Kacey Musgraves transforma saudade em celebração em sua primeira vez no Brasil

Entre hits, improvisos e tantas trocas, Kacey finalmente fez do palco seu lar brasileiro.

Domingo, 28 de setembro, entrou para a lista de noites inesquecíveis na cena musical paulistana. Kacey Musgraves finalmente desembarcou na capital e entregou exatamente o que prometia: um show para abraçar o coração. Foram cerca de 5 mil fãs na Áudio, transformando o espaço em um grande encontro de gente que esperou anos por esse momento e que saiu de lá com a sensação de ter vivido algo bonito demais.

É quase estranho pensar que a passagem dela pelo Lollapalooza Brasil 2020 nunca aconteceu por conta da pandemia. Essa lacuna ficou aberta por muito tempo — até este final de semana. No dia anterior, em Jaguariúna, a cantora já havia mostrado a que veio, mas foi em São Paulo que a mágica se completou. Ali sim foi a estreia que o Brasil merecia. “Eu não estava esperando essa recepção, definitivamente estamos com outra vibe hoje”, relatou Kacey animada entre uma música e outra logo no início da noite. Apesar da passagem por um festival que acontece em um rodeio, o público da artista é específico e a vibe foi de 8 a 80 entre as duas noites.

Desde os primeiros acordes, ficou claro: a saudade tinha virado sintonia. “Slow Burn”, “Butterflies”, “Rainbow” e “Golden Hour” ganharam coros tão altos que, por vezes, pareciam disputar o protagonismo com o microfone de Musgraves. E teve mimo exclusivo — quando o público pediu “Cherry Blossom” (muitas e muitas vezes), ela não só ouviu como atendeu, com um sorriso que dizia muito sobre o carinho que estava sendo trocado ali. “Não preparamos essa canção para hoje, mas vamos ver como será, um acústico talvez?” explicou depois de entender qual música o público gritava. Em uma rápida reunião em cima do palco, Kacey e sua banda ajustaram uma breve palhinha acústica de “Cherry” e com certeza ganhou a todos pelo esforço e carinho.

O que mais chama atenção aqui não são grandes adereços ou um espaço enorme, mas sim o equilíbrio perfeito entre espetáculo e afeto. Kacey domina o palco com uma tranquilidade desconcertante: vocais limpos, arranjos que não exageram em nada e deixam cada sentimento respirar. Sutileza como arma principal. Ela conversa com a gente, olha nos olhos, faz piada — e a gente sente que é verdadeiro.

No meio do show, ao notar a plateia, percebi que ninguém ali estava apenas assistindo. Todos estávamos participando dessa estreia atrasada, porém muito bem-vinda. Kacey se emocionou, nós nos emocionamos. E é nessa troca que os shows realmente se tornam memoráveis, afinal.

E se no palco ela já tinha o público na palma da mão, nos intervalos entre blocos a conexão ficava ainda mais divertida. Kacey Musgraves claramente entendeu o humor brasileiro. Quando um coro espontâneo de “gays, gays, gays” começou a ecoar pela casa — aquele clássico grito de celebração que virou quase um patrimônio cultural — ela entrou na brincadeira com naturalidade, como se já fosse uma de nós há tempos. Só que ela foi além. Soltou um “héteros, héteros, héteros” para equilibrar a piada… e a plateia vaiou com gosto. Sem perder o charme, ela respondeu de forma tão rápida quanto afiada: “Ei, não esquecemos de ninguém!”. Aí veio o combo perfeito: “Bi (sexual), bi, bi” e “Trans, trans, trans”, fazendo todo mundo repetir em coro.

Foram segundos de pura espontaneidade, mas dá pra dizer que ali estava a síntese do que fez essa noite ser tão especial: uma artista que sabe ouvir, sabe brincar, sabe incluir — e que se sente confortável o suficiente para fazer isso com leveza. Não é só música. É encontro. É afeto. É comunidade. E foi lindo demais de ver.Nós perdemos sua vinda em 2020, mas ganhamos em 2025. Tivemos grandes hits, tivemos encore (algo que a artista nunca faz em seus shows), tivemos acústico improvisado, “Slow Burn” e uma artista que estava imersa e feliz de estar aqui. Se tem algo que entendi, foi: quando o encontro é esperado demais, sempre existe o risco da frustração. Mas com Kacey Musgraves, o efeito foi exatamente o contrário. A espera só fez o espetáculo soar ainda mais íntimo.

Setlist Kacey Musgraves @ Audio — Brasil 2025

  • Cardinal
  • justified
  • Butterflies
  • Too Good to Be True
  • Sway
  • good wife
  • Golden Hour
  • Happy & Sad
  • Lonely Weekend
  • Lonely Millionaire
  • Giver / Taker
  • Follow Your Arrow
  • cherry blossom (Fan request – First time since 2022)
  • Fine (Fan request – First time since 2018)
  • It Is What It Is
  • Merry Go ‘Round
  • Jade Green
  • Slow Burn
  • Space Cowboy
  • Neon Moon (Brooks & Dunn cover)
  • simple times
  • High Horse
  • Rainbow
  • Deeper Well

Encore:

  • breadwinner
  • Love Is a Wild Thing

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