Crítica | O Elevador, “Nada Para Num Instante”

“Nada Para Num Instante” marca o retorno d’O Elevador com seu terceiro álbum, e apresenta questões e conflitos extraídos dessa época atípica da humanidade.

É o balançar do ventar de uma só vida. É a cortina, meu sol, meu fim. É o inspirar, é a dança da vida. É o seu olhar, suas mãos em mim. É assim que O Elevador inicia seu terceiro álbum, “Nada Para Num Instante”, com a canção homônima. À primeira escuta, os controladores tiram um pesos dos ombros e fazem o corpo se alongar com as frequências das sete canções do álbum. O segundo play no álbum traz consigo o terceiro, o quarto e o quinto play. “Nada Para Num Instante” não é um álbum para ser escutado de uma vez só – múltiplas repetições é o suficiente para uma sessão exclusiva ao disco. O número reduzido de faixas faz com que essa experiência seja leve e fluida, de forma que o ouvinte não consegue perceber a repetição do álbum. A engrenagem gira sem gerar ruídos – efeito produzido pelo conjunto sonoro agradável e prazeroso.

Faz-se aqui uma recomendação importante sobre a escuta do álbum que é, na verdade, um dos projetos contemplados pela lei Aldir Blanc da Fundação Cultural de Itajaí: a experiência sonora é absurdamente diferente quando o álbum é degustado com fones de ouvido. É como se todo o disco fosse pensado para ser experienciado à essa maneira – quando os fones são colocados, o ouvinte deixa de ouvir e passa a escutar.

O terceiro trabalho do grupo é lançado três anos após o último lançamento, “Fantasia” vir ao mundo em 2018. “Fantasia” e “Nada Para Num Instante” são semelhantes não apenas pelo número de faixas em comum, pelas capas na mesma tonalidade ou pelas estratégias sonoras binaurais, mas também pelo som. Uma banda precisa estabelecer suas marcas – tanto visuais quanto musicais -, porém mudanças são bem-vindas. Apesar de o lançamento d’O Elevador ser eufônico, o terceiro disco da banda não se desprende de seus trabalhos anteriores, dando a sensação de que, na verdade, trata-se de um único álbum dividido em três partes. Essa percepção, no entanto, não rouba o brilho do disco mais recente que, mesmo sendo sonoramente semelhante aos projetos anteriores do grupo, foca em temáticas hodiernas e pontuais.

É claro que essa temática é a pandemia vigente– presente nos nossos dias há um ano, e em plurais trabalhos artísticos há alguns meses. Não falar da pandemia é não perceber o universo tangível e gritante ao nosso redor, e O Elevador distorce esses gritos em guitarras e baterias harmônicas e deleitosas. Em adição às letras e aos nomes das canções, “Nada Para Num Instante” é uma porta para um quarto arejado, ameno e claro, onde o tempo não para num instante. É um lugar de escuta silencioso, apesar de imerso em sons bem-soantes e tranquilos, que contempla a vida pacata e parada com esperas fleumáticas.

Nota da autora: 72/100

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