Qual o resultado musical de uma combinação entre DJ Malboro, Bell Hooks, Ana Suy, pop, R&B, charme e funk carioca?
Essas são apenas algumas das referências pesquisadas pela cantora carioca MARIANNA para a criação de seu novo EP visual “Não Posso Te Esperar”. Em cinco faixas densas, a cantora e compositora agrega pop, R&B, charme e funk harmonizados com letras ultracontemporâneas e progressistas sobre términos, romances, liberdade e autocuidado.
Em pouco mais de onze minutos, MARIANNA canta sobre aspectos de sua vida e de sua carreira – que, apesar de serem pessoais, são bastante universalizáveis para diversos recortes do seu público. Por exemplo, em “A Outra Eu”, ela aborda o amor próprio, e narra uma abordagem que certamente será reconhecida por muitos (ou melhor, muitas) que a ouvem.
Sobre a faixa, ela conta: “várias vezes me pego me tratando mal, me criticando, e penso que jamais trataria alguém assim. ‘Por que faço isso comigo?”.
Este EP é mais um marco da evolução da carreira da artista. Em 2022, MARIANNA foi foco das atenções com seus singles “Deixa Ir”, “A Culpa é Sua” e uma releitura de “Meu Vício é Você”, de Alcione. Mais recentemente, em 2023, a artista lançou também uma live, “MARIANNA Ao Vivo”, em que explora sua versatilidade ao mesclar trabalhos autorais com releituras de hits como “La Fama”, de Rosalía e The Weeknd, e “Idiota”, de Jão.
Mas a originalidade de MARIANNA vai muito além de suas escolhas musicais. A cantora, que se considera “a mudança em pessoa”, tem um interessante currículo que antecede sua entrada nos estúdios de gravação. Em 2016, ela fundou o canal “De Mudança”, no YouTube, em que fala sobre a vida adulta, independência, organização e planejamento financeiro – temas aparentemente distantes dos entoados pelos cantores de pop. Quando em atividade, o canal contou com mais de 100 mil inscritos.
Para desvendar este novo EP, MARIANNA conversou com o Escutai sobre processo criativo, carreira musical e a visão sobre seu presente e futuro.
MARIANNA fala sobre “Não Posso Te Esperar”
Seu novo EP, “Não Posso Te Esperar”, traz letras autobiográficas e autorreflexivas, que falam sobre sua percepção de si mesma, das suas relações, do amor romântico. Para quem (ou o que) é a mensagem “não posso te esperar”? O que essa mensagem significa?
“Não Posso Te Esperar veio muito num sentido de não ter tempo pra esperar a evolução da pessoa, especificamente com quem eu estava me relacionando na época. Eu sentia falta de maturidade pra ter um relacionamento, falta de cuidado comigo, e num dado momento entendi que era melhor ele se cuidar longe de mim kkkk No final, acabou virando um mantra pra me lembrar de ser proativa nas coisas que eu quero e não esperar por nada nem ninguém.”
Em suas músicas, você explora gêneros e elementos rítmicos variados. Além de trazer o R&B, funk e pop em “Não Posso Te Esperar”, você tem covers de Alcione, Rosalia, Jão. Como é o seu processo de pesquisa musical? Quais foram suas principais referências musicais para este EP?
“Eu queria que o EP fosse uma leitura da minha cabeça. A mistura de ritmos é porque eu realmente sou muito eclética e quero aproveitar esse início de carreira para explorar ritmos que eu gosto. Mas a pesquisa específica pro EP foi baseada na transição do charme para o funk carioca, que era também uma vertente do R&B. Queria trazer a energia do ritmo que me fez gostar de música e que era muito presente na minha infância, então DJ Malboro tocou demais nesse período hahahahha”
Você disse que o charme foi o ritmo que marcou sua infância, e trouxe elementos dos bailes charme e do funk carioca para o seu EP. O que te orgulha e te inspira mais nas suas raízes cariocas?
“Eu amo ser carioca, ter sotaque. Sou apaixonada pela cidade e grata por ter sido criada num lugar que oferece tantas vivências diferentes. Sou da Zona Norte e muitos artistas icônicos nasceram e foram criados lá, como Tim Maia, Jorge Ben. Nos meus sonhos, um dia vão falar que eu cresci lá também.”
Qual foi sua participação na concepção e produção dos visualizers de “Não Posso Te Esperar”? Como é o processo de criação dos outros elementos audiovisuais da sua obra, que vão além das canções em si?
“No processo de produção das músicas eu já começo a imaginar as imagens. Escrevi os roteiros e minha ideia é que cada um tivesse uma ideia central, rápida de pegar, e que definisse bem o sentimento que eu mesma tinha com as músicas. Eu escrevo os roteiros e vou apresentando, monto as referências de cores que imagino, figurino, cabelos, maquiagem. Quando a equipe vai se formando, novas ideias entram, as coisas vão ficando mais redondas. Vem a realidade também, de não ter dinheiro pra fazer tudo que quer hahahaha Eu costumo criar muito mais a noite, parece que vem uma enxurrada de ideias, e vou organizando elas por dia até ter certeza de que cheguei a um lugar que de fato me agrada.”
Antes de se lançar publicamente como cantora, você atuou em outras áreas, como no seu canal “De Mudança”, no YouTube, em que fala sobre a vida adulta, independência, organização e planejamento financeiro. Como foi essa transição de carreiras? Há alguma orientação que você passava no seu canal e aplica hoje na sua profissão como artista?
“Eu confesso que assisto os vídeos pra pegar dicas de organização hahahaha porque era uma época que eu estudava muito os temas pra fazer o canal, então são realmente dicas úteis. Eu definitivamente levei comigo esse senso de planejamento que eu passava no canal. A transição foi um pouco drástica rs pra minha cabeça não foi, mas a forma que comuniquei parece que foi uma ideia do nada mesmo. Estou até hoje nessa transição pra poder informar meu público da melhor forma.”
Você mencionou que “Tudo Sobre Amor”, da Bell Hooks, mudou a forma como você se relaciona com as pessoas. Que mudanças foram essas? Você tem outros livros ou conteúdos para recomendar aos leitores que também se identificam com essas mudanças?
“Eu consegui entender que não adianta eu falar que amo alguém se essa pessoa não se sente amada. Que o amor passa muito mais pelo respeito e pela escuta do que pelo sentimento apertado no peito. Amar é agir. Eu também li ‘A gente mira no amor e acerta na solidão’ da Ana Suy, amei demais e achei super complementar.”
A criação de conteúdo para redes sociais é uma função quase essencial para os artistas independentes hoje, e essa atividade pode ser bastante desafiadora. Você tem um background de YouTuber, com um canal com quase 100 mil inscritos. Como você encara essa necessidade de produzir para as redes sociais? Qual a sua relação com as redes? Acha que esse background traz alguma vantagem para você em sua carreira de cantora?
“Eu tenho uma relação ruim com as redes 🙁 Diria que é o ponto que mais tento melhorar, porque de fato é fundamental. Eu não gosto tanto de falar sobre minha vida, prefiro falar sobre tópicos. Também evito passar muito tempo online, às vezes nem sei onde meu celular foi parar. O background de YouTuber traz sim uma vantagem, o fato de eu já ter construído uma outra carreira do zero me ensinou demais. Mas também me cansou da vida da internet, de produzir só pra não sumir. Porém, o sistema venceu essa batalha hahahha então eu tô me organizando pra ser mais ativa nas redes sociais.”
Como você pretende trabalhar esse EP agora? Iremos vê-lo nos palcos em breve?
“Sim!!! 2024 meu foco é me apresentar em alguns estados com ele e com os singles que lançarei ao longo do ano. Em breve informações nas…. redes sociais kkk sempre elas.”
No seu Spotify (MARIANNA), você criou uma playlist (ótima, por sinal) chamada “Para Tomar um Vinho Branco”. E qual é o momento ideal para darmos play em “Não Posso Te Esperar”?
“A noite, sentadinha no sofá, com seu drink favorito na mão, e eu diria pra ouvir sozinha. Espero despertar a necessidade de te livrar de coisas que não cabem mais. Me esforcei pra isso hahahaha.”
Prepare seu drink favorito e confira o EP “Não Posso Te Esperar” em todas as plataformas de streaming.