Qual o melhor lugar para marcar o fim se não o lugar onde mais se fez história? Qual o melhor momento para dar adeus e inventar novas formas de estar presente, se não no berço de seu trabalho? Essas podem ter sido perguntas importantes para a equipe de Milton Nascimento no momento de organizar sua turnê de despedida dos palcos: A Última Sessão de Música.
A ideia de sair dos palcos dando a chance de uma despedida é, no mínimo, louvável. Aos 80 anos, limitações físicas aparecem e fazer shows e turnês se torna uma tarefa mais complicada. Mas como não celebrar e louvar um legado como o de Milton Nascimento? Impossível. E foi assim que, após shows que rodaram o mundo em 2022, uma das maiores estrelas da música nacional chegou em Belo Horizonte para o último show de sua carreira.
55 mil pessoas no Mineirão aguardavam o artista. O estádio lotado, do chão ao topo das arquibancadas, vibrava e sorria em expectativa para ver o ícone. Os grandes banners estendidos ao lado do palco com a mensagem “Obrigado, Bituca”, e o telão que mostrava um abraço caloroso entre Gal e Milton já davam o tom da noite, que seria de muita emoção.
Após um breve show de abertura de Zé Ibarra — músico que inclusive acompanha Milton ao longo dos shows desde 2019 —, o show principal se iniciava às 19h para a alegria dos presentes, que viveriam um deleite de memórias e sonhos pelas quase três horas que seguiram.
Com um Milton muito emocionado e ovacionado, logo após a primeira música foi decretado: “Esse show é dedicado para minha grande amiga, Gal Costa”. E ao longo de uma jornada por partes tão importantes para a cultura de Minas e do Brasil, o cantor nos lembrou o porquê de ser um dos maiores músicos do mundo.
O carisma, humildade e gentileza do artista estiveram presentes, bem como sua voz inconfundível e tão marcante. Participações especiais também fizeram parte da noite: com Samuel Rosa, amigo e membro da também marcante banda mineira Skank, e uma reunião emocionante do Clube da Esquina, com a participação de Beto Guedes, Lô Borges, Toninho Horta e Wagner Tiso.
O longo repertório de sucessos também surpreendeu: foram quase três horas de show, contando o “bis”, que durou mais de quarenta minutos e trouxe algumas das músicas mais clássicas do cantor.
Ao fim da noite, não havia um defeito sequer para ponderar da apresentação. Com oitenta anos de idade e sessenta de carreira, o sorriso dos presentes marcaram a alegria em se estar na presença de tamanho ícone. As quase três horas de apresentação trouxeram grande parte das músicas que marcaram histórias, romances, reflexões e lutas de diversas gerações — inclusive com o reforço de Milton na defesa da democracia, ao fim da canção “Coração de Estudante”.
Estar no show foi como estar em uma festa particular, nos fundos da casa do cantor, com amigos e a família (que também se fizeram presentes no palco ao fim da apresentação). A sensação de proximidade e intimidade vieram graças à humildade de Bituca, que pareceu tão honrado e contente em estar na nossa presença, como nós estávamos na dele.
A celebração cumpriu todos os requisitos, não apenas honrando o legado de uma das mais importantes peças culturais do Brasil, mas trazendo convidados que fizeram parte da história, fãs, canções emblemáticas e até fogos de artifício, que embora abrilhantaram a noite, não chegaram perto do brilho da principal estrela da noite — e uma das maiores do país: o grande, querido e talentoso Bituca, Milton Nascimento.