Grupo afro-baiano Aguidavi do Jêje lança primeiro disco pela Rocinante

Com participação de Gilberto Gil, o álbum homônimo do grupo conta com sete faixas autorais gravadas ao vivo no Terreiro de Bogum, em Salvador.

O grupo Aguidavi do Jêje conta com 14 talentos da música baiana. A maioria a aprendeu a tocar, ainda criança, com o Luizinho: Kainã do Jêje (filho de mestre) percussionista de Caetano Veloso, Orkestra Rumpilezz e Ivete Sangalo; Tiago Nunes, que toca com a Orkestra Rumpilezz e Bel Marques; Ícaro Sá, da Orkestra Rumpilezz e BaianaSystem; Raysson Lima, que toca com Carlinhos Brown e Ivete Sangalo; Lucas Maciel, da Orkestra Rumpilezz e Baco Exu; Nem Cardoso, que participou da Timbalada e integra a Orquestra Afrosinfônica; Alan Teles, Danilo Jesus, Danilo T’challa; Enzo Xablinha; Gabriel Santana; Jadson Xabla; Jeferson Chagas; Kaique Mello; Lídio Alves; Negokiri e Paulinho Music.

É o som sagrado do atabaque que convoca os Voduns. O som conduzido com rigor e imerso em ancestralidade é registro de herança e de tradição. É assim que as boas energias saúdam a chegada do disco de estreia do grupo Aguidavi do Jêje, no dia 30 de novembro, pela gravadora carioca Rocinante.

Em sete faixas, a bolacha leva o nome do grupo liderado por Luizinho do Jêje, músico nascido e criado no Bogum. Considerado um gênio dos atabaques, Luizinho já foi percussionista do Quinteto Letieres Leite, Olodum, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Margareth Menezes, Gilsons, Daniela Mercury, Mateus Aleluia, Virgínia Rodrigues e Orkestra Rumpilezz.

Antes de percorrer o disco em si, precisamos honrar as referências: Aguidavi é o nome dado à vareta retirada do pé de Araçá e que toca os três atabaques do candomblé cultuado no jêje-mahim. E Jêje é como os africanos que vieram do reino do Daomé, atual Benim, eram chamados. Os ogans são aqueles preparados para tocar os atabaques sagrados — rum, rumpi e o lé — durante as cerimônias.

O álbum foi gravado ao vivo no Terreiro do Bogum, no coração do bairro Engenho Velho da Federação, em Salvador. O Terreiro é uma das mais antigas casas de candomblé do Brasil e protege, até hoje, a tradição e subjetividade do Jêje. Da tradição oral, conta-se que os integrantes do Bogum apoiaram e deram abrigo aos rebeldes da Revolta dos Malês, em 1835, a maior revolta urbana de escravizados que ocorreu no país.

O disco tem a participação do grande Gilberto Gil na faixa Violão de Cabaça, escolhida como single de estreia. “Luizinho do Jêje”, um dos ogãs mais importantes dessa nova geração na Bahia. Fez um disco agora, me chamou pra participar, eu fui com muito prazer. Enfim… Luizinho do Jêje, grande figura!”, comenta Gilberto Gil.

A música inicia com berimbaus em composição arrojada que desembocam numa virada de atabaques característica do grupo, convocando o violão único de Luizinho: daí Gil deita e rola como o grande improvisador que é e a canção segue com alegria, dança e fúria. “Ter Gilberto Gil nos fortalece, traz ainda mais força para o Aguidavi. É uma alegria imensa”, comemora Luizinho.

Além da participação de Gil no disco, o samba “Salve os caboclos” recebe o brilhante violão de Carlinhos Sete Cordas, com sua maneira singular de tocar violão que faz uma síntese do universo percussivo baiano — algo próprio de quem foi criado no terreiro — e não tem paralelo porque ele traz ritmos sacros da tradição Jêje para sua veia autoral. Seu violão norteia todos os elementos da orquestra de tambores, além das melodias cantadas.

Apesar de ser intrinsecamente ligado ao Bogum, a estreia do Aguidavi do Jêje é uma celebração da cultura e da música popular afro-brasileira. “Esse é um disco de festa, que vai fazer muita gente dançar. As canções trazem a música de raiz mas de forma original. As letras são fortes, os ritmos são fortes, a energia é forte!”, anuncia Luizinho. “Não são músicas da religião, mas, não podemos deixar a lembrança do Jêje, a referência da festa do candomblé, a Festa do Vodum”.

As composições unem a inventividade da música brasileira com o culto à ancestralidade, lotadas de referências, história, talento e espiritualidade. Se auto referenciam ao próprio caminho de cada ogan, que mais do que o responsável por chamar o Vodum, preservam a tradição oral e a musicalidade dos tambores no terreiro e no mundo saudando ancestrais, pretos-velhos, juremeiros, orixás, voduns e sambadeiras. Neste disco, Aguidavi do Jêje canta o Brasil africano combinando atabaques, agogôs, pandeiros, caxixis, berimbaus e outros instrumentos construídos pelos próprios integrantes do grupo, com violão, pedais de efeitos e bateria eletrônica ritmados com rigor e a precisão que a tradição musical de origem africana demanda

“As músicas são todas nossas composições, com nossos arranjos, nossos ritmos. A gente procura sempre fazer o diferente, na levada do violão, no toque do berimbau, no toque do pandeiro, no toque do caxixi, no toque do agogô. Vamos ‘chegar chegando’, com tudo original, sem copiar ninguém, criado dentro do Terreiro do Jêje”, explica o fundador do grupo.

O disco conta com direção artística e produção musical de Luizinho do Jêje, Tiago Nunes, Kainã do Jêje e Sylvio Fraga. A direção musical e arranjos são de Luizinho, Tiago, Kainã e Lucas Maciel. As gravações foram feitas por Pepe Monnerat, Edu Costa e Bráulio Passos no Terreiro e complementadas no Estúdio Rocinante.

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