Seja em cidades pequenas ou grandes distritos, uma cena musical local sempre pode se beneficiar da forma como artistas e bandas utilizam o ambiente para contar suas histórias e construir narrativas. Ir além dos problemas de determinados lugares e abordar como a vida de quem transita entre eles pode ser afetada são temas recorrentes, principalmente no rock. Filtrando o gênero de forma mais específica, o punk rock sempre soube retratar muito bem como juventude, política e direcionamento na vida são tópicos essenciais. Gurriers, banda formada em Dublin, na Irlanda, faz questão de explorar esses questionamentos não apenas em relação a uma cidade, mas também a toda uma cena nacional.
A banda, cuja trajetória se assemelha à de outros artistas que aproveitaram o período pós-pandemia como um momento decisivo para profissionalizar sua carreira musical, faz questão de abrir feridas e gritar, por meio de suas letras, sobre questões cruciais. E esse posicionamento torna o barulho que o quinteto constrói sua melhor arma. Com uma visão clara do que queria para sua música, a banda foi, aos poucos, lapidando o objetivo de um registro oficial. E foi em 2024, com o álbum Come And See, que o Gurriers mostrou que a espera havia valido a pena, entregando um trabalho que poderia facilmente figurar em listas de melhores álbuns de estreia do gênero no ano passado.
Mesmo com a energia do pós-punk permeando as onze faixas, é correto dizer que a banda não recorre a esse estilo de forma clichê. As escolhas sonoras são pautadas em versos agressivos e em uma performance avassaladora dos integrantes, mas essa voracidade é tão essencial quanto os momentos mais sutis, especialmente aqueles que remetem a sonoridades de décadas passadas. Embora o título do projeto possa fazer muitos pensarem no clássico filme de 1985, é certo dizer que o nome escolhido também se encaixa perfeitamente na mensagem que a banda deseja transmitir.
Para alguns ouvidos, a música do Gurriers pode soar como uma mensagem exagerada, mas compreender e também admirar esse excesso que a banda adiciona às suas faixas torna o resultado final ainda mais marcante. Embora seu primeiro álbum seja uma excelente introdução ao potencial do grupo, vale a pena ir além das metáforas e dos diferentes pontos de vista, mergulhando de fato nos temas abordados.
A faixa-título, assim como “Close Call”, “No More Photos” e “Top of The Bill”, são as melhores portas de entrada para quem deseja se envolver na atmosfera barulhenta do quinteto. As guitarras e a percussão estão longe de caminhar lado a lado — na verdade, a sensação é de que há uma batalha constante entre elas. No entanto, esse embate instrumental acaba se transformando em uma dança sonora que assusta, conquista e convida qualquer um a se sentir parte do movimento criado pela banda.