Crítica | Greta Van Fleet, “The Battle at Garden’s Gate”

Greta Van Fleet agrada ouvintes com álbum sóbrio e coeso, porém não se desvencilha da sombra de “banda cover de Led Zeppelin”.
the battle at garden's gate

O termo “rock clássico” foi criado para caracterizar as bandas do gênero, surgidas entre o início da década de 1960 e no fim dos anos 1970, consideradas inovadoras. Uma das maiores representantes do rock clássico foi a banda Led Zeppelin, liderada pelo exímio vocalista Robert Plant, que atiçou roquistas com seu timbre rouco. Muitos anos mais tarde, em 2015, surge a banda Greta Van Fleet, cujo vocalista, Josh Kiszka, apresenta vocais remetentes aos de Plant. A sonoridade dita semelhante ao maior representante do rock clássico permitiu que o Greta Van Fleet, formado por quatro adolescentes, conquistasse os ouvidos de fãs mais velhos. Seria, portanto, a jovem banda uma exemplar do rock clássico? A resposta é não – não somente pela data em que surgiu, quase cinco décadas após o nascimento do Led Zeppelin, mas também por sua pouca inventividade.

A semelhança entre os dois grupos, no entanto, não tira o brilho da banda formada pelos irmãos Kiszka (Josh, Jake e Sam) e por seu vizinho Danny. Por mais que não seja pioneira em sua sonância, Greta Van Fleet consegue entregar álbuns concisos, consistentes e sedutores, sempre envoltos em uma aura fantasmagórica de amor, paz e união. A banda, inclusive, ganhou o Grammy de “Melhor Álbum de Rock em 2018 por seu EP de estreia, “From The Fires”, além de concorrer nas categorias de “Artista Revelação” e “Melhor Performance de Rock” com a canção “Highway Tune” no mesmo ano.

O último lançamento do grupo, o álbum “The Battle at Garden’s Gate”, aproxima o grupo da sombra da qual sempre fugiu: a de banda cover de Led Zeppelin. Todo o caminho trilhado pelos dois discos anteriores do Greta Van Fleet, por mais que trouxesse à memória o legado da banda supracitada, buscava distanciar o trabalho autoral dos irmãos Kiszka e de seu amigo de infância do maior representante do rock clássico.

Esse objetivo foi perfeitamente atingido no segundo álbum do grupo, “Anthem Of The Peaceful Army” – entretanto, por mais que “The Battle at Garden’s Gate” seja um trabalho magnético e caprichado, é impossível não perceber semelhanças entre as duas bandas de rock. As canções “Broken Bells” e “Tears Of Rain” são exemplares dessa suposta paridade. Esta última faixa foi inspirada nas favelas brasileiras. Josh conta que, em uma das visitas da banda ao Brasil, em 2019, passou próximo a uma favela no Rio de Janeiro, e essa experiência o marcou profundamente.

“Eu nunca vi uma coisa assim. Foi muito diferente para mim. E aí você vê outros lugares e percebe que isso faz parte do mundo, de onde a gente vive. A gente não cresceu com essa pobreza, então você processa e pensa: ‘qual é meu papel?’ Isso se traduz de um jeito natural. Você cresce espiritualmente, se interessa por ideais filosóficos e isso se traduz na arte. Essa foi a experiência.”

Josh Kiszka, vocalista do Greta Van Fleet, sobre a inspiração da composição da faixa “Tears of Rain”.

Mesmo se aproximando da sonoridade Led Zeppeliana, as faixas “Built By Nations” e “Age of Machine” vão na contramão dessa compatibilidade, de forma que são extremamente renovadoras – tanto para o próprio Greta Van Fleet, quanto para aqueles que, assim como Gene Simmons, acreditam que o rock está morto, ou então que não tem um futuro visível.

Greta Van Fleet mostra com “The Battle at Garden’s Gate” que, por mais que vacile com sua aproximação aos vocais de Robert Plant, é uma banda com sangue jovem e motivado, capaz de entregar sons cada vez mais sóbrios e, como é da natureza da banda, espectrais. Greta Van Fleet falha ao entregar um disco aos fãs, cansados de comparações pouco fundamentadas, porém não desanima aqueles que acreditam no potencial da banda que, ao longo de seus cinco anos de atividade, não precisa mais ser reforçado.

Nota da autora: 80/100

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