turnê foi o da proibição de celulares nos shows, para que o momento seja 100% aproveitado e marcante para todos que comparecerem.
Forge é uma das grandes mentes brilhantes da nova geração do rock mundial e isso já fora provado nos trabalhos anteriores do Ghost. Entretanto, em Skeletá, podemos ver o auge criativo e sonoro do líder do grupo, que esteve envolvido diretamente em todas as 10 faixas do disco, tocando vários instrumentos e apresentando vocais limpos e totalmente agradáveis de se escutar.
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Antes de detalhar faixa a faixa do disco, vale destacar uma curiosidade: a banda anunciou três singles para o lançamento do álbum — “Satanized”, “Lachryma” e “Peacefield”. As faixas, curiosamente, ocupam as posições 3, 2 e 1 na tracklist, configurando uma contagem regressiva planejada para a chegada do novo trabalho. A estratégia reforça o controle criativo de Tobias Forge sobre o projeto.
“Peacefield”, faixa de abertura do disco, inicia com um coral de igreja marcante, seguido por um solo de guitarra instigante. Em seguida, entra Tobias Forge — ou melhor, Perpetua, seu alter ego nesta era —, com vocais que já indicam a atmosfera que o álbum irá explorar. Segundo o próprio vocalista, a canção funciona como um “espaço de conforto” antes de mergulhar em temas mais densos. O refrão — “Your love, bright as the starlight, oh, child, still we can see, a black moon, over the peacefield, oh child, stay close to me” — é memorável e cumpre bem seu papel. Uma excelente escolha para abrir o álbum.
Em seguida, “Lachryma” chega com um baixo muito bem situado — algo que se repete em algumas faixas seguintes do álbum. O refrão aqui lembra músicas de bandas como Bon Jovi, principalmente pelo vocal e teclado marcados em sintonia. “Satanized”, terceira faixa, traz um ritmo animado e contagiante, sobretudo pela forma como o baixo é tocado. Aqui, temos versos em latim que contemplam muito bem a estética sonora e visual da banda.
“Guiding Lights” é a quarta e melhor faixa do disco. Nela temos uma balada poderosa que aborda a dificuldade de alertar alguém próximo sobre um caminho destrutivo sem comprometer o relacionamento. A faixa combina elementos de hard rock tradicional com uma carga emocional intensa, refletindo o tom introspectivo do Skeletá.
“De Profundis Borealis” quebra o ritmo calmo da faixa anterior — a bateria aqui te joga para o alto, extremamente animada. Ótima faixa, com elementos instrumentais muito bem explorados, como o piano e um solo de guitarra excelente ao longo da música. A transição para a sexta faixa, “Cenotaph”, é limpa, com um pequeno fade-out seguido de um breve coral. Esta canção é claramente inspirada em músicas e bandas que fizeram sucesso nos Estados Unidos nos anos 80 — aquele clássico rock de filme americano. Não é uma faixa ruim; no entanto, destoa um pouco do restante do disco que tende a caminhar em direções contrárias. A mistura de sintetizadores com solo de guitarra não combina. “Missiilia Amori” traz um aspecto já visto em momentos anteriores: o baixo se destacando entre os instrumentos e o vocal — além de conter o melhor solo de guitarra do disco.
“The Marks of the Evil One” é uma faixa ímpar — aqui, a junção de sintetizador e solo de guitarra estão em plena sintonia. Além disso, há, durante toda a faixa, a presença de um teclado muito bem posicionado. A faixa seguinte, “Umbra”, contém elementos diferentes, como o tambor. Os instrumentais desta remetem referenciais já ouvidos em Rush e até Journey.
A última música do álbum Skeletá é intitulada “Excelsis” e é uma balada que aborda temas como mortalidade, transcendência e a busca por paz espiritual. Tobias Forge comentou para a Metal Hammer, revista mensal que circula no Reino Unido que, embora a música tenha uma temática centrada na morte, a mensagem principal é que se você está ouvindo isso, está vivo — e deve viver a vida da forma mais eficaz possível, pois a morte é, afinal de contas, inevitável. A faixa também serve como uma metáfora para o encerramento do disco, e até como um ponto final na banda sueca. Carregada de um peso emocional, “Excelsis” pode até ser considerada o trabalho mais emocional de toda a carreira do Ghost até o momento — e encerra o disco de forma estonteante.
Ghost apresenta, em Skeletá, um trabalho incrível que só comprova a genialidade sensorial de seu líder. Composto por faixas com letras que falam sobre o espiritual, o pós-vida e outros temas que, para quem está de fora, podem parecer impossíveis de encaixar na sonoridade, aqui a banda arremata tudo isso em algo sensorialmente bem curado.