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Dua Lipa e a síndrome da salvação do pop

Dua Lipa é citada como uma grande salvação da música pop, mas o estilo popular realmente precisa de alguém para salvá-lo de tempos em tempos?

Quando a artista começou oficialmente em 2015 com o single Be The One, o agrado não foi uma surpresa, a música pop britânica sempre teve sua personalidade sonora e visual. O que ajudava muito na canção era a simples falta de pretensão… não revolucionava e não tinha uma letra ou melodia espetacular, era apenas uma ótima canção pop, de forma natural. 

O que sucedeu também obteve o mesmo efeito, justamente pelo mesmo objetivo ter sido alcançado. Last Dance, Hotter Than Hell e Blow Your Mind (Mwah) seguiram definindo Dua Lipa como aquela cantora pouco conhecida do grande público, presente nas playlists de ratos de música pop que adoram caçar lançamentos no limbo entre fora (até do underground) e do mainstream, e que sempre despertava atenção por causa da sua beleza. 

Padrão estético é uma recorrente definição na cultura da música pop, e a cantora (que tem uma grande ajuda da genética) sempre foi um exemplo de ‘cantora com cara de modelo’. Mas para não parecer que Dua é uma cabeça de vento vale ressaltar que o charme da sua voz sempre chamou atenção. Um mix de rouquidão com personalidade faziam muito bem em vender seu talento para além de seus atributos estéticos.

Então qual é a da pressão para que Dua seja a grande salvadora da música pop atual?

Desde que o primeiro single do seu novo álbum foi lançado ‘Don’t Start Now’, a aclamação na musicalidade da cantora está cada vez maior. Algo que passaria despercebido caso o público não estivesse tão carente de ter um nome tão potente no gênero. 

Aqui entra o primeiro grande fator, a aceitação de alguém para ser um grande nome. Sempre em algum tempo da carreira de uma cantora pop existe aquele pico de aceitação, aquele momento em que após lançar um novo trabalho tal qualidade seja tão apreciada que a maioria por um momento define que: ela é boa. Hoje em dia esse consenso é tímido, basta um lançamento que cause bom falatório para já termos essa definição.

Outro motivo que faz os fans terem uma expectativa tão grande é o fator conceito. A palavra, que antes era definição garantida de um trabalho executado com excelência hoje já se tornou banal. A confusão entre a definição de conceito pode partir do seu próprio significado; que pode indicar sobre a concepção de algo, ideia ou sua originalidade. No caso das justificativas, para validez basta adaptar algum significado da palavra para indicar que o artista fez algo de forma bem feita.

Um comentário proeminente usado em defesa ou valorização da ‘nova’ Dua Lipa são as pré-comparações com ‘Confessions on a Dance Floor’, de Madonna. Para aqueles com mais de 20 e poucos anos isso pode ser um grande chamariz, visto que o álbum de 2005 é um exemplo de homenagem à música disco. Mas até que ponto é válido utilizar um trabalho feito com tanta maestria para criar expectativas para outro? Parece ser impossível exaltar algo sem utilizar referências, não que elas sejam um problema, mas… soa perigoso basear uma expectativa em algo já lançado 15 anos atrás.

Tudo isso faz com que a ansiedade pelo ‘Future Nostalgia’ o coloque como um dos álbuns mais aguardados de 2020. E Dua Lipa se torna um dos atos pop mais acompanhados atualmente. Mas a música pop sendo cíclica, faz com que as chances de um novo alguém se tornar o novo ato salvador deste gênero apareça daqui a alguns anos. O que desperta a ironia do nome do álbum… Porque se for provado como um bom exemplo, será ele que ilustrará os próximos comentários dizendo ”na minha época que a música pop era boa”. assim se tornando seu título, a nostalgia do futuro.

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