Crítica | Foo Fighters, “Medicine At Midnight”

“Medicine At Midnight”, décimo disco do Foo Fighters, mostra por que a banda está em atividade (e faz sucesso) há 25 anos.

“Medicine At Midnight”  é o décimo álbum da banda Foo Fighters – e talvez um dos mais bonitos do grupo estadunidense. Gravadas em uma casa mal assombrada na Califórnia, as doze faixas do disco fogem da sonoridade construída ao longo dos anos, mas acertam em cheio no que o mundo precisa ouvir no contexto atual. “Waiting on a War”, a quarta faixa do álbum, deixa isso ainda mais claro com a iminência inesperada de conflitos em todo o planeta. O forte de “Medicine At Midnight”, sobretudo, são as letras esperançosas e repletas de amor pela vida. Se esse teor já era perceptível nos trabalhos anteriores do Foo Fighters, agora ele é óbvio.

A produção de Greg Kurstin colabora para a sonoridade quase dançante das composições, que transitam entre o pop e o rock como se fossem uma lâmpada de lava: os dois gêneros estão presentes, porém a demarcação de quando cada um deles é protagonista não é definida. Esse teor coloca a banda em cheque: enquanto o Foo Fighters é reconhecido como um grupo responsável por manter a reinvenção do rock em movimento (principalmente depois do lançamento do álbum “Wasting Light”, em 2011), “Medicine At Midnight”, por mais que seja um representante do estilo musical, falha nesse ponto. Os ouvintes que esperam mais do mesmo da banda – ou seja: a herança do grunge com um quê do hardcore – não devem manter suas expectativas altas.

A escolha dos singles divulgados (“Shame Shame”, “No Son Of Mine” e “Waiting on a War”) foi instigante, o que atiçou a curiosidade dos fãs para o que estaria por vir. Há surpresa – seja positiva ou negativamente. Na verdade, “Medicine At Midnight” evoca esse sobressalto: no cenário atual, devemos estar abertos a novas experimentações e descobertas. Tudo o que foi construído ao longo das décadas merece uma revisão ideológica, e isso também vale para o Foo Fighters, que completou vinte e cinco anos de atividade em 2020. A consolidação permitiu que a banda realizasse testes – e o resultado, entregue ao mundo dois anos depois, é conciso, alegre e cativante.

Dave Grohl, o “líder” da banda, afirmou em uma entrevista que uma das motivações que o levou a terminar o álbum foi a pequena musicista Nandi Bushell. Bushell é uma grande fã de Grohl, principalmente pelo fato de o frontman do Foo Fighters ser, assim como a própria Nandi, originalmente baterista. Após gravar um cover de “Everlong”, hit da banda, Dave respondeu Bushell à altura do homem simpático que é, e convidou a garota – de apenas nove anos, na época – para um drum-off: isto é, uma batalha de baterias. Esse desafio fez com que Grohl percebesse que sua banda poderia, assim como a garota, continuar a dispersar alegria pelo mundo com suas canções. O ânimo é, definitivamente, notável em todo o álbum. Se o mundo está contente com o lançamento de mais um álbum do Foo Fighters, é à Nandi Bushell que ele deve agradecer.

Não há muito o que dizer sobre o disco: toda a sua precisão (nos dois possíveis significados desta palavra) é clara, e qualquer outra adição aqui feita estaria abrindo portas para a repetição de tudo o que já foi dito neste artigo. Sendo assim, quem deve falar – e, sobretudo, ser verdadeiramente escutado – é “Medicine At Midnight”.

Nota da autora: 88/100

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