Crítica | JoJo, “good to know”

A sensação de finalmente ter controle da própria carreira é a melhor coisa que qualquer artista pode sentir, principalmente quando comportamentos clássicos da indústria musical ainda existem. Levou muito tempo para que JoJo conseguisse isso, mesmo tendo assinado seu primeiro contrato quando tinha apenas 12 anos de idade. Toda a questão sobre as razões e a dificuldade nesses anos foram faladas com honestidade em um mini-documentário para o canal da UPROXX. Mas um fato a não ser rebatido é sobre o talento da cantora, e sua própria noção disso é o que a fez persistir tanto para finalmente lançar algo que ela queria sob seu controle.

Mas esse não é o grande retorno… o álbum de 2016, ‘Mad Love.’ serviu para isso. Mas devido a outros problemas com gravadoras o processo acabou se mostrando um tanto quanto apressado, apesar de não ter atrapalhado quanto a competência do disco. Dessa vez, em ‘good to know’ ela tinha a calma que precisava para mostrar que ainda pode ser relevante na música. E ainda pode, prova disso é ainda ser lembrada por hits antigos e ter conseguido dar a volta por cima em disputas judiciais cansativas. Mas infelizmente, o resultado não é bom.

Mesmo cantando sobre problemas atuais, é difícil para JoJo ir além e produzir letras que não soem como se feitas no começo da sua carreira.

Um ponto positivo é abrir o trabalho com uma das melhores faixas, “So Bad” emula vocais que só ela poderia trazer, mas tropeça na breguice da letra que começa destemida falando sobre ejaculação precoce, só para depois cair em um conto de amor clichê o bastante para fantasiar a cantora em um cosplay de Carmen Sandiego noir. A produção sensual salva a composição tempo bastante até o ouvinte se arrepender de entender a língua inglesa.

Se “Pedyalite” fosse feita como um produto certo para bombar nas paradas ela se sairia um sucesso. Cantar sobre beber a noite inteira é um clichê suportável, mas aqui o gosto é amargo, pois soa como uma cover acústica de algum sucesso produzido por Max Martin. É uma surpresa saber que a produção aqui é assinada por Lido, produtor que esbanjou criatividade trabalhando com Halsey. Mesmo assim, é importante lembrar que JoJo teve problemas com alcoolismo, então a letra é uma sincera retratação de como sua vida andava. Ela ganha pontos pela outro da canção e honestidade, mas mesmo falando de algo tão real e pessoal, acaba transformando sua ‘Pedyalite’ em Dramin.

O mais difícil para o projeto é fugir dos clichês, cantar sobre amores que de tão fortes se tornam ‘ouro’ já foi feito diversas vezes. Em “Gold” ela faz isso, e apesar do resultado não ser algo ruim, também não traz nada de novo. Cabe aos vocais tentar trazer algum tipo de diferencial a melodia, e isso é muito bem feito. Criticar sua voz é muito difícil, justamente por isso ser seu maior trunfo. E também sua sorte, já que se não fosse isso seria muito difícil aguentar uma sequência tão básica.

O pico do trabalho chega com “Man”. E soa até um pouco incoerente elogiar uma música parecida com as faixas anteriores, mas nessa temos um acerto, já que é também uma das poucas faixas acima da média. É fácil imaginar que toda a sonoridade pode ter sido construída ao redor dela, já que a maioria soa como sobras de melodias e instrumentais daqui. Mas essa é despretensiosa, o que torna a música bem gostosa de ouvir.

Acertar com escolha de singles não significa que o resultado final do ‘good to know’ seja bom o bastante.

O ponto mais fraco de tudo são as letras, que parecem escritas pela JoJo de ‘Leave (Get Out)’. Apesar do bonito violão de fundo, “Small Things” não se sustenta e o álbum volta a causar cochilos involuntários. O looping do instrumental na música acaba se voltando contra si e deixa a experiência parecendo uma sessão de tortura onde um metrônomo apita na cabeça por mais de 3 minutos.

A decisão sobre quais canções teriam vídeos e fossem singles promocionais foi acertada. “Lonely Hearts”, é assim como ‘Man’, um ponto alto. A música remete muito a seus trabalhos antigos, e tem a dose certa de R&B, o estilo que sempre foi o que mais combinou com sua voz. Além disso o clipe feito no modo quarentena saiu como um trabalho lindo, mostrando o quanto feliz a artista parece estar.

Depois de um espasmo de vida é hora do projeto voltar a seu habitat natural, “Think About You” é uma balada básica sobre o tema central do álbum, amores. Falar sobre o quanto ela se sente enquanto transa com um homem e depois sobre uma possível sensação de vazio emocional é definitivamente o centro das composições. Não que isso seja um problema, até porque o foco é ser bem pessoal, e relacionamentos fazem parte disso… Mas nada se destaca na canção. Diferente de “Comeback”, que apresenta participações de Tory Lanez e 30 Roc. O feat. ajuda muito em cortar o ritmo estático e trazer algo diferente, mesmo que a música também siga o ritmo das anteriores.

Finalizar com “Don’t Talk Me Down” foi outra (das poucas) escolhas que deram certo. A balada é bonita e soa como um fechamento sobre os sentimentos cantados aqui. Pra quem acompanha JoJo, também é fácil de entender que faltava uma faixa assim no projeto, algo que a cantora adora fazer, e sempre se sai muito bem. O clima também lembra a nostalgia das baladas do seu segundo disco, ‘The High Road’.

Entre espasmos de (poucos) bons momentos, o aguardado 4º álbum se torna uma prova de resistência para o ouvinte.

Aqui temos aquele tipo de cantora que ninguém odeia, não existe razão para isso. Ou talvez, tantos anos de polêmicas com gravadoras ajudaram o público a simpatizar com a moça mais pela sua resiliência do que pelos seus trabalhos. Independente do motivo é inegável não reconhecer seu talento, o que pode causar uma frustração tanto para ela quanto para seus fans. Como uma pessoa tão talentosa pode passar com tanta indiferença pelo grande público?. A resposta disso pode ser o fato de seus últimos trabalhos serem tão apáticos. JoJo não cai na onda de lançar músicas do momento, e não tenta desesperadamente ser uma ditadora de tendências, ela tem personalidade o bastante para seguir sua própria vibe. O problema é que sua sonoridade não engata, soa básica e comum demais para alguém com tantos anos de carreira na música.

Em ‘good to know’ fica muito difícil mudar essa visão, o álbum possui 9 músicas mas parece ter 90. É arrastado, tedioso e pobre em composições. O número de produtores é grande, e mesmo assim parece que todos tiveram que seguir o mesmo caminho para desenvolver suas criações. O projeto não chega a ser péssimo se pensarmos de forma empática sobre tudo que JoJo passou até chegar aqui, mas é triste ter que achar caminhos para tentar justificar e entender como um disco não se sustenta sozinho. Para não dizer que sua discografia é composta de erros, fica a recomendação das mixtapes ‘Can’t Take That Away From Me’ e ‘Agápē’, lançadas em 2010 e 2012 respectivamente. Já que aqui, o resultado fora da cabeça da artista não é nada agradável.

Nota do autor:
53/100

Ouça “good to know” da JoJo:
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